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A Terra está girando ainda mais rápido, mas por que não sentimos?

Planeta Terra gira a 1.656 km/h no próprio eixo. Por que não percebemos? - Nastco/Getty Images/iStockphoto
Planeta Terra gira a 1.656 km/h no próprio eixo. Por que não percebemos? Imagem: Nastco/Getty Images/iStockphoto

Tiago Jokura

Do BOL

09/08/2022 13h39

Por que não sentimos os movimentos da Terra? - Pergunta de Nélio Girardi, de Sentinela do Sul (RS) - quer enviar uma pergunta também? Clique aqui.

Barbaridade, caro sentinelense, como somos insensíveis em relação aos rumos do planeta até neste sentido mais literal, tchê. E olha que estamos falando de uma esfera girando a 1.656 km/h ao redor do próprio eixo e se deslocando ao redor do Sol a uma velocidade próxima de 108 mil km/h.

E estamos acelerando: um novo estudo mostra que a Terra está girando 1,59 milissegundos mais rápido do que o habitual, gerando até dias mais curtos.

Um conhecido frequentador desta coluna, o físico Cláudio Furukawa, do Instituto de Física da USP, explica que realmente não sentimos os movimentos, mas, sim, as mudanças desses movimentos, desde que elas sejam significativas.

"Se estivermos dentro de um avião voando em regime de cruzeiro, se as janelas estiverem fechadas e não ouvirmos o barulho dos motores, não saberemos distinguir se estamos parados ou em movimento e nem para que lado estamos indo", diz.

Porém, se o avião mudar bruscamente o seu estado de movimento, poderemos sentir imediatamente. Se aparecer uma zona de turbulência e o avião descer bruscamente, sentiremos o corpo ser arremessado para cima —por isso, use o cinto de segurança.

"Na verdade, pela lei da inércia, todos os corpos tendem a permanecer em seu estado de movimento. O avião e tudo que estiver dentro dele tendem a continuar em regime de cruzeiro. Então, se a nave muda a sua trajetória repentinamente, tudo que está dentro dela continua com o seu movimento em linha reta, dando a impressão de que são arremessados para cima, pois sobem em relação ao avião. Até os nossos corpos, inclusive nossos órgãos, seguirão em linha reta enquanto a poltrona 'desce', nos dando aquela sensação de frio na barriga", descreve Furukawa.

"Da mesma forma, quando estamos em um carro fazendo uma curva fechada para a esquerda, sentimos que somos 'jogados para fora', forçados para o lado direito do veículo. Pela inércia, a tendência do nosso corpo é seguir em linha reta enquanto o carro muda de direção. Esta força de inércia para fora é chamada de centrífuga", continua o físico.

"Falando em ser 'jogado para fora' o fato de o planeta girar em torno de um eixo, chamado de movimento de rotação, causa uma força inercial centrífuga nos corpos sobre a sua superfície, da mesma forma que a água da roupa úmida é lançada para fora numa máquina de lavar quando está centrifugando. Essa força inercial centrífuga é máxima na linha do Equador e inexiste no eixo de rotação (polos). Porém, mesmo na linha do Equador, esta força é imperceptível aos nossos sentidos: ela vale apenas cerca de 3 milésimos da força exercida pela gravidade", afirma.

E Furukawa continua a aula: "imagine uma formiga sobre uma banqueta giratória. Se girarmos a banqueta muito rapidamente, provavelmente a formiga será lançada para fora. Mas, se girarmos a banqueta bem lentamente, por exemplo, uma volta completa a cada 24 horas, a formiga não perceberá o movimento de rotação, pois ele gera pouquíssima aceleração e, portanto, quase nenhuma força de inércia centrífuga. Por isso, mesmo existindo forças de inércia centrífuga, se elas forem geradas por acelerações muito pequenas, serão praticamente imperceptíveis".

Em relação à nossa insensibilidade ao movimento de translação, aquele que a Terra faz em torno do Sol, Furukawa explica que "as forças de inércia e as forças de atração gravitacional são irrelevantes em nossos corpos quando comparadas com a força gravitacional do planeta. Além disso, as forças de natureza gravitacional não são perceptíveis porque atuam em tudo que está à nossa volta e não apenas no nosso corpo".

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