Moro "recicla" pacote anticorrupção que não avançou no Congresso
O projeto anticrime apresentado nesta segunda-feira (4) pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, "reciclou" pelo menos 10 tópicos do famoso pacote das 10 medidas de combate à corrupção que "naufragou" no Congresso Nacional entre 2016 e 2017 (leia a íntegra do projeto).
O pacote das 10 medidas foi um projeto de iniciativa popular que contou com a assinatura de mais de 2 milhões de pessoas. Ele foi encabeçado pela PR-PR (Procuradoria da República no Paraná) no auge da Operação Lava Jato.
Moro, então no comando da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, chegou a participar de uma sessão da comissão especial que analisava a matéria na Câmara dos Deputados para defender a iniciativa.
Apesar do empenho do então magistrado, o projeto foi esfacelado ao tramitar na Câmara dos Deputados. Das dez medidas inicialmente propostas, apenas uma foi aprovada pelo Plenário da Câmara de forma integral. A proposta ainda tramita no Senado.
Na época, o então deputado e hoje ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o projeto estava sendo "dizimado".
Agora, para Moro, o Congresso vive "outro momento político".
"Há uma abertura maior para propostas relacionadas a essa área de corrupção. Muitas vezes no passado, houve também problemas de conflitos e tensões decorrentes do momento circunstancial. Acredito que essas questões foram muito superadas com a eleição do novo governo federal", afirmou.
Regime fechado para corrupção
Entre as medidas recuperadas por Moro em seu projeto anticrime, estão as que endurecem o cumprimento das penas para condenados pelos crimes de peculato, corrupção passiva e corrupção ativa.
A proposta que chegou à Câmara previa o aumento da pena para quem cometesse esses crimes. O projeto de Moro não altera o tamanho das penas, mas determina que o regime para cumprimento das sentenças é, inicialmente, o fechado. A ideia é evitar que condenados por corrupção comecem o cumprimento de suas penas em regimes como o semiaberto.
O projeto de Moro, assim como o pacote das 10 medidas, também prevê alterações no regime de prescrição de punições. A nova proposta prevê que o prazo para prescrição não corra enquanto houver embargos de declaração ou recursos em tribunais superiores tramitando. Em 2016, o Plenário da Câmara derrubou uma medida semelhante que constava no pacote das 10 medidas.
Outra proposta recuperada por Moro é a criação do "informante do bem". Trata-se de uma pessoa que pode ser agente público ou não e que poderá prestar informações sobre crimes sem que sua identidade seja divulgada ao longo do processo.
A proposta causou bastante polêmica quando foi divulgada em 2016 e chegou a ser retirada do parecer final de Onyx Lorenzoni. Agora, a proposta volta prevendo que "ninguém poderá ser condenado apenas com base em depoimento prestado pelo informante, quanto mantida em sigilo a sua identidade".
*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL em São Paulo