Brasil começa a sua campanha oficial de vacinação contra a covid-19
São Paulo, 19 Jan 2021 (AFP) - O Amazonas, fortemente atingido por uma segunda onda de contaminações pela covid-19, começou nesta segunda-feira (18) sua campanha de vacinação, parte do esforço nacional para conter a pandemia, que já causou a morte de mais de 210.000 pessoas no país.
O governo federal adiantou para esta segunda-feira a distribuição de seis milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac para os diferentes estados,pressionado por São Paulo, que iniciou no domingo a inoculação.
"Depois de ouvir os governadores, chegamos à decisão de que hoje ainda distribuiremos todas as vacinas aos estados, todas", afirmou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que previa inicialmente um lançamento simultâneo em todos os estados na quarta-feira, com uma das duas vacinas aprovadas para uso emergencial pela Anvisa.
O Amazonas, que vive um aumento de mortes por falta de oxigênio e a saturação dos hospitais, aplicou a primeira dose na enfermeira indígena Vanda Ortega Witoto.
O Rio de Janeiro, o estado com a maior taxa de mortalidade por coronavírus no país (151 por 100.000 habitantes), vacinou suas duas primeiras cidadãs -uma enfermeira e uma residente de uma casa de repouso - no Cristo Redentor ao fim da tarde.
Quatorze dos 26 estados mais o Distrito Federal iniciaram nesta segunda-feira suas campanhas de vacinação.
Mas o governador de São Paulo, João Doria - provável adversário do Bolsonaro nas eleições de 2022 - ganhou a foto que aparece na primeira página de todos os jornais junto com Mônica Calazans, uma enfermeira negra, que no domingo se tornou a primeira brasileira a ser vacinada.
Cem pessoas foram imunizadas naquele mesmo dia e o processo continuou nesta segunda-feira no Hospital de Clínicas da capital econômica do país, voltado para profissionais da saúde.
"Estou animada e gostaria que todos os brasileiros agora tivessem acesso a esta vacina", disse Katia Pereira, uma enfermeira de serviços infantis, à AFP após receber o imunizador.
A vacinação no Brasil, onde a pandemia já deixou mais de 210 mil mortos (um balanço superado apenas pelos Estados Unidos), começa várias semanas atrás dos países mais afetados, inclusive alguns da região como Argentina, México ou Chile.
- Bolsonaro: "A vacina é do Brasil" -Pazuello atacou a "jogada de marketing" de Doria, enquanto Bolsonaro ficou indignado: "A vacina é do Brasil e não de um governador", disse ele a apoiadores em Brasília.
Doria conseguiu ir em frente porque a Anvisa autorizou o uso emergencial de 6 milhões de doses da CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, no estado de São Paulo.
O Instituto Butantan pediu nesta segunda-feira a autorização para o uso de um segundo lote já disponível de 4,8 milhões de doses.
Também foi autorizado o uso de dois milhões de vacinas da britânica AstraZenevca/Oxford, em cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas que ainda não chegaram ao país.
Bolsonaro teve que se resignar a adotar um imunizante que ele chamou depreciativamente de "a vacina chinesa do Doria".
A resposta à pandemia tem sido objeto de polarização política desde o primeiro caso registrado no Brasil há onze meses, semeando confusão em um país conhecido por sua extensa rede de serviços públicos de saúde e um histórico de campanhas de vacinação bem-sucedidas.
Bolsonaro questionou a eficácia das vacinas e tem se mostrado sistematicamente contra as restrições promovidas pelos governadores para conter infecções, citando a necessidade de evitar um colapso econômico. Também costuma circular em público sem máscara e defende um suposto "tratamento precoce" contra o vírus, com medicamentos cuja eficácia não têm comprovação científica.
A decisão da Anvisa "é uma derrota para quem se proclamou contra a vacina (...), a começar pelo presidente [Bolsonaro], que falou mal da vacina promovida pelo Butantan, como se fosse uma disputa entre estados", disse à AFP o pesquisador Christovam Barcellos, da prestigiosa Fundação Fiocruz.
"Essa competição (...) é péssima, até porque pode provocar elevação dos preços" das vacinas, acrescentou Barcellos, que espera que a fabricação de imunizantes no Brasil comece rapidamente.
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