Epidemia de coronavírus leva a fechamento histórico do aeroporto de Paris-Orly
Pela primeira vez em um século o aeroporto de Orly, o segundo maior da região parisiense, fecha nesta terça-feira (31) por tempo indeterminado. Famoso no Brasil por causa da música "Samba de Orly", de Chico, Toquinho e Vinicius, o aeroporto funcionava em câmera lenta desde início da epidemia. Todos os voos e companhias aéreas que ainda operam na França serão transferidos para o aeroporto Paris-Charles de Gaulle.
O aeroporto de Orly é centenário e um dos mais antigos de Paris. Ele foi inaugurado em 1918 e às 23h59 minutos dessa terça-feira recebe seus últimos voos comerciais, antes de suspender suas atividades.
O fechamento foi decidido pelo presidente da empresa que administra os Aeroportos de Paris (ADP), Augustin Romanet, para reduzir gastos e evitar pedir dinheiro aos cofres públicos. O executivo, contaminado pelo novo coronavírus dá as últimas orientações, ainda em quarentena.
Orly foi atingido em cheio pela drástica redução do tráfego aéreo, em queda livre desde o início da pandemia do coronavírus. Nesta terça-feira, apenas 10 voos, transportando cerca de 1.000 passageiros estão previstos, isto é, menos de 2% do movimento normal. A cada ano, o aeroporto do sul de Paris recebe 32 milhões de passageiros; são 600 decolagens e aterrissagens oferecidas por mais de 100 empresas aéreas, que atendem 90.000 viajantes, por dia.
As quatro companhias que ainda operam no aeroporto são transferidas a partir da zero hora desta quarta-feira (1) para os terminais de Charles de Gaulle, que também viu seu tráfego aéreo despencar desde o início da crise. Augustin Romanet estima que o maior aeroporto de Paris terá a partir de agora um movimento de 10.000 passageiros por dia, 20 vezes menos do que a média diária, em tempos normais, que é de 200.000 viajantes.
Fim poluição sonora
A torre de controle de Orly não será fechada e o aeroporto poderá receber, se necessários voos especiais ou de emergência, oficiais ou sanitários. O presidente da ADP garante que, assim que o fim do fechamento for decidido, o terminal pode voltar a funcionar em 24 ou 48 horas.
Enquanto isso, pouco mais de 80 aviões estão estacionados nas pistas, hangares e oficinas. No terminal, mais de cem lojas, bares e restaurantes tiveram que fechar. A Cruz Vermelha acolheu os sem-teto que moravam no local.
Há um ano, na perspectiva de ver seu movimento dobrar nos próximos 20 anos, novas instalações de 80.000 m2 eram inauguradas em Orly. A grave crise no setor levanta questões sobre o futuro. Mas nem todo mundo sai perdendo com esta situação. Os vizinhos do aeroporto, que sofrem com a poluição sonora 365 dias por ano, estão aliviados ao passarem a ter níveis de decibéis aceitáveis e silêncio ambiental.
Crise no setor aéreo
A situação das empresas aéreas francesas "é simplesmente catastrófica" resume a Federação Nacional de Aviação Comercial (Fnam). A entidade estima que "as medidas tomadas pelo governo, como adiamento do pagamentos de taxas e a possibilidade de obter empréstimos garantidos pelo Estado junto aos bancos, não serão suficientes para salvar as companhias francesas mais frágeis".
Com as restrições de circulação impostas em todo o mundo para frear a propagação do coronavírus, o tráfego aéreo na Europa caiu cerca de 80%, segundo dados divulgados na semana passada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata).
A companhia Air France, a principal cliente dos Aeroportos de Paris, propõe atualmente apenas 10% de sua oferta regular. Muitos voos ainda em operação são de repatriamento de franceses no exterior ou sanitários. Charles de Gaulle e os principais aeroportos regionais franceses ainda recebem voos comerciais, mas, como Orly, 40 terminais irão fechar até o final da semana.