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HÁ 20 ANOS: EUA recuam e ensaiam discurso moderado para romper isolamento na Eco-92

<p> <b>JEFFERSON CORREDOR</b><br/> DO BANCO DE DADOS </p>

08/06/2012 07h18

Folha, 8.jun.1992 - Os EUA ensaiam uma mudança no discurso na Eco-92. O objetivo é reduzir o isolamento do país na conferência. O chefe da delegação norte-americana no Riocentro, William K. Reilly, evitou ontem criticar a Convenção sobre a Biodiversidade, que pretende garantir a preservação das espécies vivas, e adotou uma atitude mais conciliadora.

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"Podemos esperar uma cooperação com os outros países mais para a frente, quando os signatários do acordo se reunirem", disse Reilly. A cooperação seria, segundo ele deixou a entender, uma interpretação do tratado de biodiversidade nos termos desejados pelos EUA.

A discussão sobre biodiversidade se tornou um dos temas mais importantes da Eco-92. Entre os países desenvolvidos, apenas os EUA, Japão e a Grã-Bretanha ainda não assinaram o documento. Em entrevista coletiva ontem à tarde, Bush disse não ter motivos para pedir desculpa por não apoiar o tratado. "Tenho que me preocupar com o desemprego no meu país", argumentou.

Os EUA consideram que seriam prejudicados pela parte do acordo que trata de patentes. O país não concorda em pagar royalties pela descoberta de produtos a partir de espécies vivas encontradas em outros países.

Jorge Araújo - 7.jun.92/Folhapress
Passeata realizada durante a Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), em Copacabana.
A "Caminhada Mundial" em Copacabana (RJ) se tornou um ato de protesto contra o presidente dos EUA, George Bush. Os participantes levaram cartazes contra a negativa de Bush em assinar os principais tratados da Eco-92


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MUNDO

A República da Tchecoslováquia rachou, eleitoral e ideologicamente, em consequência do pleito legislativo realizado nos últimos dias 5 e 6. Isso indica a perspectiva de uma fratura também no plano institucional, com a separação de suas partes constitutivas, a República Tcheca e a Eslováquia.

Na parte tcheca, ganhou o ultraliberalismo do ministro das Finanças, Václav Klaus, partidário de se manter a federação tal como está. Mas, no pedaço eslovaco, o vitorioso foi o estatizante Vladimir Meciar, que defende a independência de sua região.

O resultado do plebiscito criou uma situação extremamente complexa, como admitiu o presidente Václav Havel, da Tchecoslováquia, cuja reeleição, a ser decidida no próximo mês, tornou-se muito complicada. Na Eslováquia, dominavam os nacionalistas e antiliberais, mas, na República Tcheca, a maioria é dos liberais, que querem a manutenção da federação.

O racha eleitoral não foi surpresa: as reformas econômicas implantadas após a queda do comunismo acabaram por concentrar nas terras tchecas (Boêmia e Morávia) quase todos os benefícios, deixando para a Eslováquia o peso dos impostos. 96% dos US$ 800 milhões investidos pelo Ocidente na Tchecoslováquia ficaram para a República Tcheca.

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BRASIL

Vidal Cavalcanti - 2.nov.1988/Folhapress
Paulinho Paiakã, sob a tutela da Funai
O líder caiapó Paulinho Paiakã, acusado de estupro e tortura


Paulinho Paiakã, líder da aldeia caiapó A-Ukre (PA) e militante ambientalista, está sendo acusado de ter estuprado e torturado há uma semana a estudante Sílvia Letícia da Luz Ferreira, 18. O delegado José Barbosa de Sousa, responsável pelo inquérito, pediu a prisão preventiva do suspeito.

No dia em que deu depoimento à polícia, a vítima tinha várias marcas de tortura no rosto e no corpo. Segundo trechos do depoimento dela, revelado pela revista "Veja", a tortura e o estupro ocorreram em uma estrada, próxima à cidade de Redenção (PA).

De acordo com Amaury Azevedo, assessor jurídico da Funai (Fundação Nacional do Índio), o líder indígena e sua mulher Irekrã, também acusada de participar do crime, estão "em um local seguro, sob custódia da Funai".

Segundo a revista "Veja", o estupro ocorreu após um churrasco no sítio de Paiakã, quando ele ofereceu a Sílvia uma carona. Ele teria parado o carro e, com a ajuda de Irekrã, violentado e torturado a estudante.

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CULTURA

Das cinco atrações programadas pelo projeto "Cargo-92", duas já mostraram aos cariocas que os franceses trouxeram muita diversão à Eco-92. O balé "Triton", do grupo Royal de Luxe, lotou as quatro arquibancadas e toda a área livre ao redor dos Arcos da Lapa, nas noites de sexta e sábado, e o circense desfile do grupo teatral francês atraiu mais espectadores à avenida Presidente Vargas, na tarde de sábado, do que as últimas paradas do 7 de Setembro.

Quinta e sexta desta semana, "Triton" chega ao Municipal de São Paulo. Royal de Luxe apresenta-se no Anhangabaú no domingo e na segunda. Mais que uma performance coreográfica, o espetáculo proporcionado pela companhia de Philippe Decouflé foi um show de dança, acrobacia, patinação e mágica. Consagrada no Festival de Avignon de 1990, a trupe do coreógrafo mais badalado da França no momento é pequena, não chegando a 12 artistas, e faz tudo em cena. Suas influências mais evidentes são os jograis e saltimbancos da Idade Média.

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ESPORTE

Duas coisas ficaram bem claras na importante vitória do Bragantino por 2 a 1 sobre o Corinthians, no Morumbi. O esquema da equipe do interior é muito eficaz, mesmo com desvantagem no placar ou torcida contra, e levará o time a lutar por uma vaga na final do Brasileirão. E o elenco do Corinthians dá poucas opções diante de um adversário melhor organizado.

O único mérito do time do alvinegro do Parque São Jorge foi ter conseguido um gol na única fase da partida em que teve espaço para jogar, a primeira meia hora do primeiro tempo. Nela, Neto cobrou uma falta no travessão aos 7min. Viola, Jairo e Luciano se atrapalharam ao tentarem cabecear ao mesmo tempo uma bola na pequena área, aos 10min.

Aos 26min do primeiro tempo, Viola iludiu os mais de 30 mil corintianos que foram ao Morumbi. Após Neto centrar, o goleiro Marcelo saiu mal, e Viola, com habitual oportunismo, empurrou para o gol. A partir daí acabou o jogo para os 11 da capital.

Quando o Bragantino deu conta da realidade, decidiu vencer a partida. Aos 22min do segundo tempo, Gil Baiano confirmou porque era o temor do técnico Basílio, do Corinthians. Ele colocou a bola na cabeça de Donizete, que empatou. E, aos 38min, Mauricinho chutou para Marco Aurélio, que definiu a vitória da Linguiça Mecânica, como é conhecido o Bragantino.

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FRASE

"Os romanos diziam que era preciso dar ao povo pão e circo. Esse governo só está dando circo"

PAULO MALUF
provável candidato do PSB (Partido Socialista Brasileiro) à Prefeitura de São Paulo, sobre o caso PC, para a Folha

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O chefe indígena e ex-deputado federal Mário Juruna causou constrangimento no Fórum Global da Eco-92 ao exibir para venda uma pele de onça pintada, a poucos metros do estande do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Os funcionários do órgão de proteção à fauna pediram ajuda a uma conhecida de Juruna, a ambientalista Fernanda Colagrossi. Depois de reclamar, Juruna levou a pele de onça embora.

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