Do abandono da carreira de diplomata à depressão nervosa: a atormentada vida de Masako, a nova imperadora do Japão
O imperador japonês Akihito cedeu, nesta terça-feira (30), o trono ao filho Naruhito, após mais de 30 anos de reinado. Por trás da mudança de líder e de era - da Heisei à Reiwa -, está a complexa vida de Masako, conhecida como "a princesa triste". A partir de quarta-feira (1°) ela se tornará a nova imperadora do Japão.
Uma vida de princesa pode parecer um destino promissor na visão de muitos, mas essa não é a realidade de Masako Owada. Nascida em 1963 em Tóquio e filha do vice-embaixador do Japão nos Estados Unidos, a japonesa passou boa parte de sua infância e adolescência no exterior. Poliglota, estudiosa e ambiciosa, a garota se preparava para uma carreira brilhante, até conhecer o príncipe Naruhito.
O sonho da jovem que desejava ser ministra das Relações Exteriores do Japão parece se concretizar pouco a pouco durante sua juventude. Em 1981, Masako é aceita na Escola de Economia de Harvard, nos Estados Unidos, onde impressiona os professores com sua inteligência e dedicação. Na prestigiosa universidade americana, recebe um diploma com menção honrosa, em 1985, e resolve continuar sua formação na Faculdade de Direito de Tóquio.
Um ano depois, o sonho parece estar prestes a se tornar realidade: Masako integra uma seleta lista para a entrada no Ministério das Relações Exteriores do Japão. Mas um envelope, com o símbolo do crisântemo real japonês, causa uma reviravolta no destino da jovem.
Masako é convidada para uma recepção no palácio imperial, oficialmente em homenagem à infanta Elena da Espanha. Na prática, o evento também serve para encontrar possíveis candidatas a se casar com o príncipe Naruhito que, aos 27 anos, preocupa a família real: o jovem dá ares de querer se casar e ter filhos, como manda a tradição.
O nome de Masako teria sido adicionado à lista de pretendentes na última hora. Ela teria sido indicada por um ex-embaixador japonês na União Soviética, que conhecia o pai da jovem. A inteligência e independência da jovem conquista Naruhito, que acredita que Masako pode ser, no futuro, uma imperadora moderna.
Pedido de casamento recusado
Masako ainda investe em estudos de Relações Internacionais na universidade de Oxford, no Reino Unido, em 1988. Mas ambição da jovem não desencoraja o príncipe que, dois anos após o primeiro encontro, faz o primeiro pedido de casamento.
Masako diz não: ela tem consciência de todas as obrigações impostas pela família imperial e não deseja renunciar a sua liberdade e à carreira. Mas o príncipe é insistente e a jovem cede à pressão, em 1992. A decisão a obriga, por exemplo, a abandonar sua tese, sobre a compra de aviões militares japoneses pelos Estados Unidos. Dois anos de pesquisa são deixados de lado pelo risco de desagradar a família do noivo.
Em 1993, o casamento oficializa a entrada de Masako na família imperial. Começa então um período de turbulência na vida da jovem, considerada pela Agência Imperial - que gerencia o cotidiano da realeza - como extremamente independente e ocidental. Contra a vontade, Masako é obrigada a adaptar o guarda-roupa e o comportamento: usar quimonos de cores claras e caminhar sempre atrás do marido, com os olhos baixos, com um único objetivo de vida: tornar-se uma "ryosai kenbo", uma boa esposa e mãe.
Com dificuldades para engravidar, Masako tem que lidar com a decepção do povo e a pressão da Agência Imperial. Cinco anos depois do casamento, a notícia da primeira gravidez se espalha pelas mídias, mas a princesa sofre um aborto natural. Masako deixa de aparecer em público e se isola cada vez mais.
Aos 37 anos, em 2000, começa um tratamento para uma gravidez in-vitro, mal visto pela opinião pública. Finalmente, quando consegue engravidar, Masako é alvo de um novo drama: o bebê é uma menina, a princesa Aiko. Mas mulheres não podem aceder ao cargo máximo do império e a princesa é acusada de ameaçar de extinção a dinastia do marido.
Depressão e crises de pânico
Exausta, Masako entra em depressão e frequentemente tem crises de pânico. Oficialmente, os médicos da família real diagnosticam um "transtorno de adaptação", devido ao estresse relacionado à condição de princesa. Preocupado com a saúde da esposa, Naruhito acusa publicamente a Agência Imperial de ser responsável pela doença de Masako, uma atitude inédita no país e que supreende a imprensa.
Em 2016, a saúde do imperador Akihito se degrada e ele expressa a vontade de se retirar da função, deixando o cargo para o filho mais velho. Em dezembro de 2018, ao completar 55 anos, Masako se pronuncia sobre seu futuro papel: tornar-se imperadora. A princesa se diz confusa, mas garante que fará o seu melhor.
Os fãs de Masako, que a comparam à Princesa Diana, comemoram. Para eles, Masako voltou a sorrir com a possibilidade de se tornar imperadora. Ao mesmo tempo, os médicos da Agência Imperial pedem cautela. Segundo eles, o estado de saúde da princesa é frágil, o que pode impedi-la, segundo eles, de viajar. Independente de sua vontade, neste 1° de Maio de 2019, Masako se torna a nova imperadora do Japão.
Sua única herdeira, a princesa Aiko, por ser mulher, jamais poderá ocupar o cargo máximo. O futuro da família imperial está nas mãos do príncipe Hisohito, de 12 anos, sobrinho do novo imperador. Caso morra antes de deixar um herdeiro, nenhum outro homem poderá subir no trono. Por isso, os japoneses começam a considerar a reformar a lei de forma a permitir que uma mulher possa um dia conduzir o império do país.