Lula critica Bolsonaro e busca alianças para 2022
São Paulo, 10 Mar 2021 (AFP) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (10) a política "imbecil" do governo de Jair Bolsonaro contra o coronavírus e se apresentou como uma figura de conciliação em um país devastado pela pandemia e crise econômica.
Em sua primeira aparição pública desde que recuperou os direitos políticos por decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente (2003-2010) não informou se pretende se apresentar à disputa presidencial de 2022, mas se disse aberto a buscar alianças com todos os setores.
"Vou ser muito claro: eu seria pequeno se estivesse pensando em 2022 nesse instante", quando os mortos pela pandemia batem recordes, declarou o fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).
"O partido vai pensar, quando chegar o momento, se vai ter candidato ou vai ser candidato numa frente ampla. Mas acho que agora os partidos têm que colocar as lideranças para discutir a vacina, o salário", acrescentou.
O desastre da crise sanitária no Brasil, o segundo país em número de mortos pelo coronavírus atrás dos Estados Unidos, foi o principal tema de seu discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Nesta quarta, o Brasil superou pela primeira vez as duas mil mortes diárias pela covid-19, com 2.286 óbitos em 24 horas, totalizando 270.656.
"Quero fazer propaganda para que o povo brasileiro não siga nenhuma decisão imbecil do Presidente da República ou do Ministério da Saúde. Tome vacina, tome vacina porque essa é uma das coisas que pode livrar você da covid", afirmou Lula, anunciando que será vacinado na próxima semana.
O ex-presidente, de 75 anos, lamentou que "as mortes estão se naturalizando" no Brasil.
"Muitas delas poderiam ter sido evitadas, se a gente tivesse um governo que fizesse o elementar", considerou.
"A primeira coisa que deveria ter sido feita no ano passado era criar um comitê de crise" com a participação de cientistas, mas "tivemos um presidente que falava de cloroquina e que era uma gripezinha", continuou, referindo-se às declarações de Bolsonaro que minimizaram a pandemia e preconizaram o uso de medicamentos sem evidências de eficácia contra a doença.
"Este país não tem governo, não tem Ministro da Saúde, não tem Ministro da Economia" e "por isso está empobrecido", acusou Lula.
"É um país desgovernado", acrescentou.
A economia brasileira encolheu 4,1% no ano passado, uma queda amortecida pelo pagamento do auxílio emergencial a um terço da população, mas que em janeiro foi encerrado.
Bolsonaro não tardou a responder.
"Não faltou recurso. O governo federal fez a sua parte" no combate à doença, disse o presidente de extrema direita em entrevista à CNN Brasil.
"Lula começou sua campanha. E como não tem nada de bom para mostrar, e essa é uma regra do PT, a campanha deles é baseada em criticar, mentir e desinformar", acrescentou.
Ele se apresentou usando uma máscara, o que ele geralmente evita, e usando palavras mais moderadas do que o normal.
"Confiamos no nosso governo, confiamos no nosso Ministério da Saúde (...), porque a seriedade e a responsabilidade fazem parte do nosso governo", disse o presidente.
"O discurso de Lula abriu o calendário eleitoral", disse à AFP o analista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma.
"Quando Lula fala que não é radical (...), ele está sinalizando para o mercado", acrescentou.
A Bolsa de Valores de São Paulo, que havia caído quase 4% quando Lula recuperou seus direitos políticos, subiu na quarta-feira 1,3%.
- "Não tenham medo de mim" -Segundo pesquisas, Lula é o político com mais chances de impedir a reeleição de Bolsonaro, embora seu nome enfrente forte resistência em setores da classe média e em outros partidos de esquerda e centro-esquerda.
Lula não comentou se assumirá o papel de candidato, mas deixou claro que terá um papel de protagonista e que se dedicará a dissipar os receios.
"Não tenham medo de mim. Eu sou radical porque quero ir à raiz dos problemas neste país. Porque quero ajudar a construir um mundo justo, mais humano, em que trabalhar e pedir aumento de salário não seja crime. Em que a mulher não seja tripudiada por ser mulher. Um mundo em que a gente venha a abolir o maldito preconceito racial", proclamou, acrescentando que pretende "conversar com empresários".
Lula acrescentou que continuará lutando para ser totalmente inocentado das acusações de corrupção pelas em 2018 o levaram à prisão durante 18 meses.
"Fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história", declarou.
O ministro do STF, Edson Fachin, decidiu na segunda-feira anular as sentenças e todo o processo contra Lula no âmbito da Operação Lava Jato.
Porém, a decisão não significou sua absolvição, apenas indicou que o petista deve ser julgado pela Justiça Federal no Distrito Federal.
"A palavra desistir não existe no meu dicionário", afirmou Lula.
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