Brumadinho: Encontraram 3 corpos na minha casa e pode ter mais, diz morador
O riacho que cortava o bairro rural Parque da Cachoeira, em Brumadinho (MG), situado a oito quilômetros da barragem da Vale que se rompeu na última sexta-feira (25), virou um mar de lama onde bombeiros buscam corpos. Três deles já foram encontrados na casa de um morador, Jonathan Wilker Pedrosa de Andrade. "A gente sente o cheiro de carniça", diz ele. Até a noite desta segunda-feira (28), a tragédia computava 65 mortos.
"Aqui (na casa da minha família) acharam três corpos. Tiraram pedaços (de corpos), braços e pernas. Achamos roupa do pessoal da Vale, pode ter mais vítimas", conta o mineiro ao UOL.
Ele diz ter visto os corpos despedaçados. "Não tem nem como velar. Estão simplesmente enterrando."
Parte da propriedade da família Pedrosa de Andrade foi devastada. Uma das edificações desapareceu. A casa principal resistiu parcialmente, mas está cercada de lama, que chega na altura das janelas. "Uma árvore entrou na cozinha e destruiu a parede", conta Jonathan ao permitir a entrada da reportagem no imóvel.
No meio da lama que toma o terreno, há um carro danificado que não era da família. Jonathan também diz ter visto roda de trator e óleo diesel no local. "Tem coisa aqui que a gente não faz ideia de onde veio".
Os avós, a mãe, o irmão e uma prima de Jonathan estavam na casa no momento em que a barragem se rompeu. "Eles conseguiram sair em cima da hora com meu avô dirigindo o carro".
No bairro vizinho de Alberto Flores, também à beira do córrego, a dona de casa Sonia Rezende escapou da tragédia porque viajou com o marido para Belo Horizonte na manhã de sexta, mas perdeu a casa em que morava havia dois anos. O imóvel foi destruído, mesmo destino de outras dezenas nos dois bairros.
"Investimos muito na casa. Era um chalé com dois pavimentos. Fiz uma cozinha e mais quartos porque minha família é grande. Não ficou nada. Não tem jeito mais. Aqui acabou", lamenta Sonia.
"Quantos amigos estão soterrados"?
Sonia e Jonathan guardam na memória o clima bucólico e festivo que os bairros rurais de Brumadinho tinham antes da tragédia. "O pessoal usava o córrego para pescar e tomar banho", lembra a dona de casa. "Tem três meses, fiz o casamento do meu filho aqui. Tinha gente demais (na festa)".
"Aqui foi a gente aprendeu a pescar. O lazer nosso era todo aqui na beira do córrego e no rio Paraopeba. E os peixes morreram. Acabou tudo", conta Jonathan.
Ambos lamentam sobre o desparecimento de amigos e conhecidos. "Todo mundo cresceu junto. Minha família está viva, mas quantos amigos estão soterrados e quantas famílias estão desesperadas?", pergunta o morador.