'Não houve fala anti-chinesa', 'Bolsonaro atacado': frases de Araújo na CPI
O ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo foi ouvido hoje na CPI da Covid no Senado. Ele é o terceiro ex-integrante do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a dar o testemunho à comissão, depois dos também ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, ambos da Saúde.
À comissão, Araújo afirmou que "jamais" promoveu "atrito com a China" e que as ações da pasta para a aquisição de vacinas foram feitas "em conjunto com o Ministério da Saúde". Ainda segundo o ex-chanceler, a viagem a Israel foi organizada a pedido do presidente Bolsonaro.
Sobre a gestão do governo federal na pandemia, Araújo afirmou que as iniciativas de Bolsonaro foram "sistematicamente atacadas por correntes políticas a ele opostas sem critérios técnicos".
Veja as frases de Ernesto Araújo:
Aquisição de vacinas
Antes de ser declarada a pandemia, ainda em janeiro de 2020, já instruímos vários postos nos exteriores, a pedido do Ministério da Saúde, para prospectar pesquisas sobre medicamentos e vacinas.
Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores
Sempre houve um trabalho conjunto com o Ministério da Saúde.
Ernesto Araújo na CPI da Covid
O Governo Federal não acredito que tenha definido um documento único de orientações para atuação internacional, as orientações surgiram em diferentes momentos, quase sempre as orientações que o Itamaraty recebeu vieram a partir do Ministério da Saúde, de acordo com o requisito do momento, se se tratasse de facilitar importação ou participar de trâmites para a importação de equipamentos, fosse apoio à negociação de vacinas, fossem outros elementos.
Ernesto Araújo na CPI da Covid
Então, não houve um alinhamento com os Estados Unidos, com qualquer outro país. Houve uma aproximação com os Estados Unidos a partir de um distanciamento que tinha havido anteriormente, mas, seja com os Estados Unidos, seja com qualquer país, o Brasil só entrou e só embarcou em iniciativas que fossem do interesse brasileiro e que correspondessem aos nossos objetivos de política externa. Jamais entramos em qualquer iniciativa apenas porque fosse uma iniciativa, nesse exemplo, de interesse americano.
Ernesto Araújo sobre relação com os EUA
Jamais recebi nenhuma pressão nesse sentido, nenhum contato nesse sentido de qualquer autoridade americana e não tenho conhecimento de nenhuma outra autoridade brasileira que tenha recebido esse tipo de pressão.
Ernesto Araújo sobre possível pressão dos EUA para o Brasil não adquirir a vacina russa Sputnik V
Ação do governo Bolsonaro
Não vejo nenhum país onde tenha surgido uma atmosfera de, digamos, politização como no Brasil, uma atmosfera onde praticamente qualquer iniciativa mencionada pelo Presidente da República foi sistematicamente atacada por correntes políticas a ele opostas antes de se ter dado sobre o mérito científico, técnico dessas iniciativas. Eu acho que em nenhum outro país há essa crítica tão violenta, que ignora aquilo que foi feito e ignora que aquilo que não foi feito não o foi pela circunstância de desafio da pandemia.
Ernesto Araújo, ex-chanceler do governo Bolsonaro
Relação com a China
Jamais promovi nenhum atrito com a China, seja antes ou durante a pandemia, de modo que os resultados que obtivemos na pandemia (...) eles decorrem de uma política externa implementada de acordo com nossos objetivos, que não era de alinhamento automático com os EUA.
Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores
Eu não entendo nenhuma declaração que eu tenha feito em nenhum momento como anti-chinesa. Houve determinados momentos, como se sabe, por notas oficiais, do Itamaraty, eu, por minha decisão, nos queixamos do comportamentos da embaixada ou do embaixador da China em Brasília, mas não houve nenhuma declaração que se possa chamar de anti-chinesa. Então não há nenhum impacto de algo que não existiu.
Ernesto Araújo na CPI da Covid
(...) eu destacaria justamente a China e a Índia como os países que mais têm cooperado, com os quais temos nos relacionado mais nesse contexto. A Índia, através da exportação de vacinas prontas. O Brasil foi o primeiro país que recebeu vacinas exportadas pela Índia. Recebemos dois lotes, depois havia perspectiva de mais lotes, que foram interrompidos quando a Índia interrompeu todas as suas exportações de vacinas. (..) mas, de toda forma, recebemos quantidade significativa.
Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores
Artigo sobre comunavírus não é ofensivo. (...) Quando eu uso o título "Comunavirus" - e a leitura do artigo deixa isso claro -, é uma referência não ao coronavírus, mas àquilo que um autor marxista, Slavoj Zizek, cujo texto eu analiso no meu artigo, qualificou como um vírus ideológico. Esse autor escreveu um pequeno livro dizendo que há o vírus, havia o vírus, o coronavírus, e ele tinha criado oportunidade para o surgimento de um vírus ideológico, que esse autor saúda, que é um vírus que cria as condições para implementação daquilo que ele mesmo considera ser uma sociedade comunista global. Então, eu usei esse termo jocoso, enfim, esse termo...
Ernesto Araújo
Minha responsabilidade como ministro entendo como nenhuma. Nada que eu tenha feito pode ser caracterizado por ter levado a qualuer percalço no recebimento de insumo.
Ernesto Araújo sobre sua eventual responsabilidade no atraso da vinda de insumos da China
Não me cabe comentar uma declaração do presidente.
Ernesto Araújo sobre fala de Bolsonaro a respeito do coronavirús ter sido fabricado em laboratório pela China
Pode, uma grande ofensa diplomática foi cometida pelo embaixador da China ao retuitar uma postagem que dizia que a família Bolsonaro era o veneno do Brasil. Me parece que é algo muito grave quando um embaixador que está comprometido com os princípios da convenção de Viena, da prática diplomática, retuita uma publicação que diz que o chefe de estado daquele país, que a família daquele chefe de estado, é o veneno do Brasil.
Ernesto Araújo
Viagem a Israel
A missão nasceu de um telefonema de Bolsonaro entre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, onde o primeiro ministro falou com muito entusiasmo de dois medicamentos com potencial de cura da covid que estavam sendo desenvolvidos por dois diferente institutos em Israel. A partir disso, o presidente pediu que eu liderasse a missão.
Ernesto Araújo
Os dois medicamentos que motivaram a formação da viagem são medicamentos que tiveram suas fases de testes iniciais muito promissoras e a questão do tratamento da covid tem sido considerada por autoridades em todo mundo tem sido as vacinas desde o início da pandemia. O Brasil procurou se antecipar na formação de cooperações para termos acesso também a medicamentos para o tratamento.
Ernesto Araújo
Uso da cloroquina
Naquele momento, em março, havia expectativa de eficácia da cloroquina para tratamento da covid não só no Brasil, em todos os lugares do mundo, houve corrida por insumos e houve baixa de estoque. Em função de pedido do Ministério da Saúde ajudamos a viabilizar importação de insumos para farmacêuticas brasileiras produzirem hidroxicloroquina, o que já estava contratado, mas a Índia - justamente como havia uma procura mundial, não se sabia se a cloroquina teria uma procura ainda maior - havia bloqueado exportações.
Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores
Em relação a testes em hospitais brasileiros que tenho conhecimentos, no hospital Prevent Sênior, em São Paulo. Na minha atribuição nunca recebi uma relação de testes realizados. Como eu disse, essa atuação para liberar exportação de uma determinada partida de cloroquina da Índia foi feita pelo Ministério da Saúde e devidamente justificado.
Ernesto Araújo ao responder sobre testes com cloroquina para tratar a covid-19
A missão nasceu de um telefonema de Bolsonaro entre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, onde o primeiro ministro falou com muito entusiasmo de dois medicamentos com potencial de cura da covid que estavam sendo desenvolvidos por dois diferente institutos em Israel. A partir disso, o presidente pediu que eu liderasse a missão.
Ernesto Araújo
Consórcio da Covax Facility
Jamais fui contra iniciativa da Covax. (...) Assim que o Covax tomou forma, após coordenação interna do Brasil, eu mesmo assinei uma carta para o gestor do Covax dizendo que o Brasil tinha interesse em entrar.
Ernesto Araújo
Essa decisão não foi minha, foi do Ministério da Saúde dentro da sua estratégia de vacinação.
Ernesto Araújo sobre a opção por 10% da cota de vacinas do consórcio e não 50%
Carta da Pfizer sem resposta
A carta, o telegrama, perdão, da Embaixada em Washington mencionava que já tinha sido dado conhecimento direto ao Ministério da Saúde, a quem, em nosso entendimento, cabia toda a centralização da estratégia de vacinações.
Ernesto Araújo, ex-chanceler
Não, isso nunca nos foi demandado, e o Itamaraty nessa área sempre agiu, como eu disse, a partir de coordenação com o Ministério da Saúde.
Ernesto Araújo, ao ser questionado se o Itamaraty realizou estudos sobre a proposta da Pfizer
Não comuniquei [ao presidente Bolsonaro] diretamente. A comunicação da embaixada em Washington, o telegrama, informava que a embaixada havia recebido uma cópia de uma carta dirigida ao presidente da República, ao vice-presidente, ao ministro chefe da Casa Civil, ao ministro da Economia e ao ministro da Saúde, se não me engano.
Ernesto Araújo na CPI da Covid
Falta de oxigênio no Aamazonas
Em relação ao oxigênio, aqui, mais uma vez, o Itamaraty não age de maneira autônoma em temas de saúde. O Itamaraty não tem condições de avaliar o momento e em que condições é necessário proceder a essa ou àquela ação em relação ao sistema de saúde, no caso o suprimento de oxigênio.
Ernesto Araújo, ex-chanceler
Aí eu recebi ligações do Ministro da Defesa e do Ministro da Saúde. O Ministro da Defesa dizendo que sim, havia aviões disponíveis no Brasil, e o Ministro da Saúde no mesmo sentido, de que só interessaria ao Brasil se o avião já viesse carregado de oxigênio. Então, nós imediatamente contatamos, com toda urgência, o Governo do Estado do Amazonas para que nos desse as especificações, então, do oxigênio, quer dizer, que tipo de cilindro, que tipo de... (...) Passaram-se dois, três dias, e não recebemos essas especificações.
Ernesto Araújo, ex-chanceler, sobre negociação para enviar oxigênio ao Amazonas
Em relação ao oxigênio vindo da Venezuela, assim que chegou a notícia de que havia essa disponibilidade de doação, eu determinei que se fizesse tudo que cabe ao Itamaraty, que são alguns procedimentos burocráticos, através da Agência Brasileira de Cooperação, para viabilizar o mais rápido possível essa doação, sem nenhum percalço político, de nenhuma maneira. (...) Então, fizemos plenamente o nosso papel, sem nenhum impedimento de natureza política.
Ernesto Araújo, ex-chanceler