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Dicas para ter sucesso na amamentação do bebê

O leite materno é capaz de passar anticorpos da mãe para o bebê Imagem: iStock

Do BOL, em São Paulo

31/07/2018 22h40

A ONU (Organização das Nações Unidas) revelou, em relatório de 2017, que, se todos os bebês fossem amamentados nos primeiros dois anos de vida, seria possível salvar anualmente a vida de 820 mil crianças menores de cinco anos. Porém, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil só oferece o chamado "alimento padrão ouro" a 39% dos bebês de até cinco meses de idade.

Mesmo as mães convencidas dos benefícios do leite materno muitas vezes não conseguem levar a amamentação adiante por uma série de fatores. Na Semana Mundial de Aleitamento Materno, de 1 a 8 de agosto de 2018, o BOL conversou com a médica de família Thaís Machado Dias, do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde de São Paulo, e com Maíra Domingues, enfermeira pediátrica do Banco de Leite Humano do IFF (Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira), da Fiocruz, que deram dicas para que as mães alcancem o sucesso na amamentação.

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  • Imagem: Getty Images/iStockphoto
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    Alimento padrão ouro

    O leite materno é considerado o melhor alimento para o bebê, e a amamentação é o meio de passar anticorpos da mãe à criança. O alimento reduz riscos de muitas doenças e, consequentemente, da mortalidade infantil: "A criança fica menos exposta a doenças infecciosas, respiratórias, além ficar mais protegida até a fase adulta", explica a enfermeira pediátrica Maíra Domingues. Além da questão imunológica, as especialistas explicam que o leite materno é de grande importância nutricional e social: "É um alimento gratuito e, no Brasil, um fator de igualdade entre todas as classes sociais", afirma a médica de família Thaís Machado Dias

  • Imagem: Getty Images
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    Instinto x Prática

    Segundo a médica de família Thaís Machado Dias, a amamentação é um ato instintivo para o humano, assim como para outros mamíferos, mas isso não significa que seja fácil amamentar ou que dependa somente de vontade. "É preciso lembrar que somos animais e que uma mulher, mesmo que não tenha informações sobre a prática da amamentação, é capaz de alimentar seu filho", diz. Porém ela lembra que o humano é um ser social, dotado de linguagem, que racionaliza alguns processos: "Nós damos significado às coisas e, assim, nos dedicamos a aprender e praticar o ato de amamentar". A enfermeira Maíra concorda: "É natural biologicamente, mas, sociologicamente, amamentar torna-se condicionado. Neste caso, é importante que a comunidade da saúde oriente a mulher".

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    Existem posição ideal e pega correta?

    As especialistas concordam que não existe apenas uma posição correta para amamentar a criança. "A mulher precisa estar em um ambiente com o menor número de pessoas possível. A posição, em si, deve ser a que a deixe mais confortável, desde que o bebê fique com a cabeça e o corpo alinhados", afirma a enfermeira pediátrica do BLH. Já a pega do peito tem que seguir algumas indicações: "Ofereça o seio ao bebê, deixe que ele pegue toda a ou quase toda a aréola. O queixo precisa estar encostado na mama, o nariz deve estar livre para a respiração e, por fim, as bochechas devem estar arredondadas", completa Maíra Domingues. A médica de família Thaís Machado Dias também lembra que a amamentação não pode fazer barulho: "É preciso que seja silencioso e que os lábios inferiores e superiores estejam evertidos, o que chamamos de boca de peixinho".

  • Imagem: Getty Images
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    Bicos artificiais

    O aleitamento materno tem um grande vilão, de acordo com as duas especialistas. Thaís afirma que os bicos artificiais são a principal causa de desmame precoce dos bebês. Segundo ela, o motivo é bastante simples: "Quando os pais introduzem a mamadeira ou a chupeta, há uma confusão de bicos. Para o bebê tirar o leite do peito, ele faz uma pressão positiva. Já com a mamadeira, a pressão é contrária, negativa. Como eles são muito pequenos para entender, acabam deixando o peito muito cedo". Para evitar o uso dos bicos artificiais, Maíra explica que é preciso ir conhecendo o choro e as necessidades da criança. "Nem sempre o choro é de fome. É importante ir entendendo o neném", diz.

  • Imagem: Getty Images
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    Fórmulas x leite materno

    "Nunca se pode comparar a fórmula ao leite materno", diz a médica de família Thaís Machado Dias, do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde de São Paulo. De acordo com ela, o leite da mãe é o único alimento que passa anticorpos ao bebê, inclusive se modificando de acordo com as necessidades da criança. "Um exemplo disso é o leite de mães que tiveram filhos prematuros. Nele há a incidência maior de beta-endorfina, o que é benéfico para situações de estresse", complementa Maíra Domingues. Quando o assunto é o sono, Thaís alerta: "As crianças que tomam fórmula costumam dormir mais porque o organismo demora mais para digeri-la", mas a fórmula não deveria ser oferecida com esse propósito, já que os bebês acordam por outros motivos também e não há garantia alguma de que a fórmula ajudará a ter mais horas de sono, além de trazer o risco de um desmame precoce. Porém a especialista explica que, em alguns casos, é necessário o uso das fórmulas: "É preciso lembrar que, quando a mãe não consegue amamentar, a fórmula é a melhor forma de alimentar os bebês. Nesse caso, a hora da mamadeira deve ser um momento de nutrição inclusive afetiva".

  • Imagem: Divulgação
    Imagem: Divulgação

    Bebês não desmamam sozinhos

    Há inúmeros fatores que colaboram para o desmame precoce. Além do uso de bicos artificiais, há questões externas, como a separação de mãe e bebê por longas horas quando ela retorna ao trabalho, a introdução precoce de outros líquidos, entre outros. "Nunca será o bebê que desmama sozinho precocemente. A indústria tem grandes ações de estímulo ao uso de fórmulas. Há uma concorrência desleal, pois faltam incentivos ao aleitamento materno. A mulher, dessa forma, acaba sendo pouco apoiada e pouco incentivada a persistir na amamentação. Por isso é tão importante que haja ações como a Semana Mundial de Aleitamento Materno", afirma Thaís Machado Dias.

  • Imagem: Divulgação/Facebook/Tiagofigueiredophotography
    Imagem: Divulgação/Facebook/Tiagofigueiredophotography

    Sem dores e com saúde

    O processo de amamentação não pode ser doloroso para a mulher, segundo Maíra Domingues, enfermeira pediátrica do Banco de Leite Humano: "Se está doendo, há algo errado na amamentação". Para Thaís, a correção da pega, seguindo as dicas do item 3, pode acabar com as dores e rachaduras no seio. Ela também revela que, quando o peito estiver muito cheio, a mãe pode esvaziar um pouco para se sentir mais confortável. "É uma forma de se sentir mais à vontade, sem desconfortos ou dor", diz. A amamentação, ainda segundo as especialistas, ajuda e muito na saúde da mulher. Segundo relatório da ONU, o aumento do aleitamento materno poderia salvar a vida de cerca de 20 mil mulheres a cada ano, inclusive com a redução dos riscos de câncer de mama e ovário.

  • Imagem: Getty Images/iStockphoto
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    Livre demanda

    A OMS (Organização Mundial de Saúde) orienta que os bebês sejam amamentados exclusivamente com o leite materno até os seis meses de vida e de forma complementar até os dois anos ou mais. Defensora da amamentação por livre demanda (sempre que o bebê e a mãe quiserem, sem horários fixos), Thaís Machado Dias explica que, no momento do aleitamento, é importante que a mãe esgote um seio antes de trocar de mama: "O leite que sai no início do processo é de hidratação. Já no final, o leite tem mais gordura, por isso é importante dar um de cada vez", afirma. De acordo com ela, não há uma idade correta para o desmame. "Crianças saudáveis costumam iniciar o desmame por iniciativa própria entre os 2 e 3 anos", explica. Porém a decisão depende de cada mulher e sua vontade deve ser respeitada.

  • Imagem: iStock
    Imagem: iStock

    Mitos da produção de leite

    Uma mulher que passa pelo parto normal costuma, segundo Thaís, ter mais facilidade no início da amamentação: "O corpo é muito sábio. Quando a mulher está em trabalho de parto, ele começa a entender que, em pouco tempo, precisa estar pronto para alimentar o bebê. Mas isso não quer dizer que quem faz cesárea não poderá amamentar. Ela pode tirar essa desvantagem em pouco tempo". Segundo a especialista, a ideia de que o seio murcho não produz leite suficiente também é um mito. "O peito é uma fábrica de leite, não um estoque", afirma a médica de família. Mas, caso a mulher avalie que há pouca produção de leite, ela pode tentar ir para ambientes mais silenciosos na hora de amamentar, sem estresse, buscando sempre a pega correta do seio e tendo a ajuda da família para que ela possa ter o tempo dela com o bebê", diz. Já Maíra afirma que, na maioria das vezes em que há baixa produção de leite, os motivos não são físicos: "Insegurança e questões emocionais são o que costuma afetar a produção do leite. Mas, quando a mulher está bem psicologicamente e tem o apoio necessário, costuma dar tudo certo", completa.

  • Imagem: Paola Saliby/UOL
    Imagem: Paola Saliby/UOL

    Apoio é fundamental

    Apesar de todos os empecilhos para amamentar, há um fator que pode mudar todo o cenário, de acordo com as especialistas: o apoio. Para Thaís Machado Dias, uma mulher que precisa limpar a casa, por exemplo, pode ser prejudicada: "O companheiro ou alguém da família deve assumir algumas responsabilidades para que a mulher possa se dedicar à amamentação de corpo inteiro", diz. Ela lembra que, na dificuldade, também é possível buscar ajuda de profissionais, como consultores de amamentação, inclusive em postos públicos de saúde. "Às vezes, o profissional vai até a casa. No SUS, o índice de aleitamento materno é até maior que na rede privada", revela a médica de família. A enfermeira pediátrica Maíra Domingues lembra que qualquer mulher pode buscar ajuda e informação nos bancos de leite do país. "São 220 postos em todo o Brasil. O sucesso da amamentação não depende da mulher, depende de todos", finaliza.

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