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Flávio Bolsonaro usou casa penhorada por dívida de R$ 5,5 mi em entrevista

Casa utilizada por Flávio Bolsonaro em entrevista para a Globo News - Reprodução/Google Maps
Casa utilizada por Flávio Bolsonaro em entrevista para a Globo News Imagem: Reprodução/Google Maps
do UOL

Eduardo Militão e Constança Rezende

Do UOL, em Brasília, e colaboração para o UOL, em Brasília

22/08/2019 04h00Atualizada em 22/08/2019 17h41

Um empresário que, nas palavras da Polícia Federal, tem "estreita ligação" com o ex-governador cassado do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR), preso em duas oportunidades, foi quem emprestou uma luxuosa casa à beira do lago Paranoá, em Brasília (DF), para o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O imóvel foi usado pelo filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, conceder uma entrevista para o programa "Em Foco", na GloboNews, em Brasília, na semana passada.

A casa foi comprada por R$ 2,5 milhões em agosto de 2015, mas está penhorada por causa de uma dívida de R$ 5,5 milhões com uma empresa de factoring, de acordo com registros cartoriais obtidos pelo UOL.

O advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, disse ao UOL que solicitou a casa de um cliente seu, o empresário Geovani Meireles, para gravar a entrevista com o senador. Segundo ele, "a emissora de TV queria gravar na casa do político ou num ambiente distinto".

"Por uma questão de privacidade", Wassef diz que pediu emprestada a casa de Meireles, conhecido pelo apelido de "Jarrão". "A residência em questão tem vista para um cartão postal de Brasília: o Lago Sul [Paranoá]", afirmou Wassef.

Meireles confirmou que emprestou sua casa a pedido de Wassef e disse que conheceu Flávio Bolsonaro --mas não esclareceu se isso aconteceu apenas no final da entrevista à GloboNews ou se eles já se conheciam antes.

Sobre a questão da dívida que possui, Meireles afirmou que "está negociando para resolver" e que o assunto "não é problema da imprensa". "Se tenho dívida, é porque não roubei como a maioria das pessoas. Trabalho desde dos 13 anos, sou exemplo para quem vive de explorar a família e o nome das pessoas que trabalham", disse o empresário.

Nesta mesma casa, o hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes entrou para fazer uma espécie de "sabatina informal" numa chalana em 2017. A residência possui um píer para atracar embarcações. O aluguel de imóveis vizinhos sai por cerca de R$ 10 mil por mês, segundo registros de imobiliárias.

De acordo com relatório da Polícia Federal, Geovani Meireles, o "Jarrão", mantém "estreita ligação" com o ex-governador José Roberto Arruda (PR), marido da deputada federal Flávia Arruda (PR-DF). O casal oficializou a união na casa de Meireles.

Quando o ex-governador foi preso pela PF em 2010, havia dois veículos na garagem do político --um estava registrado em nome da empresa de Geovani Meireles, a Polytotal, um Honda CRV. "Mais uma vez temos um carro pertencente ao investigado que está em nome de outra pessoa e não menos que Geovani Antunes Meireles, empresário ligado ao governo do GDF [governo do Distrito Federal]", escreveram os policiais.

O outro veículo na garagem de Arruda tinha sido vendido pela firma de Meireles para o ex-governador, uma Toyota Hillux 4x4. Geovani Meireles era dono de uma construtora em sociedade com Fábio Simão, assessor direto de Arruda.

Jarrão foi condenado pela Justiça do DF a seis anos de prisão no ano passado por crime ambiental, sob a acusação de "impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação" à beira do Lago Paranoá, em lote próximo à residência usada por Flávio Bolsonaro.

Geovani Meireles também enfrenta problemas com a Receita Federal. Ele e quatro empresas que controla direta ou indiretamente, como a Polytotal e a Atlas Taxi Aéreo, têm R$ 23 milhões em dívida ativa de tributos e contribuições previdenciárias. Os dados são da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

Meireles nega que "seja ligado" ao ex-governador José Roberto Arruda atualmente. Ele disse ao UOL que, diferentemente do que afirmou a Polícia Federal, nem mesmo antigamente, ele tinha "estreita ligação" com o ex-chefe do Executivo do Distrito Federal. "Não tenho laço nenhum", afirmou.

"Faz mais de dez anos que não o vejo. Apenas naquela época vendi um carro para a esposa dele --que foi devidamente declarado", disse o empresário. Ele também afirmou que não responde a nenhum inquérito policial.

José Roberto Arruda foi procurado pelo UOL, mas ainda não se posicionou. Assim que a respostas for enviada, ela será publicada na reportagem.

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