Ativista que fez poema contra presidente de Uganda é condenada à prisão
Campala, 2 ago (EFE).- A Justiça de Uganda condenou nesta sexta-feira a poetisa e ativista Stella Nyanzi por assédio virtual e ditou a pena de um ano e meio de prisão pela publicação de um poema no Facebook contra o presidente do país, Yoweri Museveni, e outros membros da sua família.
Nyanzi, que já estava em prisão preventiva desde 2 de novembro do ano passado em um presídio de segurança máxima da capital do país, cumprirá agora mais nove meses em regime fechado.
Por considerar a sentença injusta, a antropóloga e ex-pesquisadora da Universidade de Makerere se negou a comparecer ao julgamento. Sua participação aconteceu através de uma transmissão ao vivo, que ela aproveitou para protestar tirando a blusa e deixando os seios à mostra.
De acordo com a imprensa ugandesa, a juíza Gladys Kamasanyu baseou sua sentença no fato de que Nyanzi não se mostrou arrependida e suas ações na internet foram aumentando de intensidade.
Após o veredito, pelo menos três pessoas favoráveis a Nyanzi foram detidas pela polícia.
"Estou decepciona por não ser considerada culpada por injúrias contra o presidente. Planejei ofender Yoweri Museveni Kaguta porque ele ofendeu todos nós. Quero ser declarada culpada de ofender um ditador", pediu ela ao tribunal, que a absolveu das injúrias, mas a condenou por assédio virtual.
O músico Bobi Wine, que faz oposição ao atual presidente e já apresentou sua candidatura para as eleições de 2021, se mostrou solidário à ativista.
"Hoje, a doutora Stella Nyanzi foi condenada por assédio cibernético por usar 'palavras imorais' contra a ditadura, a corrupção e o nepotismo. Os mesmos tribunais que defendem e protegem os defensores desses males não têm autoridade moral para falar sobre moralidade", escreveu Wine no Twitter.
No poema em questão, a ativista lista seis formas pelas quais o presidente ugandense poderia ter morrido no parto e declara seu desejo de que todas elas tivessem acontecido. O texto foi publicado em 16 de setembro, dia seguinte ao aniversário de 74 nos de Museveni.
Ao todo, 85% da população ugandesa tem menos de 35 anos e sempre viveu na gestão de Museveni, que está no poder desde 1986. EFE