O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem gerado irritação no governo e no Congresso com suas declarações em relação ao Orçamento de 2021. Membros do Centrão estão se referindo ao ministro, nos bastidores, como "Evergreen", nome da empresa proprietária do navio que encalhou no canal de Suez. "Esse impasse é o mesmo que travou o canal de Suez", disse uma fonte palaciana.
Em falas recentes ao mercado financeiro, o ministro falou que tem "faltado coordenação" e, sem dar nomes, disse que muitos estão se focando no barulho e se perdendo no conteúdo. "A pandemia deixou as pessoas nervosas, irritadas, impacientes. Estão divulgando e focando mais o barulho", afirmou na terça-feira em conversa com a XP.
As recentes declarações de Guedes, segundo fontes do Congresso, seriam uma forma de o ministro tentar se eximir da responsabilidade em relação ao Orçamento.
O relator do Orçamento, senador Márcio Bittar, foi um dos que demonstrou irritação e, ao Congresso em Foco, disse que a fala de Guedes é desleal. "Tudo foi combinado", reafirmou à coluna.
Outras fontes do Congresso afirmam que Guedes tem um modus operandi de "buscar culpados" independente do desgaste que isso gere e que costuma abandonar o barco quando se sente ameaçado.
A crise envolvendo o Orçamento chegou até a reeditar a briga antiga com o ministro do Desenvolvimento, Rogério Marinho. Isso porque membros da equipe econômica atribuem a Marinho parte da articulação que inflou as emendas parlamentares no Orçamento de 2021.
"Algumas extrapolações, excessos têm que ser resolvidos. Tenho certeza de que não foi de má-fé", disse Guedes à XP.
Aliados de Marinho, por sua vez, afirmam que o ministro estava de férias na semana de aprovação do Orçamento e que Guedes "não consegue cumprir seus acordos e depois coloca a culpa nos outros".
A avaliação de congressistas e de fontes do governo irritados com Guedes é de que o ministro participou ativamente da construção do Orçamento e que não seria correto agora criticar, sem apresentar solução.
Além de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o atual ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos e a nova ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, têm feito reuniões para tentar arrumar uma saída para que o Orçamento possa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Segundo fontes do governo, antes do parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o Orçamento, dificilmente será apresentada uma solução definitiva. O prazo para a sanção do Orçamento pelo presidente Jair Bolsonaro é dia 22 de abril.