Político corrupto pode ser um psicopata. Será que você identifica algum?
Psicopatas ou sociopatas têm como característica a falta de empatia com as vítimas, insensibilidade, a falta de remorso e a frieza para agir. Mas nem sempre eles se personificam como um assassino cruel, como se fossem um Coringa ou Hannibal. Ao contrário, eles podem ser "gente como a gente" e estar no seu trabalho, na sua vizinhança, no seu círculo social e até ter conseguido o seu voto nas eleições.
Os estudiosos chamam de "psicopatas de colarinho branco", os psicopatas que têm atitudes destrutivas, mas não letais. "Há um mito nessa associação ao serial killer. Os seriados e os filmes criaram a caricatura do psicopata violento. Existem psicopatas que são pessoas destrutivas de forma indireta, desorganizam os ambientes, constroem prédios com material de baixa qualidade e até fazem investimentos de alto risco, por exemplo. Podem ser empresários, políticos corruptos ou indivíduos comuns", diz o médico Antonio de Pádua Serafim, coordenador do núcleo forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No mundo corporativo também pode haver psicopatas. Ele pode ser um chefe cruel e insensível, disposto a caluniar e fazer intrigas para tirar qualquer um do seu caminho, segundo o psiquiatra Sergio Hototian, do Hospital Sírio-Libanês. "Esses indivíduos percebem como as pessoas a sua volta funcionam. Aprendem as características pessoais e as utilizam para destruir o que estiver atrapalhando seus objetivos. Ele percebe as tristezas e fragilidades, diz o que o outro quer ouvir, presenteia e manipula para conseguir o que quer."
Estima-se que de 1% a 3% da população mundial seja psicopata.
Os psicopatas sofrem do que alguns médicos chamam de "sensibilidade ao tédio", precisam de estímulos constantes e da sensação de experimentar coisas novas. Essa necessidade unida a falta de empatia faz o comportamento parecer "normal" à primeira vista. "Às vezes parece que o psicopata está ligado a outra pessoa, mas ele tem um egocentrismo patológico, todas as ligações pessoais e as familiares são para benefício próprio. Essas pessoas não sentem remorso e culpam os outros pela sua atitude. É comum ouvir justificativas como: 'eu o agredi porque ele me provocou'", diz Serafim.
A psicopatia e a sociopatia são vistas pelos especialistas como sinônimos que representam a mesma condição mental chamada transtorno de personalidade antissocial ou dissocial. Mas para Hototian psicopatia não é doença. "É algo intratável. É um traço de personalidade que faz o indivíduo tentar destruir o outro social ou profissionalmente por prazer. Já o antissocial (sociopata) sofre de uma doença tratável. O que ele tem são limitações de comportamento que embora o levem a prejudicar os outros também o prejudicam e podem causar depressão, angustia e dependência química."
O diagnóstico destas condições é bastante complexo e é feito a partir da história do indivíduo, incluindo comportamentos da infância, da observação de como se apresenta, pensa, interpreta e se relaciona atualmente com os outros. Assim características como irritabilidade, impulsividade, falta de remorso e irresponsabilidade podem ser separadas de mudanças de humor corriqueiras. Os médicos também utilizam questionários padronizados que visam traçar as características de personalidade mais marcantes de cada um.
Entenda a psicopatia
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Imagem: Stephen Vaughan/ Warner Bros. Pictures/AP Imagem: Stephen Vaughan/ Warner Bros. Pictures/AP Psicopatas não têm emoções?
Os psicopatas têm emoções. A diferença é que não há empatia. O interesse que eles têm nos sentimentos alheios é apenas para ter proveito próprio. Também não existe resposta fisiológica aos sentimentos. As emoções provocam reações como vermelhidão no rosto, palidez e tremores. Os psicopatas não têm esse tipo de reação, embora o cérebro ative as emoções que o corpo não demonstra. Isso é o que conhecemos como frieza emocional.
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Imagem: Dexter Morgan (Michael C. Hall) na série "Dexter" Imagem: Dexter Morgan (Michael C. Hall) na série "Dexter" O psicopata tem sempre o mesmo comportamento?
Não exatamente. Existe uma variedade na forma de demonstrar a psicopatia. Alguns são mais violentos, outros mais silenciosos e metódicos.
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Imagem: Reprodução Imagem: Reprodução Nasce psicopata ou torna-se psicopata?
Essa é uma pergunta que ainda está em estudo na ciência. Os especialistas encontraram indivíduos que demonstram características de psicopatia ainda crianças e outros onde o diagnóstico só foi perceptível na vida adulta.
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Imagem: Divulgação/TV Globo Imagem: Divulgação/TV Globo Psicopatia não tem cura?
O psicopata não possui empatia, que é uma condição adquirida ao logo da vida. Não existe um remédio que possa evitar ou interromper isso.
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Imagem: Divulgação Imagem: Divulgação Por que vilões do cinema ganham a simpatia do público?
Segundo os especialistas, a capacidade que essas personagens têm de agir com cautela e frieza para conquistarem seus objetivos é admirada pelo público. "Esses personagens possuem algo em comum: uma justificativa para cometerem seus atos condenáveis. Isso contribui em certo grau para que o espectador tenha menor desejo de punição e maior vontade de justiça com eles", afirma Ricardo Jonathan Feldman, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein. Para Serafim os vilões também despertam curiosidades internas nos fãs. "Aquela conduta leva as pessoas a se questionarem. Será que eu sou capaz disso? Será que todo mundo é capaz disso? Será que eu tenho esse potencial destrutivo também? Ele faz o espectador pensar até onde o comportamento humano pode chegar."