Mulher diz conviver com caroços na boca após ação de dentista investigada
Boca descentralizada, inchaço após aplicação de remédios e aparecimento de caroços foram algumas das deformidades que a personal trainer Camilla Carvalho, 35, precisou enfrentar após a realização de um preenchimento labial feito pela dentista Giselle Gomes, investigada pela Polícia Civil de Campos dos Goytacazes, cidade do Norte Fluminense.
A polícia abriu inquéritos contra a profissional após ao menos 18 pacientes relatarem deformidades depois de realizarem procedimentos estéticos com a dentista.
Segundo a delegada Nathalia Patrão, Gomes injetava PMMA — composto permanente e não absorvido pelo corpo humano —, no lugar de ácido hialurônico, uma substância temporária e bem mais cara utilizada em procedimentos para preenchimento estético.
Em entrevista ao UOL, Camilla contou que realizou algumas intervenções com a dentista em 2018. Um procedimento foi feito na boca e outro no nariz. Os dois acarretaram problemas à paciente. Até hoje, a personal faz acompanhamentos médicos para amenizar os impactos das intervenções realizadas há dois anos.
"A boca encaroçou. Ela dizia que ia diminuir e por várias vezes ela fez aplicação de remédio dizendo que ia reduzir os caroços, mas era uma dor insuportável, todas as vezes eu ficava deformada, até desinchar demorava. Eu saia do consultório de máscara. Ficava tão deformada que tinha vergonha de sair na rua", disse.
"Um dia comecei a tentar furar com uma agulha, hoje os médicos disseram que eu corria grande risco de perfurar o PMMA e acontecer algo bem pior. Na ponta do nariz, ela aplicou também PMMA e desde então ficou vermelha. Não parava de sangrar onde ela botou a seringa e ela dizia que era normal. Comecei a usar micropore [curativo] na ponta do nariz com maquiagem para disfarçar."
De acordo com a paciente, a dentista alegava que os problemas eram ocasionados pelo organismo da personal, que rejeitou a substância. Um dia, Camilla chegou a pedir à dentista que cortasse parte dos lábios na tentativa de se livrar dos caroços que tanto a incomodavam.
"Ela conseguiu tirar essa ideia da minha cabeça e passou a falar de novo no nariz. Fez uma nova aplicação, produto em cima de produto e daí meu nariz ficou tão vermelho ao ponto de sentir cheiro podre. Pedi para minha mãe cheirar e ela disse: 'seu nariz está podre, Camilla'".
Desde 2018, a personal precisou fazer intervenções médicas para amenizar os efeitos da injeção de PMMA. Uma biópsia realizada apontou que o produto injetado na boca não era ácido hialurônico e sim "plástico". O caso ainda é cirúrgico.
"Hoje ainda tenho caroços internos, mas eu fiz micropigmentação labial que disfarçou a coloração dos caroços que ficavam aparentes de frente. Hoje, parece normal, mas a parte interna ainda tem caroços que provocam incômodo. A deformidade que aparece hoje é em função da biópsia que tive que fazer, mas há ainda possibilidade de ficar deformada assim que fizer a remoção do produto. Isso mexe muito com a autoestima. Tive várias crises de ansiedade e depressão. A gente vai em busca de um sonho e volta com pesadelo."
O outro lado
A polícia disse que Giselle confirmou o uso de PMMA em alguns pacientes, mas contou que todas as clientes foram avisadas sobre a substância. O advogado da defesa, Eduardo Ferraz, informou que os todos os materiais utilizados são regularmente utilizados pela Anvisa e que a dentista tem autorização para trabalhar no segmento.
"Na qualidade de cirurgiã dentista ela tem autorização para trabalhar no segmento de harmonização facial. Todos os materiais utilizados nos respectivos tratamentos são regularmente utilizados pela Anvisa e ela sempre esteve à disposição das pacientes e das autoridades para discutir eventuais incongruências que tenham acontecido no curso da realização dos procedimentos", informou.