Cientista política: foto de Bolsonaro no hospital "é apelação" contra queda nas pesquisas
O presidente Jair Bolsonaro segue internado em um hospital de São Paulo, sem previsão de alta, para tratar uma obstrução intestinal. A imagem do presidente sem camisa e com semblante desgastado sobre a cama, divulgada pelo próprio Bolsonaro em suas redes sociais, busca remobilizar a sua base, em meio à queda nas pesquisas de popularidade.
A análise é da cientista política Vera Chaia, professora da PUC de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política. "Essa foto estampada nos jornais e no Instagram é uma apelação. Acho que nenhum presidente, nenhuma autoridade se expôs tanto e mostrando não só fragilidade, como tentando atender aos apelos dos seus seguidores para aumentar a empatia em relação a ele, já que o presidente está enfrentando uma série de problemas", comenta a pesquisadora.
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Chaia lembra que a última pesquisa do DataFolha apontou que 57% da população brasileira considera o seu governo ruim e 54% já defende o impeachment. A professora ressalta ainda que o avanço da CPI da Covid no Senado expõe suspeitas de corrupção no governo durante a compra de vacinas e aumenta a rejeição ao líder.
Uso político da facada
A legenda da imagem divulgada no perfil oficial de Bolsonaro faz referência à facada que ele levou durante a campanha de 2018 e o texto acusa até o PT pelo atentado. "O uso político da facada foi muito bem trabalhado por ele e os filhos, de forma que ele se transforme num mártir, aproveitando-se também que o próprio nome dele é Jair Messias Bolsonaro", frisa a professora da PUC-SP.
A expectativa é de que, assim como a agressão ajudou a eleição de Bolsonaro em 2018, agora as sequelas do ataque, que o presidente enfrenta até hoje, também poderão reverter a sua perda de popularidade e desvantagem nas eleições em 2022. As sondagens antecipam que o ex-presidente Lula, do PT, poderá vencer até no primeiro turno.
"O quadro de obstrução intestinal provavelmente será resolvido, mas evoca a imagem de um mártir que tem que ser valorizado, orado. Toda a pregação religiosa em torno do Bolsonaro pode repercutir num movimento de seus apoiadores no sentido de promover grandes manifestações religiosas", observa a cientista política.
Não é a primeira vez que o país vive uma situação como essa. Eleito por voto indireto em 1985, Tancredo Neves não chegou a tomar posse - também teve um problema intestinal, diverticulite, que mobilizou orações pelo país, recorda Chaia.
Vácuo no poder
O vice-presidente, Hamilton Mourão, está em Angola em viagem oficial e não deve voltar antes de domingo (18). O próximo na linha do poder é o presidente da Câmara, Arthur Lira, que poderia assumir interinamente, mas é réu em dois processos, de modo que há uma incerteza sobre quem vai comandar a presidência nos próximos três dias.
"Em uma das sete ou oito vezes que ele já foi internado, Bolsonaro não gostou que o Hamilton Mourão assumisse a presidência. Eles abriram um gabinete no hospital Albert Einstein de onde ele governava, para não deixar o seu vice governar, pela falta de confiança", sublinha Chaia.
Para ouvir a entrevista completa, clique no podcast acima da foto