Famílias acham restos de avião que caiu no PA em 1979: "velório de 40 anos"
Foram necessários 39 anos e 10 meses para que as quatro famílias que perderam seus entes encontrassem os restos do avião modelo Cessna 180, prefixo PT-BHG, que caiu em Trairão, na região amazônica do Pará, às 10h do dia 26 de novembro de 1979.
Quatro pessoas estavam a bordo do avião: piloto Dante de Matos Torraca, o copiloto Luiz Valcir Rovaris, um paciente que precisava de cuidados de médicos de emergência (Manoel Abreu Silva) e um vizinho amigo dele (José Borges).
A aeronave decolou por volta das 9h30 de Itaituba (PA) com destino a Cuiabá, onde Manoel iria ser atendido. Mas o tempo estava fechado.
"O voo durou no máximo uns 30, 35 minutos. Pelo que disseram na época, estava um temporal muito forte na região. Eles voaram até que se perderam no tempo chuvoso", conta o empresário Edson Coelho Silva, 49, filho do paciente que seria transportado. "Acho que eles entraram voando na mata. Os destroços ficaram bem pequenos, tudo espalhado para todo lado."
Até agora, o local exato do acidente era um mistério, e os corpos das vítimas nunca haviam sido encontrados. Isso também impediu a confecção de um relatório conclusivo da Aeronáutica sobre a causa da queda da aeronave.
Trator e trilha para chegar ao local
No último domingo (30), Silva e familiares das demais vítimas foram até a floresta para finalmente encontrar os destroços da aeronave e ver o local onde os pilotos e passageiros morreram.
Os destroços foram achados por um agricultor há três anos. Entretanto, apenas no mês passado o filho de Manoel foi informado de que um documento com o nome do pai fora encontrado.
"O rapaz que recolheu os documentos não sabia quem era. Por um acaso, um conhecido meu aqui viu o nome do meu pai e trouxe esse documento aqui. A gente marcou pra ir lá com o pessoal da família dos pilotos, que mora no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul", explica Silva.
Para chegar até o local foi necessária uma verdadeira peregrinação pela floresta.
"A gente atravessou o rio Jamanxim e depois fomos em um jerico [tipo de trator com rodas], em que andamos por 15 quilômetros. Depois fomos a pé por mais uns 4, 5 quilômetros dentro da mata até chegar nos destroços do avião", conta Silva.
Segundo a vítima, a Aeronáutica iria ser acionada para acompanhar a expedição, mas como os parentes de piloto e copiloto vieram de outros estados, não houve tempo para combinar a visita. "Eles até fizeram contato, queriam concluir a investigação, mas não houve tempo."
"Velório que durou 40 anos"
No local visitado no domingo havia peças do avião, como cauda, motor e trem de pouso. Em uma placa achada dá para ver que o motor havia passado por revisão em setembro de 1975.
Não havia mais restos mortais das vítimas, e os familiares decidiram não retirar nada da mata. "Não trouxemos nada, apenas vimos. É lá que deve ficar guardada a história", afirma Silva.
Para o pecuarista Carlos Alberto Rovaris, 59, irmão do copiloto, encontrar os destroços pôde encerrar o luto das famílias.
"Achar o avião para mim foi um misto de tristeza e alívio. Realmente no momento em que chegamos no avião, concluímos o sepultamento de um velório que durou 40 anos", disse ele.
Após a visita, os familiares fizeram um boletim de ocorrência na Polícia Civil de Trairão, onde informaram sobre o achado do avião. "Fizemos isso para obter a certidão de óbito, que até hoje não temos", diz Rovaris.