Em maior crise desde a posse, Bolsonaro demite Bebianno
Resumo da notícia
- Presidente do PSL na eleição de 2018, Bebianno teria autorizado verba do fundo partidário para candidata laranja em PE
- Ele negou ter responsabilidade sobre os repasses do PSL, e disse ter conversado com o presidente "três vezes" durante internação
- Carlos, um dos filhos do presidente, diz que a conversa do ministro com o pai é "mentira absoluta"
- Bebianno mantém sua versão, e áudios de conversas dele com Bolsonaro chegam à imprensa
- Após o vazamento, Bolsonaro decide demitir Bebianno, mas a exoneração demora dias para ser efetivada
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno (PSL), foi demitido do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) na maior crise enfrentada pelo governo menos de dois meses depois da posse. Seu sucessor será o atual secretário-executivo da pasta, general Floriano Peixoto.
O impasse sobre a possível saída do ministro do governo se arrastou por quase uma semana. A decisão foi oficializada hoje pelo porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, em declaração à imprensa.
"O excelentíssimo senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, decidiu exonerar nesta data do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência o senhor Gustavo Bebianno Rocha. O presidente agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada", declarou o porta-voz.
Questionado sobre o motivo da demissão, Rêgo Barros disse que a razão é "de foro íntimo do nosso presidente". Em vídeo divulgado pelo WhatsApp após o anúncio, Bolsonaro agradece ao ex-braço direito e cita questões "mal entendidas".
A expectativa é que a exoneração de Bebianno seja publicada na edição regular do Diário Oficial da União desta terça (19).
A decisão de demitir Bebianno foi tomada após reportagens da Folha de S. Paulo indicarem que ele, então presidente do PSL durante a campanha eleitoral, teria autorizado o repasse de verbas do fundo partidário para uma candidata "laranja" em Pernambuco com o suposto apoio de Luciano Bivar, atual presidente da sigla.
Maria de Lourdes Paixão concorreu ao cargo de deputada federal e recebeu R$ 400 mil, sendo a terceira maior beneficiada com verba do partido de Bolsonaro em todo o país, mas obteve só 274 votos.
A prestação de contas dela sustenta que 95% do valor recebido foi gasto para imprimir 9 milhões de santinhos e cerca de 1,7 milhão de adesivos em uma gráfica. No entanto, a reportagem da Folha visitou os endereços indicados por Maria de Lourdes e não encontrou sinais de que ali tenha funcionado o estabelecimento indicado.
Bebianno ainda teria liberado R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, Érika Siqueira Santos. Parte do dinheiro foi repassada a uma gráfica registrada em endereço de fachada.
O agora ex-ministro negou ter responsabilidade sobre os repasses.
Como presidente do PSL e da Comissão Executiva Nacional do partido à época do período das eleições do ano passado, ele era o responsável por autorizar repasses dos fundos eleitoral e partidário a candidatos da sigla.
"As decisões em relação à exoneração e nomeação de ministros são de responsabilidade de nosso presidente. Não me cabe avançar em suposições", disse Rêgo Barros, ao ser questionado se haveria dois pesos e duas medidas quanto ao outro ministro, Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo. Ele também é suspeito de ter dado aval a candidaturas de "laranjas" enquanto à frente do PSL de Minas Gerais durante as eleições de 2018.
Crise teve interferência de filho do presidente
A crise no governo piorou após Bebianno dizer que mantinha contato com o presidente enquanto este estava internado em São Paulo, onde se recuperava de cirurgia.