Suspeito de matar Marielle mora em condomínio de Bolsonaro no Rio
Apontado pelo MP e pela Polícia Civil do Rio de Janeiro como o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018, o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48 anos, mora no mesmo condomínio do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro e foi homenageado na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) em 1998.
Lessa foi preso na manhã de hoje na Operação Lume, realizada em conjunto entre os dois órgãos. Além dele, foi preso também o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, 46, suspeito de ser o motorista do carro utilizado para cometer o crime, que completa um ano nesta quinta-feira (14). Os advogados dos dois presos negaram que ambos tiveram participação no crime (veja abaixo).
O policial reformado foi preso em sua casa, no mesmo condomínio onde Bolsonaro tem uma casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O delegado Giniton Lopes, da Delegacia de Homicídios, afirmou que não há qualquer relação entre Bolsonaro e o crime.
Em Brasília, Bolsonaro disse que espera "que realmente a apuração tenha chegado de fato a quem foram os executores, se é que foram eles, e a quem mandou matar". "É possível que tenha um mandante [do assassinato da vereadora]", declarou.
Questionado sobre se sentiu-se surpreso com envolvimento de ex-policiais, Bolsonaro não respondeu, mas disse que não acredita que existam crimes impossíveis de serem solucionados, "coisa rara".
O condomínio Vivendas Barras tem pelo menos 50 casas e fica localizado em uma avenida na orla da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Os imóveis à venda no local variam de R$ 1,5 milhão a R$ 4,5 milhões, e têm entre três a cinco quartos. O aluguel no local costuma variar entre R$ 5 mil a R$ 10 mil.
Lessa foi homenageado na Alerj em 1998, quando recebeu moção de congratulações, aplausos e de louvor a pedido do deputado estadual Pedro Fernandes Filho (então no PFL, atual DEM). O policial reformado era, na época, lotado no 9º BPM, em Rocha Miranda, na zona norte do Rio. O parlamentar justificou a homenagem pela forma como o militar "vem pautando sua vida profissional".
"Sem nenhum constrangimento posso afirmar que o referido militar é digno desta homenagem por honrar, permanentemente, com suas posturas, atitudes e desempenho profissional, a sua condição humana e de militar discreto mas eficaz. Constituindo-se, deste modo, em brilhante exemplo àqueles com quem convive e com àqueles que passam a conhecê-lo", o então deputado na época.
Pedro Fernandes Filho foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1962, conseguiu a reeleição outras nove vezes e morreu em 2005. Ele é pai de Rosa Fernandes (MDB-RJ), vereadora do Rio que está no sétimo mandato consecutivo.
Rosa Fernandes foi a quarta vereadora mais votada em 2016, com 57.868 votos, ficando logo à frente de Marielle Franco, que recebeu 46.502 votos. Ela é mãe de Pedro Fernandes Neto, que atualmente é secretário estadual de Educação do governo de Wilson Witzel e foi candidato ao governo do Rio em 2018 pelo PDT.
Quem é Ronnie Lessa?
Ronnie Lessa chegou na Polícia Militar do Rio em 1992 onde passou a maior parte do tempo lotado no 9º BPM (Rocha Miranda). Posteriormente o policial reformado foi cedido para o quadro da Polícia Civil, no qual se consolidou como um elogiado atirador e passou a ser homem de confiança do contraventor Rogério Andrade.
Em 2010, uma bomba no carro de Andrade vitimou o filho dele, Diogo Andrade, na época com 17 anos. Lessa já havia perdido uma das pernas em um atentado semelhante na zona norte do Rio. O agente teria tentado deixar o veículo, mas ficou preso no cinto de segurança.
Élcio Queiroz expulso da PM
Suspeito de ser o motorista do carro usado no crime, o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz foi expulso da corporação por fazer segurança ilegal em uma casa de jogos de azar no Rio de Janeiro. Para a Polícia Civil e o MP do Rio, Elcio Queiroz dirigia o Cobalt prata usado no crime. Lessa e Queiroz foram denunciados pelo MP por duplo homicídio qualificado.
Elcio Queiroz foi um dos 43 denunciados pela Operação Guilhotina, deflagrada em fevereiro de 2011 pela Polícia Federal. A investigação revelou um esquema de corrupção policial que incluía a venda de informações sobre operações e de espólio de guerra do tráfico, além do serviço ilegal de vigilância.
De acordo com a denúncia do MP do Rio, Queiroz fazia parte um grupo de 13 pessoas que atuava como segurança em casas de jogos de azar nos bairros de Bonsucesso, Barra do Guaratiba e Botafogo. À época, ele estava lotado no 16º Batalhão da PM (Olaria). Em 2016, a Corregedoria Geral Unificada da Secretaria da Segurança Pública decidiu expulsar Élcio e pelo menos outros sete PMs da corporação.
Outro lado
A defesa de Queiroz explicou que o ex-PM sequer estava no local do crime no dia. "Tenho certeza que não há foto dele no carro, nem muito menos gravação dele neste dia. Tenho certeza que a vítima que sobreviveu não vai reconhecer o meu cliente", explicou o advogado Luiz Carlos Azenha.
Ele classificou de "trapalhada" a medida do MP e da Polícia Civil. "Trata-se mais uma vez de outra trapalhada da Polícia Judiciária com todo respeito à gloriosa Polícia Civil, mas nós já vimos que esse procedimento criminal, persecução penal, vem de outras trapalhadas", disse.
O advogado Fernando Santana, responsável pela defesa de Lessa, também destacou a inocência do seu cliente. "Tive contato com ele muito rápido, mas ele nega que tenha cometido qualquer tipo de assassinato. Vou ter acesso ao inquérito, pois até agora não tive - primeiro está em segredo de Justiça, mas agora já peticionamos para poder termos ideia de como chegaram na prisão do Ronnie Lessa", afirmou.