Terapia CAR-T redefinirá em breve mieloma múltiplo na América Latina
A diretora médica de Hematologia da Janssen América Latina e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, dra. Patrícia Andrade Brandalise, explicou que a região não dispõe atualmente de nenhum tratamento desse tipo e que seu projeto já possui dados clínicos suficientes para iniciar os trâmites regulatórios.
As terapias CAR-T, projetadas para o tratamento do mieloma múltiplo - um tipo de câncer de sangue -, utilizam uma técnica inovadora que consiste em extrair uma célula T do paciente, realizar uma modificação genética em laboratório e, posteriormente, devolver essas células modificadas ao corpo.
"O interessante é que essas células serão capazes de realizar uma expansão clonal", afirmou Brandalise em entrevista à Agência Efe.
"É algo muito novo, tanto pelo fato de ser a própria célula do paciente, como por fazer uma modificação celular e dar ao paciente a oportunidade de combater o câncer com suas próprias ferramentas", acrescentou.
Além disso, ao contrário de outros tratamentos contra o câncer, o processo é realizado "em uma única execução", seguido por um controle de possíveis efeitos colaterais, o que favorece "uma melhor qualidade de vida" para o paciente.
Atualmente, o mieloma múltiplo é um câncer de sangue incurável, produzido por um crescimento incontrolável de células plasmáticas malignas na medula óssea, e 160.000 novos casos são diagnosticados anualmente em todo o mundo.
Entre os diagnósticos, 63% ocorrem em idades acima de 65 anos, e 33% em idades entre 45 e 65 anos, com uma sobrevida média de 5 anos para 52,2% das pessoas afetadas, um número que é drasticamente reduzido para menos de 10 meses se os pacientes não responderem ao tratamento convencional.
Por isso, Brandalise avalia esse tratamento como muito útil em pessoas que "não respondem a mais nada" e precisam de uma alternativa para aumentar sua expectativa de vida.
No ASH 2020, a Janssen apresentou um estudo sobre a resposta dos pacientes ao tratamento CAR-T, que indicou êxito de 97% em termos de resposta geral e 67% em remissão completa, além de 76,7% de "pacientes vivos e livres de progressão em 12 meses".
Brandalise reiterou que "a complexidade da terapia para o paciente é a mesma que a de um tratamento habitual", pois para eles é uma transfusão normal. No entanto, é necessária uma sincronização com as autoridades reguladoras, porque "há células que saem e voltam, o que exige uma logística impecável".
Um dos principais desafios é encontrar centros médicos na América Latina capazes de realizar esta terapia, e a especialista confia naqueles que já estão familiarizados com o transplante de medula óssea. "Requer parâmetros que não são os mesmos, mas semelhantes", disse.
Por fim, Brandalise confirmou que o objetivo da empresa no campo da oncologia é atingir a meta de "eliminar, curar ou interceptar o câncer" o quanto antes.