Para abrir na quarentena, Havan passa a vender alimentos da cesta básica
Enquanto shoppings e lojas de departamentos amargam prejuízos com a pandemia, a rede de lojas Havan incluiu em seu portfólio itens da cesta básica, como arroz, feijão, macarrão e óleo de soja. Com isso, embora se apresente em seu site como loja de departamentos, a empresa vem conseguindo liminares na Justiça para ser incluída na mesma categoria dos supermercados.
Mesmo no estado de São Paulo, onde as regras de isolamento social têm sido mais rigorosas, 20 das 31 lojas da Havan estão abertas. "Estamos nos reinventando, assim como todo o comércio", afirmou, em nota, o empresário Luciano Hang, dono da rede.
Em lojas como as de Ribeirão Preto e Araçatuba, no interior paulista, é possível encontrar prateleiras com pacotes de arroz, feijão, macarrão e latas de molho de tomate ao lado de artigos esportivos e equipamentos para camping. A prefeitura de Ribeirão Preto informou constar do alvará de funcionamento da Havan a permissão para venda de gêneros alimentícios e de higiene pessoal, "o que significa que seu funcionamento está amparado por decreto federal, desde que obedeça a critérios como a disponibilização de álcool em gel e o uso de máscaras".
Por telefone, um funcionário da loja informou que a nova linha está disponível há dez dias, mas não é o "carro-chefe" da loja, pois quase não há procura. As lojas de Campinas e Valinhos também receberam suprimentos de cesta básica, mas esses produtos não eram encontrados na Havan de Sorocaba. As lojas paulistas funcionam em horário restrito, segundo a empresa, das 9h às 20 horas.
Em suas publicações, a Havan se define como loja de departamentos. No site oficial da empresa, na coluna reservada a alimentos, são oferecidos apenas barras de chocolate, bolos industrializados e cápsulas de café. Não há qualquer referência à nova linha de produtos. O portfólio inclui eletrodomésticos, cama, mesa e banho, artigos para bebê, casa e cozinha, ferramenta e jardim, esporte e lazer, brinquedos e moda. A informação sobre o movimento da Havan foi dada pela Folha de S. Paulo.
Em Araçatuba, a prefeitura fechou a loja, no centro da cidade, por burlar os decretos municipais de quarentena. A empresa entrou com mandado de segurança contra o prefeito Dilador Borges (PSDB), por abuso de poder, e conseguiu liminar suspendendo os efeitos da interdição. A Havan alegou em juízo que se enquadra na categoria de hipermercado. Após a decisão, a loja foi abastecida com itens básicos de alimentação.
Em Lorena (SP), a Havan também conseguiu autorização para reabrir a loja, fechada pela fiscalização municipal por estar funcionando de forma contrária aos decretos municipais de emergência em saúde. A juíza Maria Isabella Esposito Braga, da 1.ª Vara Cível, acatou o argumento da empresa de que exerce atividade não vedada durante a pandemia, de hipermercado de produtos alimentícios.
Na segunda-feira, 18, cerca de 60 funcionários da Havan de Bauru fizeram um protesto em frente à prefeitura para pedir a abertura da loja. Eles alegaram que outras cidades permitiram o funcionamento, entendendo ser um serviço essencial. A mobilização foi liderada pelo gerente da loja, Paulo Fernando da Silva.
"Tentamos contato com o prefeito, mas não conseguimos falar com ele", justificou. O prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSDB) recebeu uma comissão de funcionários e disse que estudava uma flexibilização no comércio com o comitê da covid-19 para propor ao governo estadual. A loja continua fechada.
No mesmo dia, em Marília, a loja de departamentos da Havan foi lacrada por fiscais do município. Segundo a prefeitura, o estabelecimento descumpria um acordo pelo qual apenas alguns setores poderiam funcionar. A fiscalização flagrou que todos os departamentos estavam funcionando. A Vara da Fazenda Pública de Marília rejeitou pedido da empresa para manter a loja aberta. Funcionários com bandeiras do Brasil foram às ruas para protestar, mas a loja permanece fechada. Hang reclamou do fechamento em seu Twitter, onde postou imagens da loja lacrada. "O poder público quer o caos. É o absurdo!", escreveu.
A empresa enfrentou processos semelhantes em outros Estados. Em Londrina (PR), o prefeito Marcelo Belinati (Progressistas) mandou fechar a unidade da Havan e de outra grande loja de departamentos, alegando que a lei de quarentena vale para todos. "Sem privilégios para as grandes (lojas)", disse na ocasião. "Nesse momento, o que mais importa é a vida das pessoas e não o lucro das grandes empresas." A loja reabriu com horário reduzido, operando das 10 às 16 horas. As 30 lojas da Havan no Estado estão abertas, com restrições apenas no horário. Em Palmas (TO), a loja foi fechada, mas reabriu. Em Vitória da Conquista (BA), onde também foi lacrada, a unidade continua sem funcionar.
Em nota, a Havan informou que incluiu no seu mix de produtos, há algumas semanas, itens de necessidade básica, como arroz, feijão, macarrão e outros. "A Havan tem no seu Cadastro Nacional de Atividade Econômica (Cnae) a categoria hipermercado, que lhe permite vender qualquer tipo de gênero alimentício. Há muitos anos, a empresa já vendia produtos importados e é uma das maiores vendedoras de chocolates no período da Páscoa", disse.
Segundo a Havan, muitas lojas de departamento no mundo, como a Harrods, em Londres, e Americanas, no Brasil, vendem alimentos. "Estamos nos reinventando, assim como todo o comércio, e oferecendo itens de primeira necessidade, assim como álcool em gel e máscaras, e nossos clientes podem comprar com o cartão Havan. Cada empresa está adotando medidas diferentes para sobreviver, algumas que não tinham e-commerce estão vendendo pela internet. E nas lojas maiores temos um departamento sazonal que estamos utilizando para a venda de alimentos. Todos estamos nos adaptando às novas necessidades dos nossos clientes", disse, por nota, o dono da Havan, Luciano Hang.