Professora com Síndrome de Down é ofendida por desembargadora e dá a melhor resposta
Após espalhar notícias falsas e criticar a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros no último dia 14 de março, a desembargadora Marília Castro Neves fez ofensas a outra pessoa nas redes sociais: a primeira professora com Síndrome de Down do Brasil, Débora Seabra.
"Voltando para casa [...] ouço que o Brasil é o primeiro em alguma coisa. Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de Síndrome de Down. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social... Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?", dizia a postagem da desembargadora em uma comunidade de juízes no Facebook.
Débora Seabra, de 36 anos, atua há cerca de dez como auxiliar de desenvolvimento infantil em turmas de educação infantil e Fundamental I na Escola Doméstica, em Natal, no Rio Grande do Norte.
Ao saber do comentário da magistrada, ela divulgou uma carta nas redes sociais:
Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras, ajudem a quem precisa mais"
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O texto da carta, escrito de próprio punho, ainda revela como é o trabalho de Débora como professora e como ela quer ensinar as crianças a não ter práticas preconceituosas.
“Não quero bater boca com você! Só quero dizer que... Tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças de uma escola de Natal (RN). Trabalho à tarde todos os dias com minha equipe, que tem uma professora titular e outra auxiliar”, explica Débora.
Segundo a professora, ela estuda planejamento, participa de reuniões, dá opiniões, conta histórias para as crianças, ajuda nas atividades e vai para o parque com elas. Além disso, ela acompanha as crianças nas aulas de inglês, música e educação.
“O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo para acabar com o preconceito porque é crime”, diz a educadora na carta.
A publicação aberta ao público conquistou, em poucas horas, mais de duas mil reações, além de 375 mil comentários e outros dois mil compartilhamentos. Nas mensagens, as pessoas elogiaram a atitude da professora: “Professora Débora, você é uma gigante! O mundo precisa de mais pessoas como você”, dizia um deles.
Federação repudiou
A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down publicou, na segunda-feira (19), uma carta de repúdio "à demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de Down".
A associação ressalta, na carta, a luta pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência e critica a postura da magistrada.
"A FBASD considera que a mensagem carregada de preconceito ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça."
Na mira do CNJ
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abriu um procedimento para apurar a conduta da desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por espalhar notícias falsas e criticar, em uma rede social, a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros. A abertura do procedimento foi confirmada ao UOL na noite de terça-feira (20) pelo corregedor Nacional de Justiça, o ministro João Otávio de Noronha.
As representações contra a desembargadora foram apresentadas ao CNJ pelo PSOL e pela Associação Brasileira de Juristas para a Democracia. Segundo nota divulgada pela assessoria do CNJ, Noronha determinou a abertura de prazo para que a desembargadora se manifeste sobre as representações.
Sobre as novas ofensas, agora à professora Débora Seabra, o CNJ informou na nota que a magistrada será convocada a se explicar: "Em relação às postagens feitas pela desembargadora Marília Neves em redes sociais sobre a atuação de uma professora portadora da Síndrome de Down, o corregedor nacional determinou a abertura de Pedido de Providências e será concedido prazo para que a desembargadora se manifeste a respeito".
Já o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro disse que não vai se pronunciar sobre uma opinião pessoal de Marília Castro Neves. Procuradas pelo BOL, a professora e a desembargadora também não deram declarações.
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