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Repórter: Fui detido por mostrar a Maduro vídeo de venezuelano comendo lixo

do UOL

Do UOL, em São Paulo*

26/02/2019 18h47

"Fui detido por mostrar a Maduro um vídeo de venezuelanos comendo lixo", disse o jornalista Jorge Ramos, que desembarcou hoje em Miami depois de ele e sua equipe terem sido retidos na sede da Presidência da Venezuela, quando faziam uma entrevista com o presidente Nicolás Maduro.

Ele e sua equipe da Univisión, uma das principais emissoras hispânicas dos Estados Unidos, acusam Maduro e seus assessores de agir com "natureza ditatorial".

"Estivemos detidos no Palácio de Miraflores", disse Ramos a jornalistas que o aguardavam em Miami. "Imaginem o que não farão com jornalistas venezuelanos", afirmou.

Univisión - Carlos Garcia Rawlins / REUTERS - Carlos Garcia Rawlins / REUTERS
Ramos mostra vídeo que teria irritado Maduro: gravação mostra jovens comendo lixo em Caracas
Imagem: Carlos Garcia Rawlins / REUTERS
Na noite de segunda-feira, ele e outros cinco jornalistas da Univisión foram retidos quando, segundo sua versão, Maduro se irritou porque mostraram a ele um vídeo em que jovens aparecem comendo lixo.

Neste momento, o governante teria se levantado e deixado a entrevista. Os repórteres foram retidos e seu equipamento, confiscado.

"Eu tinha perguntado se ele era um presidente ou um ditador, porque milhões de venezuelanos não o consideram um presidente legítimo, sobre as acusações de Juan Guaidó (líder opositor reconhecido como presidente encarregado por 50 países) de que ele era um usurpador do poder", disse Ramos.

"Se tiver coragem, mostre a entrevista completa"

Depois de mais de duas horas, os jornalistas foram enviados ao hotel, mas denunciaram que os funcionários do governo tinham apreendido seu equipamento e seus celulares.

"Nunca pensei que Maduro fosse primeiro se levantar de uma entrevista e depois nos deter por mais de duas horas e pior, roubar nossa entrevista", disse Ramos em Miami.

"Se Maduro não for tão covarde, se tiver coragem de dar a cara, que mostre a entrevista completa, ninguém vai editá-la", prosseguiu.

Mais cedo nesta terça-feira, 16 organizações de defesa da liberdade de expressão, entre elas a Human Rights Watch, a Fundação García Márquez, Repórteres sem Fronteiras e a Sociedade Interamericana de Imprensa, condenaram o episódio.

"Esta detenção constitui uma violação grave à liberdade de imprensa e fere o direito à liberdade de informação no desenrolar dos fatos que são de interesse global", escreveram em um comunicado conjunto.

Estes atos "confirmam um padrão de desprezo aos valores democráticos por parte de Nicolás Maduro, em que a restrição à liberdade dos jornalistas é utilizada como mecanismo de chantagem no âmbito da crise que o país atravessa", prossegue o texto.

"A arbitrariedade deste ato de censura se agrava ao ocorrer no curso de uma entrevista com o próprio Nicolás Maduro e na sede histórica do governo venezuelano", continua.

Ramos, que já protagonizou um bate-boca com o presidente americano, Donald Trump, contou que o ministro da Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez lhes disse durante a entrevista que a conversa não estava mais autorizada.

"Esta é uma violação total à liberdade de expressão, uma violação aos direitos humanos; eles acreditam que a entrevista é deles, não nossa", afirmou na noite de segunda-feira.

O Departamento de Estado informou ter recebido uma notificação de que Ramos e sua equipe estavam retidos contra sua vontade no Palácio de Miraflores. "Insistimos em sua libertação imediata; o mundo está de olho", reagiu o Departamento de Estado no Twitter.

Guaidó também criticou o episódio no Twitter.

"Condenamos os atos violentos do usurpador contra o jornalista @jorgeramosnews e sua equipe da Univisión. O desespero do usurpador é cada dia mais evidente, não conseguiu responder as perguntas", escreveu Guaidó.

O senador Marco Rubio, defensor nos Estados Unidos da oposição venezuelana, repudiou o fato no Twitter dizendo que "este é um regime arrogante que se sente invulnerável e agora age com total impunidade".

*Com AFP e EFE

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