SP: Paraisópolis ganha caixas d'água, mas moradores relatam torneira seca
Vista da favela de Paraisópolis, na bairro do Morumbi, São Paulo Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
Cleber Souza
Do UOL, em São Paulo
06/04/2020 13h25
Resumo da notícia
Sabesp distribui caixas d'água em bairros carentes de São Paulo
1.200 reservatórios foram entregues na comunidade de Paraisópolis
Moradores reclamam de abastecimento irregular de água potável
Cidadãos dizem ainda não ter condições de instalar caixas d'água
Empresa afirma que moradores podem pedir auxílio para instalação
No dia 27 do mês passado, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) iniciou a entrega de pelo menos 2.400 caixas d'água em bairros das zonas sul, leste e norte da capital paulista. Em Paraisópolis, comunidade que recebeu metade do disponibilizado, famílias receberam as caixas, mas falta água nas torneiras e muitas afirmam não ter condições de pagar pela instalação dos reservatórios em suas casas.
A comunidade da zona sul possui cerca de 42.000 moradores, segundo dados da Rede Nossa São Paulo.
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A reportagem ouviu que a falta de água não é exclusividade de tempos de covid-19. Os pontos mais altos da favela sofrem com o desabastecimento de água diariamente, segundo relatam moradores ouvidos pelo UOL.
"Pra que caixa d'água se não chega água? Toda noite eles [a Sabesp] fazem racionamento ou chega pouca água nas torneiras. As pessoas estão sem água até para lavar as mãos. Para 21.000 moradias, 1.200 caixas são nada. Foi o mesmo de dar uma televisão para um cego", disse Igor Alexsander Amorim, que integra a união de moradores locais.
A companhia alega que mantém fornecimento regular, e que oscilações de pressão são resultado de cálculos de demanda, para minimizar vazamentos (veja mais abaixo).
"23h não tem mais água nas torneiras", disse a conselheira de saúde Maria Betânia Pereira, que atua na UBS 3 (Unidade Básica de Saúde) de Paraisópolis, uma das três existentes na comunidade. Ela é moradora do local há 48 anos e faz parte da UDMC-SP (União em Defesa da Moradia das Comunidades de São Paulo).
Maria Betânia Pereira, 61, moradora de Paraisópolis há 48 anos
Imagem: Cleber Souza/UOLSabesp oferece apoio na instalação
A cuidadora de crianças Maria Vital Freire, 68, mora sozinha em uma pequena casa. Reside na favela há 40 anos. "Vou deixar a minha [caixa d'água] para colocar depois. Não tenho condição nenhuma agora. Sou sozinha, e Deus, não tenho ninguém para me ajudar. Então vou deixar guardada", disse ela ao UOL.
Sebastião da Silva, 66, diz que a falta de serviço, e de dinheiro, o impede de instalar a caixa d'água agora. Ele trabalha como ajudante de cozinha em uma rede de hotéis, mas está parado por conta da crise de coronavírus.
Questionada sobre a instalação das caixas d'água para cidadãos sem recursos, a Sabesp indica que as famílias em situação de extrema necessidade podem entrar em contato pelos canais de atendimento para que seja feita uma vistoria no imóvel e avaliada a possibilidade de apoio à instalação do reservatório.
Sebastião da Silva, 66, ajudante de cozinha e morador de Paraisópolis
Imagem: Cleber Souza/UOLMP quer garantia de água para comunidades
O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) ajuizou na última quarta-feira uma ação civil pública emergencial para pedir, por meio de liminar, que a Sabesp e o governo estadual divulguem um cronograma de ações que garantam o abastecimento diário de água potável em todas as favelas do estado.
Feita por meio da Promotoria de Justiça de habitação e urbanismo da capital, a ação pediu que as informações fossem apresentadas em 48 horas e que as medidas de garantia do abastecimento sejam implementadas em até 72 horas após o vencimento desse prazo.
"Sem rede de abastecimento de água, sem rede de coleta de esgoto doméstico, muitas vezes sem coleta de lixo, com habitações precárias e sem ventilação, um contingente enorme de pessoas enfrenta cotidianamente situações adversas, que foram extremamente agravadas nas últimas semanas", argumenta o MP-SP.
No dia 19 de março, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), suspendeu a cobrança de água de 506 mil famílias que pagam a tarifa social. A medida é válida até junho.
Sabesp alega regular a pressão de acordo com a demanda
Procurada pelo UOL, a Sabesp afirmou que garante que abastecimento de água normal nas áreas atendidas. Segundo a empresa, há uma verificação de todos os casos notificados de falta d'água para que sejam solucionados.
"Em razão do isolamento social e da intensificação das práticas de higiene, houve aumento de 6% na demanda por água em março deste ano em relação à média do ano passado. Para manter todos abastecidos, a companhia está readequando a gestão da demanda, que é feita de acordo com o consumo de água. Quando há menos pessoas consumindo água, reduz-se a pressão a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimento de tubulações; quando o uso é retomado, a pressão é reajustada", diz a nota enviada ao UOL.