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Técnico rival do Fla combateu na Guerra das Malvinas: 'sorte de voltar'

Omar De Felippe, técnico de futebol - Hernan Cortez/Getty Images
Omar De Felippe, técnico de futebol Imagem: Hernan Cortez/Getty Images
do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

09/04/2025 10h59

Omar de Felippe tem longa carreira no futebol como treinador e jogador, mas há um doloroso parênteses em sua vida. Ele ficou um período afastado dos gramados para ser combatente na Guerra das Malvinas.

Ele desembarcou no Brasil como treinador do Central Córdoba, time campeão da Copa da Argentina no ano passado e rival do Flamengo nesta noite, pela fase de grupos da Libertadores.

Assim que voltei, mencionei um soldado no rádio, que vi morrer bem ao meu lado, em um bombardeio. Estávamos no mesmo batalhão. (...) No dia seguinte, durante o treinamento do Huracán, Loco Candedo me disse: "Gurka... um garoto está te procurando." Era o irmão do soldado. Lembro que ele era carteiro. Ele me disse que ninguém havia dito nada a eles. 'Minha mãe ainda está esperando por ele', ele disse, e eu teria cortado minha língua... Ele me implorou para contar como seu irmãozinho havia morrido. Eu disse a ele. E fiquei em silêncio até hoje Omar, em relato ao El Gráfico, no ano passado

O futebol e a guerra

Omar nasceu em abril de 1962 e sempre sonhou em se tornar jogador de futebol. Ele fazia as categorias de base no Huracán quando teve de cumprir o serviço militar obrigatório, em 1981. Ele foi liberado ao fim daquele ano, mas, em abril de 82, o então ditador argentino Leopoldo Galtieri ordenou a ocupação das Ilhas Malvinas, que ficam a 464 km da costa do país e estavam sob posse da Grã-Bretanha desde 1833.

Era tudo muito estranho. Às vezes, você sentia como se estivesse assistindo a um filme. Outras vezes, você dizia a si mesmo: "O que diabos estou fazendo aqui?" Omar, em relato ao El Gráfico

Omar De Felippe (à esquerda) posa com arma no ombro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Omar De Felippe (à esquerda) posa com arma no ombro
Imagem: Arquivo pessoal

Mesmo em meio ao conflito, Omar conta que não deixou o desejo de jogar futebol de lado.

No começo, algumas crianças se machucavam de propósito para voltar para casa. Quando estavam limpando suas armas, atiravam no próprio pé... Você dizia que tinha escapado e voltava. Quando muitos começaram a fazer isso, os chefes ficaram espertos e disseram: 'de agora em diante, não importa o quão machucados eles estejam, eles continuam'. Eu, é claro, nunca teria feito isso. Eu estava motivado a jogar pelo Huracán novamente, não teria machucado meu pé, nem se eu fosse louco. Meu medo era perder um membro e não poder continuar jogando Omar, ao El Gráfico

O conflito terminou em junho de 1982, após negociações de paz na Organização das Nações Unidas (ONU). Sem acordo, o Reino Unido recuperou o território. Em 75 dias de guerra, morreram 649 soldados argentinos, 255 britânicos e três civis.

O retorno

Omar de Felippe realizou o desejo, voltou a jogar pelo Huracán e estreou no profissional em 1983. Posteriormente, defendeu ainda clubes como Once Caldas e Arsenal de Sarandí, dentre outros.

Tive a sorte de voltar inteiro e sentir o apoio da minha família e do meu clube. Tínhamos muito medo porque não sabíamos como seríamos recebidos quando voltássemos, mas as pessoas nos apoiaram. À época, também fiz terapia e participei de grupos de ex-combatentes. Era necessário.

Anos após pendurar as chuteiras, iniciou a trajetória como treinador. A primeira oportunidade foi em 2009, no Olimpo, último clube em que passou ainda como jogador.

Depois, passou por Quilmes, Independiente, Emelec, Vélez Sarsfield, Newell's Old Boys e Atlético Tucumán. Chegou ao modesto Central Córdoba em 2023 e, no ano passado, conquistou a Copa da Argentina, garantindo vaga na atual edição da Libertadores.

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