Não é justo o que estão fazendo com Flávio pra me atingir, diz Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que o filho, senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), tem de se explicar em relação às acusações que estão sendo feitas no âmbito dos relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que investigam movimentações financeiras atípicas. As declarações foram feitas em Davos, na Suíça, em entrevista para o Jornal da Record nesta quarta-feira (23).
"Eu acredito nele, mas ele tem que explicar tudo o que aconteceu com ele nessas acusações infundadas. Ele teve sim seu sigilo quebrado, estão cometendo uma arbitrariedade em cima dele. Não estamos acima da lei, pelo contrários, estamos todos abaixo, mas não é justo o que estão fazendo com ele para tentar me atingir", afirmou Bolsonaro.
O Ministério Público do Rio de Janeiro já se manifestou sobre essa questão, informando que não quebrou o sigilo do senador eleito. Segundo o MP-RJ, Flávio Bolsonaro é investigado no âmbito civil por improbidade administrativa, mas não está inserido em nenhum inquérito criminal.
Na conversa, gravada no Fórum Econômico Mundial em Davos e que foi ao ar na noite desta quarta (23), o presidente falou também sobre a situação na Venezuela - o país foi palco de protestos contra o governo de Nicolás Maduro, o qual o Itamaraty considera ilegítimo. "O novo presidente se apresentou como líder na Venezuela, os Estados Unidos reconheceram, outros países reconheceram e nós seguimos nessa linha", disse.
Segundo o presidente, uma hipotética transição de governo de Maduro para o líder oposicionista tende a ser conturbada. "Há muito já falamos que todo homem e toda mulher têm que ter liberdade. A história mostra que as ditaduras não passam o poder para a oposição de forma pacífica. Vamos fazer o que pudermos para reestabelecer a democracia na Venezuela."
Num balanço sobre a viagem a Davos, Bolsonaro afirmou que "todos os países estão interessados no Brasil". "Fui procurado por vários líderes internacionais, por empresários. Somos a oitava economia do mundo, com minério em abundância, uma agropecuária pujante que alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo", disse o presidente, afirmando ainda que ouviu dos empresários que o país precisa reduzir impostos e se "desburocratizar".
Assim como no seu discurso na cidade suíça o presidente não entrou em detalhes sobre as reformas que pretende encabeçar, mas reiterou que terá de "fazer algumas reformas para que possamos voltar a crescer".
Sobre a entrevista coletiva que seria concedida em Davos e foi cancelada pela equipe de Bolsonaro, o presidente afirmou que não queria se desgastar pois vai "passar por uma cirurgia muito delicada". "Precisava descansar para a cirurgia, por isso cancelamos. Não posso chegar cansado", afirmou. A entrevista daria ao menos 40 minutos para jornalistas questionarem Bolsonaro, e frustrou líderes e empresários que queriam ouvir mais detalhes dos planos econômicos do governo brasileiro.
Caso Coaf
O ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, está sendo investigado por uma série de movimentações financeiras atípicas entre 2016 e 2017. Queiroz movimento pelo menos R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, conforme revelado por um relatório do Coaf. À época, Queiroz era funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
No último sábado (19), o Jornal Nacional divulgou outra relatório do Coaf apontando um pagamento de Flávio Bolsonaro no valor de R$ 1.016.839 de um título bancário da Caixa Econômica Federal - o órgão afirmou que não conseguiu identificar quem foi o favorecido do pagamento.
Em outro relatório, também divulgado pela TV Globo, o Coaf mostrou que, entre junho e julho de 2017, foram feitos 48 depósitos na conta do então deputado estadual, agora senador eleito, totalizando R$ 96 mil. Um dia depois, o jornal O Globo mostrou que, entre 2014 e 2015, outros R$ 5,8 milhões entraram e saíram da conta de Fabrício Queiroz. Os valores repassados ao ex-assessor seriam incompatíveis com seus vencimentos, o que chamou atenção do órgão.
Em sua defesa, Flávio Bolsonaro já afirmou que as movimentações são produtos de seus negócios pessoais, como vendas de imóveis. Sobre Queiroz, F. Bolsonaro afirmou que "não tem controle" sobre o que seus assessores fazem fora do gabinete.