Entenda por que a boneca Momo voltou a aterrorizar crianças e pais
Você se lembra da boneca Momo? Em 2018, ela aterrorizou crianças e assustou pais com desafios que exigiam que os menores de idade se machucassem ou ferissem amigos e familiares. Aparentemente, Momo está de volta, agora de uma maneira diferente, deixando muitos pais preocupados com o conteúdo em vídeo que os filhos estão consumindo na internet.
Saiba mais sobre a personagem e os perigos que ela representa.
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Como Momo viralizou
Um vídeo inocente de conteúdo infantil que abruptamente se torna um filme de terror protagonizado por uma boneca de olhos esbugalhados, pele pálida e sorriso sinistro que incentiva as crianças a se automutilarem e se suicidarem: essa é a nova forma de exibição da boneca Momo. Segundo relatos de pais nas redes sociais, a personagem voltou a aterrorizar crianças na internet, aparecendo aleatoriamente em vídeos de conteúdo infantil. A lenda virtual da boneca Momo surgiu em 2018, mas a ação ocorria via WhatsApp. Na época, por meio de grupos no Facebook e outros fóruns virtuais, crianças e adolescentes adicionavam no WhatsApp contatos de pessoas que usavam a foto da boneca e que, durante a conversa, incentivavam a criança a realizar desafios perigosos, que frequentemente envolviam se machucar ou machucar alguém.
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Vídeos aleatórios
Momo voltou aos holofotes após o relato de uma mãe em entrevista à revista Crescer. Juliana Tedeschi Hodar, 41, de Campinas (SP), disse que recebeu um alerta sobre os vídeos da boneca Momo via Whatsapp e resolveu conversar com a filha, Bianca, de 8 anos. Juliana e o marido se assustaram ao descobrir que a menina já havia assistido a vídeos em que a boneca aparecia e que a filha estava em pânico com as imagens de terror. A mãe disse que a menina chorou copiosamente e que, por alguns minutos, nem conseguiu falar. Quando acalmaram a filha, os pais descobriram que ela viu a boneca no meio de vídeos de crianças brincando com slime, uma massa viscosa que a garotada pode fazer artesanalmente em casa. Ou seja, é um vídeo aparentemente comum, mas, no meio da produção, Momo aparece e assusta os pequenos espectadores.
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Nova estratégia
Essa parece ser mesmo nova "estratégia" daqueles que espalham conteúdo com a boneca Momo. Um vídeo que estava disponível na plataforma Youtube Kids (app desenvolvido pelo Youtube para filtrar somente conteúdo infantil publicado na rede), segundo relatos de pais no fórum Reddit, mostra uma criança cantando a canção "Baby Shark". Em determinado momento, a produção é interrompida e a boneca Momo surge no cenário de uma floresta sombria. Em espanhol, ela diz para a criança ir até a "cozinha da mamãe", pegar uma faca e "passar nos pulsos". Após a mensagem de Momo, a canção "Baby Shark" volta a tocar. O vídeo original, sem a mensagem de Momo, é uma produção do canal Pinkfong! Kid's Songs & Stories; no Youtube, o canal precisou desativar os comentários no vídeo original, que já recebeu mais de 2 milhões de deslikes.
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Preocupação dos pais
A maior preocupação e crítica dos pais é ao algoritmo que filtra conteúdo adulto, abusivo ou impróprio na plataforma Youtube Kids. De acordo com a rede, essa ferramenta "escaneia" o vídeo completo a procura de qualquer conteúdo não recomendado para crianças. A pergunta que muitos fazem é: se trechos de vídeo com uma boneca assustadora estimulando o suicídio e, às vezes, ensinando passo a passo como fazê-lo é aprovado pela plataforma, o que mais pode "furar" o filtro do Youtube?
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Posição oficial do Youtube
Em resposta à revista Crescer, o Youtube redigiu o seguinte comentário, negando que exista conteúdo envolvendo a boneca Momo em sua plataforma: "Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente. Também oferecemos a todos os usuários formas de denunciar conteúdo, tanto no YouTube Kids como no YouTube. O uso da plataforma por menores de 13 anos deve sempre ser feito pelo YouTube Kids".
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Como funciona
O conteúdo dos vídeos em que a Momo aparece é diverso, já que essas produções podem ser feitas por qualquer pessoa, que fazem o download de vídeos comuns e inserem imagens de Momo no meio deles. Em geral, a boneca surge na tela desafiando a criança a se automutilar ou a ferir algum parente, além de fazer ameaças: caso não siga as instruções, avisa Momo, à noite a família pode morrer ou a própria boneca vai surgir no quarto da criança para aterrorizá-la. A voz de Momo geralmente intimida as crianças, dizendo que, se elas avisarem algum adulto antes de seguir as instruções, a punição será aplicada imediatamente.
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De onde vem a Momo?
A aparência de Momo é provavelmente o que mais causa terror e espanto nas crianças, mas a origem da boneca nada tem a ver com correntes assustadoras. Originalmente, Momo é uma escultura chamada "Guai Bird", do artista Keisuke Aisawa, e representa uma mulher-pássaro. Ela foi exposta em 2016, em Tóquio, no Japão. O Guai Bird é um monstro tradicional da cultura oriental, normalmente associado a uma lenda de uma mulher que morreu durante a gravidez. Em algumas versões do mito, ela sequestra crianças, já que não pôde parir seu próprio filho. Leia mais
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Criador sente culpa
Em entrevista ao jornal britânico The Sun, o criador da escultura disse que ainda se sente um pouco responsável por sua arte ter assustado crianças. "Nunca foi feita para ser usada para fazer as crianças se machucarem ou causarem algum dano físico", declarou. Para tentar acabar com a lenda urbana, Aisawa revelou que havia destruído a boneca: "As crianças podem ter certeza de que Momo está morta. Não existe mais, nunca foi feita para durar. Estava podre e joguei fora. Ela não existe e a maldição se foi". Leia mais
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Supostos casos fatais
Em 2018, quando os "desafios da Momo" viralizaram via WhatsApp, alguns casos de pessoas se passando por Momo foram relatados no Brasil, embora tenham sido mais frequentes no Japão, na Colômbia e no México. E as consequências são trágicas. Em agosto de 2018, um menino de 9 anos morreu enforcado no quintal de casa, em Recife (PE). Segundo investigações da Polícia Civil, uma das causas pode ter sido o desafio da Momo. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, dias antes da morte do menino, a mãe dele disse que o garoto havia mostrado imagens da boneca e comentado sobre como ela era feia e assustadora. Outros casos foram noticiados mundo afora. Na cidade de Rennes, na França, por exemplo, um garoto de 14 anos se enforcou em casa; em entrevista à agência AFP, o pai do menino disse que ele já havia se automutilado por causa do desafio da Momo anteriormente. Leia mais
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Dicas para os pais
Navegar na internet oferece riscos em todas as idades, mas as crianças são particularmente vulneráveis. Em entrevista ao UOL diante da tensão causada em 2018 pela Momo, a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria (Ipq) da USP, deu algumas dicas de como os pais podem acompanhar o conteúdo que os filhos acessam no mundo virtual. A primeira é limitar o uso de celulares, tablets e computadores: "Tem que oferecer outras opções para a criança se divertir". Evitar que a criança navegue na internet sem um adulto por perto também é um conselho válido, sobretudo se os responsáveis perceberem que a criança se afasta ao começar a usar aparelhos tecnológicos, como se quisesse esconder algo. Outro conselho importante é acompanhar os contatos com quem os filhos estão conversando e alertar sobre a existência de pessoas mal-intencionadas. Leia mais
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Evitar castigos pode ser útil
Nem todo deslize deve ser tratado com broncas, brigas e castigos. De acordo com a psicóloga, como as crianças são comumente conduzidas pela curiosidade, sobretudo em assuntos "proibidos", às vezes acabam acessando conteúdo adulto ou violento. Ao comentar o relato de uma mãe que colocou a filha de castigo ao flagrá-la assistindo a um vídeo de pessoas nuas dançando, Dora Sampaio comentou: "É preciso fazer da situação uma oportunidade para orientar e ajudá-la a escolher as plataformas que ela utiliza", ressaltando que o castigo pode ser dispensado, já que "a criança não tem culpa se foi deixada sozinha navegando por uma plataforma que a colocou em uma posição vulnerável". Esse cuidado, segundo a especialista, ajuda a criar um ambiente em que a criança se sinta segura para compartilhar suas descobertas virtuais com os pais, em vez de escondê-las por medo de castigos. Leia mais