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Relação do Fla com Venezuela tem acolhimento a refugiados indígenas no Pará

Greyver Moraleda: indígena refugiado venezuelano que joga numa escolinha do Flamengo em Ananindeua (PA) - Arquivo pessoal
Greyver Moraleda: indígena refugiado venezuelano que joga numa escolinha do Flamengo em Ananindeua (PA) Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/04/2025 05h30

É em Ananindeua, no Pará, que indígenas venezuelanos do povo Warao terão um sentimento especial quando o Flamengo entrar em campo hoje, no país deles, às 21h30, contra o Deportivo Táchira, na estreia na Libertadores. Refugiados, eles foram acolhidos por uma escolinha do Rubro-Negro que fica na cidade e adotaram o time da Gávea como o clube do coração.

Moraram na rua por alguns meses

A história gira em torno de Greyver Moraleda, de 14 anos, que ano passado teve a oportunidade de vir ao Rio de Janeiro fazer um teste no Flamengo. Porém, muito antes de viver este sonho, ele, seu irmão mais novo, seu pai e sua mãe viveram momentos de angústia na chegada ao Brasil.

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Eles deixaram a Venezuela em 2018 em busca de oportunidades. Imigrantes, passaram por outros estados antes de chegar ao Pará.

Estamos no Brasil desde quando ele (Greyver) tinha sete anos. Como imigrantes, ficamos um tempo procurando apoio, ajuda e uma oração. Passamos dificuldades. Estivemos em Roraima e depois Manaus. Chegamos a Belém em 2020, onde moramos na rua por alguns meses. Até que chegamos a Ananindeua e tivemos ajuda para conseguir alugar um local para morar.
Norberto Warao, pai de Greyver, ao UOL

Escolinha do Fla abraça e isenta refugiado de mensalidade

Atualmente, Greyver Moraleda disputa o Campeonato Paraense sub-15 pela escolinha do Flamengo de Ananindeua - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Atualmente, Greyver Moraleda disputa o Campeonato Paraense sub-15 pela escolinha do Flamengo de Ananindeua
Imagem: Arquivo Pessoal

Aos poucos se habituando ao Brasil, o pequeno Greyver manifestou o sonho de ser jogador de futebol. Antes de chegar à escolinha do Flamengo, o jovem venezuelano ainda passou por outra.

Ele falava: 'Papai, eu quero treinar'. Então conseguimos matriculá-lo em uma outra escolinha antes e, depois, ele foi para a escolinha do Flamengo, onde tem bolsa. Ele evoluiu bastante. Atualmente, ele tem 14 anos e está lutando ainda para seguir o sonho de se tornar jogador de futebol. Somos católicos e sempre rezamos para que Deus possa abrir as portas no esporte para ele.
Norberto Warao, pai de Greyver, ao UOL

CEO das escolas do Flamengo em Belém e Ananindeua, Luiz Hass lembra da chegada do pequeno indígena à escolinha rubro-negra.

Ele chegou três anos atras, no início da minha escola. Logo chamou a atenção porque é muito forte fisicamente, rápido, com tamanho e tem um chute muito forte. Ele é muito dedicado, respeitoso, educado e conquistou todo mundo, já caiu no gosto de todos. Então chamamos para campeonatos, amistosos, e aí demos uma bolsa de treinos para ele. Ele não paga mensalidade. Também o incentivamos nos campeonatos e não cobramos as inscrições.
Luiz Hass, CEO das escolas do Flamengo em Belém e Ananindeua

Descoberto por olheiro do Fla, contou com rede de apoio para teste no Rio

Greyver Moraleda é elogiado pela força física, potência no chute e virou xodó na escolinha do Fla - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Greyver Moraleda é elogiado pela força física, potência no chute e virou xodó na escolinha do Fla
Imagem: Arquivo pessoal

E foi numa dessas participações em campeonatos que Greyver acabou sendo descoberto por um olheiro do Flamengo. Convidado a fazer um teste na sede do clube no Rio de Janeiro, o menino, porém, não tinha condições financeiras de arcar com a viagem.

A partir dali, criou-se uma rede de apoio. Além da ajuda da própria escolinha, entrou na jogada também a Acnur, a agência da ONU para refugiados. Ela custeou a hospedagem e fez uma parceria com a "Azul Linhas Aéreas" para as passagens.

O jovem indígena passou cinco dias na capital carioca. Conheceu o mar, o Maracanã, entrou em campo, e assistiu ao Flamengo vencer o Grêmio por 2 a 0 no Campeonato Brasileiro.

No Ninho do Urubu, acabou não passando no teste. Isso, porém, não o fez desistir do sonho de ser jogador de futebol.

Ele viajou para o Rio de Janeiro, não passou, mas ficou super feliz por ter ido e participado. Não desistiu desse caminho. O futebol o ajudou bastante na adaptação ao novo país e à nova língua. Fez amigos. Ele também estuda aqui na cidade em uma escola pública. Está no 7º ano. Ele tem um irmão mais novo, o Norberto (mesmo nome do pai), de nove anos. Ele vai ser matriculado na escolinha do Flamengo também.
Norberto Warao, o pai

Povo Warao é maioria entre refugiados indígenas no Brasil

O povo Warao é maioria entre os refugiados indígenas no Brasil. Num total de cerca de 11.500, aproximadamente 7.500 são desta etnia. Eles estão espalhados, principalmente, por estados como Alagoas, Pará e Roraima, segundo dados da Acnur.

Hoje, cerca de 1.200 Waraos vivem no Pará, sendo muitos deles em Ananindeua, cidade da escolinha do Flamengo que Greyver atua.

Pai do menino, Norberto explica o que o motivou a deixar a Venezuela com sua família e se refugiar no Brasil.

Entre 2016 e 2018 a situação era muito feia nas principais áreas da saúde, assistência, alimentação... Saímos em busca de oportunidades e estamos conseguindo. Muitos de nós acreditamos em Deus e na Virgem Maria. Junto com eles, e com muito esforço, conseguiremos o que queremos. E por um futuro melhor.
Norberto Warao, pai de Greyver

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