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Do incêndio de Roma ao "bug" do milênio: as piores decisões da história

Titanic partir com poucos botes foi uma decisão estúpida do dono do navio - Reprodução / Ecoviagem
Titanic partir com poucos botes foi uma decisão estúpida do dono do navio Imagem: Reprodução / Ecoviagem

18/02/2019 21h47

Como diz o escritor Stephen Weir, "a história está repleta de erros memoráveis". Em seu livro "As Piores Decisões da História", publicado no Brasil pela editora Sextante, o autor elenca dezenas de erros que resultaram em morte, destruição e perdas irreparáveis. Às vezes os erros podem ser causados por ingenuidade e com as melhores das intenções, como o imperador Montezuma, que acolheu de forma hospitaleira Hernán Cortés, acreditando que o conquistador espanhol fosse um deus que chegou pelo mar ao Golfo México.

Em outros casos, a ganância de um único homem pode colocar em perigo a vida de milhões. Nero incendiando Roma para fazer um "empreendimento imobiliário" é um bom exemplo disso. Milhões de pessoas se unindo em uma espécie de "burrice coletiva" também pode resultar em grandes perdas (isso aconteceu com o "bug do milênio"). Confira a seguir algumas das decisões mais estúpidas da história, quem as causou e quais foram as consequências drásticas. 

  • Reprodução / pintura de Alphonse Mucha, 1887

    Nero e o incêndio de Roma

    Imperador que governou Roma de 54 a 68 d.C. conhecido pela crueldade e temperamento paranoico, Nero é tido como o maior suspeito de ter incendiado a capital do Império Romano. A história é famosa: apaixonado por arquitetura grega, Nero ordenou o incêndio da cidade com o intuito de reurbanizar o local, construindo sobretudo um novo e enorme palácio para si, a "Casa Dourada" (Domos Aurea). Enquanto Roma ardia em chamas, o imperador tocava lira alegremente em um ponto seguro (esse registro consta em obras de historiadores clássicos da época, como Tácito e Dião Cássio).

    Explicações alternativas indicam que grupos de cristãos insatisfeitos com o império é que incendiaram a cidade, mas não há motivos para duvidar de que foi mesmo o sanguinário Nero (o homem que mandou matar a própria mãe, Agripina, quando esta passou a favorecer mais seu irmão adotivo, Tibério Cláudio César Britânico). Seu projeto de construção de novos palácios e vilas havia sido "barrado" no Senado, e o incêndio aconteceu "coincidentemente" apenas alguns dias depois.

    Fato é que o desastre foi gigantesco. Dois terços da cidade viraram cinzas e muitas pessoas morreram. Em seguida, Nero começou uma arrecadação de grandes somas para a reconstrução de Roma. O problema é que os danos foram tão grandes que a população, não conseguindo arcar com as taxas extorsivas da reconstrução, se rebelou contra o grande líder. Revoltas por todo o império e complôs para seu assassinato selaram o destino de Nero, que se suicidou após dizer as seguintes palavras: "Que artista o mundo está perdendo!".

  • Reprodução / Fine Art America

    A fé destruiu a civilização asteca

    O imperador Montezuma II, que viveu de 1466 a 1520 no que hoje é chamado de Golfo do México, é o principal responsável pelo fim da civilização asteca. O motivo? O imperador, movido pela fé, confundiu o conquistador e saqueador espanhol Hernán Cortés com o deus Quetzalcóatl, a mais importante divindade do panteão mesoamericano. De acordo com a lenda asteca, a divindade tomaria forma humana e chegaria pelo mar.

    Os mexicas, como eram conhecidos os povos da região, eram muito ricos no que diz respeito ao ouro, que "brotava da terra", mas a comunidade fechada não havia feito avanços tecnológicos: não conheciam a roda, a pólvora ou a navegação. Esse cenário levou ao grande equívoco do ingênuo Montezuma, que recebeu um exército inimigo como se fossem deuses.

    Sedentos por ouro, o grupo de Cortés dominou a cidade, encarcerou Montezuma e guerreou contra uma nova expedição espanhola que foi enviada à cidade para obrigar Cortés a renovar sua lealdade ao rei Carlos V. O resultado foi um banho de sangue em que morreram milhares de mexicas, incluindo toda a nobreza e o próprio Montezuma, e o império foi dizimado.

  • Reprodução / Ecoviagem

    Titanic: botes pra quê?

    A tragédia do Titanic, navio que afundou em 15 de abril de 1912 matando mais de 1.500 pessoas (de um total de 2.200 que estavam na embarcação), é uma das mais famosas da história. De todos os erros que possam ter levado ao desastre, como possíveis falhas no projeto e um erro no percurso escolhido, nada mais salta aos olhos como a simples decisão de não colocarem botes salva-vidas suficientes para todos os passageiros.

    A terrível decisão, que certamente impediu que muitas pessoas se salvassem, foi um misto de ganância e prepotência de Joseph Bruce Ismay, presidente da White Star Line, fabricante do navio transatlântico. O homem ordenou que o navio partisse com apenas 20 botes, ao invés dos 48, a capacidade total do Titanic para este fim. Ismay acreditava que um maior número de botes ocuparia muito espaço nos deques, e concluiu que o conforto dos passageiros era mais importante. Além disso, Ismay sempre bradava que o Titanic era "inafundável", fazendo disso um material de propaganda.

    No entanto, Ismay, que estava na viagem, foi um dos primeiros a fugir em um bote quando o navio começou a afundar. Ele viveu por mais 25 anos, carregando toda a culpa pela tragédia em que centenas de pessoas morreram de hipotermia nas águas geladas do Atlântico e devoradas por tubarões (estima-se que 800 corpos foram atacados).

  • AP

    Estopim de uma guerra

    Dois anos após o naufrágio do Titanic, foi a vez do anarquista sérvio Gavrilo Princip abalar o mundo: foi ele quem matou a tiros Francisco Ferdinando, o arquiduque do Império Austro-Húngaro, no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, na Bósnia. O evento desencadeou nada mais, nada menos, do que a Primeira Guerra Mundial!

    Princip fazia parte de um grupo nacionalista que queria a independência da Bósnia, país que era uma "satélite" do Império Austro-Húngaro na época. O assassinato do arquiduque representaria, na opinião dos nacionalistas, o fim do Império de Habsburgo, como era chamado. No entanto, o incidente serviu de pretexto para a Alemanha invadir a Sérvia.

  • EFE

    A epidemia da Aids

    Como o vírus da Aids foi inoculado na espécie humana é um tema controverso e envolto em teorias da conspiração, mas uma das hipóteses prováveis, se confirmada, entraria para o rol das piores decisões da história. Originário da África como uma variante do vírus SIV (de símios), acredita-se que o vírus HIV teria contaminado humanos que comiam a carne de chimpanzés. No entanto, isso não explicaria o contágio em proporções pandêmicas, que na verdade pode ter sido causado por erros cometidos durante a vacinação em massa contra a poliomelite na África.

    Nos anos 1950, cerca de 1 milhão de pessoas foram vacinadas na região do antigo Congo Belga (hoje Congo, Ruanda e Burundi). Dez anos depois, foi ali onde surgiu a primeira grande incidência da Aids. Cerca de 76% dos primeiros casos de Aids em humanos aconteceram na área onde ocorreu essa vacinação em massa.

    Médicos das Nações Unidas responsáveis pela produção das vacinas recorriam a macacos (incluindo chimpanzés) para fazer testes com culturas de tecidos, o que teria levado à contaminação das vacinas com o vírus da imunodeficiência. Apesar de cientistas negarem essa versão - sobretudo por que a vacina da polio é administrada via oral, e não injetada -, as suspeitas persistem.

  • Reprodução / El Periodico dela Energia

    Acidente de Chernobyl

    Desastre nuclear mais famoso da história, o acidente na usina de Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986, foi causado por má administração em testes de segurança. A explosão atômica, cerca de 100 vezes mais forte que a da bomba de Hiroshima, lançada sobre o Japão, na Segunda Guerra, matou mais de 30 pessoas imediatamente. No entanto, os efeitos posteriores da radiação são incalculáveis.

    Tudo aconteceu porque um reator fora submetido a um teste durante a troca de turnos de operadores, e os técnicos que assumiram a missão não souberam ler corretamente os indicadores de perigo, nem sabiam como contornar possíveis problemas. Por fim, quando um surto de energia ocorreu, já era tarde demais para evitar a catástrofe, e o reator explodiu. Alta incidência de defeitos congênitos em recém-nascidos na região, além de uma taxa de câncer de tiroide que praticamente dobrou após o acidente, são alguns dos problemas deixados pelo legado de Chernobyl.

  • Divulgação / Duncan Soar

    Como falir uma empresa bilionária

    Já imaginou você fundar uma empresa bilionária e de repente botar tudo a perder por causa de uma piada infeliz? Foi isso o que fez Gerald Ratner, dono da rede de joalherias Ratners, ao ridicularizar seu próprio produto.

    Tudo aconteceu após uma conferência, em 1991. Indagado sobre como conseguia vender uma garrafa de vidro por menos de 10 dólares, o empresário, num "ataque de sinceridade", disse que só conseguia vender por esse preço porque o produto era uma "grande porcaria". De quebra, o empresário também disse que um sanduíche de camarão durava mais que os brincos de 1 libra da empresa.

    O impacto negativo da piada foi imediato. Ratner virou notícia de capa de vários jornais, e ninguém com o mínimo de dignidade voltou a presentear uma pessoa amada com uma joia Ratner. Em poucos dias, o valor de mercado da empresa caiu mais de 1 bilhão de dólares. Ratner foi demitido pelo conselho da empresa e perdeu toda sua fortuna. Atualmente, ele é dono de uma nova joalheria, mas faz vendas online.

  • Reprodução / Ducan Salic

    O "bug do milênio"

    Se você nasceu antes dos anos 2000, provavelmente ouviu falar do "bug do milênio". A teoria dizia que a virada do ano, de 1999 para 2000, causaria uma falha tecnológica que resultaria no colapso de todos os computadores do mundo, fazendo com que aviões caíssem dos céus, elevadores despencassem e contas bancárias fossem deletadas automaticamente. Um inferno na Terra, em suma!

    Essa possibilidade não só resultou em pânico em massa, como fez com que bilhões de dólares fossem desperdiçados, investidos para tentar evitar esse possível colapso, que nunca aconteceu. Os grandes culpados por tudo isso? Especialistas em informática, a grande mídia que não parava de falar sobre o tema e empresas que se esforçavam para mostrar que estavam fazendo de tudo para evitar esses possíveis problemas.

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