Moto velha pode encarar longas viagens: manutenção é a chave
Muitos motociclistas sonham com longas aventuras vislumbrando a possibilidade de conhecer várias partes do Brasil e até de outros países. Por vezes, porém, o sonho é adiado: muitos acham que a moto atual não dará conta da aventura e com isso tentam guardar dinheiro para comprar uma zero-quilômetro.
Há medo de encarar a estrada com uma motocicleta "de idade avançada" e/ou com alta quilometragem. Mas essa é uma visão equivocada. A chave para que tudo funcione com sua moto é manutenção.
Para exemplificar, apresento três histórias de longevidade sobre duas rodas, com dicas de manutenção correta passadas pelos aventureiros.
"A confiabilidade de um veículo depende de sua manutenção e não ano de fabricação ou quilometragem", afirma o produtor rural Marcelo Gubert, dono de uma Honda Tornado 2007, que já percorreu 250 mil quilômetros com sua moto.
Cuidados extremos com a "velhinha"
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Nicole, 31 anos
A Honda ML 1985 é figura conhecida nos encontros de moto no Brasil e também na América do Sul. Tem até nome: Nicole. O dono é Tiago Rocha Westphalen, 71 anos, conhecido como Profeta. Era zero-quilômetro quando foi comprada por Profeta, mas em 31 anos percorreu exatos 655.000 km. Sua manutenção teve atenção especial: com 558.000 km teve a parte inferior do motor aberta pela primeira vez. Troca de engrenagem da segunda marcha, virabrequim, biela, todos os rolamentos, eixo do pinhão, disco de embreagem, bomba de óleo, eixo de comando válvulas, pistão, cilindro, anéis -- tudo foi (re)feito por R$ 3.100, sempre com peças originais. "Através dela conheci muitos países, muitas pessoas e fiz amigos, então o mínimo que posso fazer é tratar a Nicole com carinho e respeito", afirma Profeta.
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Alemã clássica rodou 300.000 km
O engenheiro Eduardo Ralisch confia em sua BMW R 100 GS, ano 1991, para viagens internacionais. A bigtrail alemã acumula 25 anos e 300.000 km rodados. O percurso mais recente foi ao Uruguai, com mais 3.000 km para o hodômetro. Para o engenheiro, viajar com moto antiga exige dedicação e cuidado extremo com a troca de óleo, filtros e outros fluidos. Além da lubrificação de componentes, a substituição de peças usando sempre originais é fundamental. Serviços mais pesados são feitos sempre com mecânicos experientes, que conheçam o modelo. Com isso, até algum problema mecânico que surja na estrada pode ser resolvido mais facilmente.
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Sozinho rumo ao Alasca
Acostumado a longas viagens, Marcelo Gubert rodou mais de 33.000 km entre Medianeira (PR) e o Alasca (EUA), em 2011, sobre uma Honda Tornado, que já acumulava mais de 100.000 km. Foram 53 dias percorridos ao ritmo de 90 km/h, sem qualquer problema mecânico. Antes do desafio, desmontou totalmente a motocicleta e partiu para a limpeza e lubrificação de todos os componentes móveis, caso de rolamentos e links de suspensão. A limpeza foi feita com querosene ou gasolina, depois jato de ar comprimido e, por fim, aplicação de graxa ou óleo fino de acordo com o caso. Dutos de cabos de comando (acelerador ou embreagem) também foram lubrificados e os cabos, substituídos. Gubert ainda fez questão de eliminar os resíduos de combustível não queimado do motor (carbonização) usando uma escova de latão. Pastilhas e válvulas foram limpas com pasta abrasiva. Tudo foi medido: corrente de comando, rolamentos e retentores do pinhão e eixo do câmbio foram substituídos preventivamente. Durante a viagem, nível de óleo foi verificado diariamente, com troca de óleo e filtro de óleo feita a cada 4.000 ou 6.000 quilômetros rodados. "Trocar o óleo e rodar com o filtro velho é o mesmo que tomar banho e não trocar a cueca", comparou Gubert. O filtro de ar, fundamental para o bom funcionamento do motor, foi limpo a cada dois dias sempre que o trecho incluiu estradas de terra -- em rodovias, a troca foi feira a cada semana.