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Ídolo holandês, Gullit elogia Memphis no Brasil: 'Decisão excepcional'

Memphis Depay comemora título paulista do Corinthians, conquistado contra o Palmeiras - Renato Pizzutto/Ag. Paulistão
Memphis Depay comemora título paulista do Corinthians, conquistado contra o Palmeiras Imagem: Renato Pizzutto/Ag. Paulistão
do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

29/03/2025 05h30

Campeão da Eurocopa de 1988 e ídolo do futebol holandês, Ruud Gullit elogiou a passagem de Memphis Depay pelo futebol brasileiro e enalteceu o título do Campeonato Paulista conquistado pelo Corinthians.

Gullit é membro permanente da Laureus World Sports Awards, o "Oscar do Esporte", e concedeu entrevista na manhã de ontem.

Acho que ele tomou uma decisão excepcional, brilhante, de ir ao Brasil, porque é uma competição totalmente diferente. É muito quente (risos), por isso é uma decisão difícil, mas acho que ele foi excepcional para trazer o Corinthians de volta à posição que pertence. Isso é muito bom, estou muito feliz por ele.
Ruud Gullit

O ex-jogador citou ainda Vinicius Júnior, do Real Madrid, da Espanha, ao ser questionado quanto a posicionamento de jogadores sobre racismo. Ele também lembrou os episódios envolvendo Marcus Rashford, hoje do Aston Villa e da seleção inglesa. O jogador sofreu ataques na final da Euro 2020 e também nos tempos em que atuou no Manchester United.

Rashford fez um trabalho incrível para crianças, mas enfrentou reações negativas. É triste, mas, durante sua carreira, falar muitas vezes machuca mais do que ajuda. É por isso que muitos esperam até depois da aposentadoria. Veja Vinícius Jr., um exemplo perfeito. Falar é corajoso, mas não deve vir com punição. Precisamos de mudanças nessa área.

Ruud Gullit ao lado do troféu do Laureus World Sports Award, em 2024 - Angel Martinez - Angel Martinez
Ruud Gullit ao lado do troféu do Laureus World Sports Award, em 2024
Imagem: Angel Martinez

O Brasil será representado no Laureus pela ginasta Rebeca Andrade. Maior medalhista olímpica do país, ela foi indicada para a categoria Retorno do Ano. A cerimônia da 25ª edição do evento será realizada em Madri, na Espanha, no dia 21 de abril.

O que mais ele falou?

Você está envolvido com o Laureus há alguns anos. O que isso te trouxe de experiência? "Foi uma honra ser convidado para se juntar ao Comitê Executivo, mas os momentos mais poderosos vieram por meio do trabalho no local, onde usamos o esporte para ajudar crianças e comunidades. Você sente que está retribuindo. Em Hong Kong, estamos ajudando crianças em uma cidade de concreto onde o esporte ao ar livre é de difícil acesso. Em Soweto [África do Sul], ministrei sessões para crianças que nem tinham tênis, mas seus olhos brilhavam quando brincavam... Isso é inesquecível. É disso que se trata o Laureus: usar o esporte como uma ferramenta para a mudança".

Como vê as indicações ao Laureus neste ano? "Há tantos. O esporte espanhol está voando, o Real Madrid, a seleção espanhola e jovens talentos, como Yamal, estão dominando. Eles foram indicados para os prêmios de Equipe do Ano e Revelação, e com razão. Max Verstappen também tem sido excelente. Eu o conheço bem, até fizemos alguns comerciais juntos. Ele é como o Maradona da Fórmula 1. Seu desempenho naquela corrida encharcada de chuva, onde ele saiu do 14º lugar para vencer... Isso é lendário. Depois, há Sifan Hassan, uma estrela holandesa. Ela está concorrendo ao prêmio de Esportista do Ano após suas vitórias na maratona e medalhas olímpicas. É incrível o que os atletas holandeses conquistaram este ano".

Ruud Gullit, jogador histórico da seleção holandesa - Neal Simpson - EMPICS/PA Images via Getty Images - Neal Simpson - EMPICS/PA Images via Getty Images
Ruud Gullit, jogador histórico da seleção holandesa
Imagem: Neal Simpson - EMPICS/PA Images via Getty Images

Como vê o papel social do esporte? "O esporte tem um papel enorme. Durante a carreira de jogador, você está focado, mas depois disso, você pode retribuir. É por isso que o Laureus é tão especial. Fiquei impressionado no meu primeiro encontro do Laureus — Navratilova [ex-tenista], Kovács [ex-ginasta], Spitz [ex-nadador], Häkkinen [ex-piloto de Fórmula 1] — não estávamos falando apenas de esporte, mas de questões reais da sociedade".

Um técnico holandês pode ganhar a Premier League este ano — Arne Slot, do Liverpool. Você esperava isso? "Não, mas é brilhante. O Liverpool fez certo. Eles sabiam o que tinham com Klopp e trouxeram alguém que compartilha a mesma filosofia. Slot é inteligente, bem falante e entende a psicologia de gerenciar um time. Estou muito feliz por ele".

Você dedicou sua Bola de Ouro a Nelson Mandela. Por que? "À época, eu estava imerso no reggae e na mensagem antiApartheid. Eu apoiei o CNA silenciosamente por anos. Quando ganhei o prêmio, dedicá-lo a Mandela pareceu certo. O que eu não esperava era a reação, especialmente na Itália, onde muitos não sabiam quem ele era. Mais tarde, quando conheci Mandela, ele me disse que ouviram sobre isso na prisão. Eles estavam com medo de que eu fosse punido. Ouvir isso dele foi incrivelmente emocionante. Mais tarde, ele me convidou para ir à África do Sul, onde ganhei uma medalha e fui nomeado Comandante do governo sul-africano. Tenho um orgulho extremo disso".

Com mais times africanos se classificando para a Copa do Mundo, podemos esperar um país africano campeão? "Absolutamente. Jogadores africanos estão ganhando experiência vital na Europa, assim como os sul-americanos. A diferença está diminuindo, e eu adoraria ver uma equipe africana chegar até o fim".

Gullit e Van Basten comemoram o gol da vitória do Milan sobre o Napoli, no Campeonato Italiano de 1987/88 - Etsuo Hara/Getty Images - Etsuo Hara/Getty Images
Gullit e Van Basten comemoram o gol da vitória do Milan sobre o Napoli, no Italiano de 1987/88
Imagem: Etsuo Hara/Getty Images

Você jogou e treinou o Chelsea, e foi técnico do Newcastle. Qual é sua opinião sobre o estado atual desses dois clubes? "O Chelsea ainda parece um enigma. É difícil dizer o quão bom, ou não tão bom, eles realmente são. Acho que eles ainda estão buscando sua identidade. Estão subindo na tabela, o que é positivo, e se encontrarem seu ritmo podem, eventualmente, desafiar o título. Mas agora, ainda não está claro onde eles estão. Por outro lado, estou muito feliz pelo Newcastle. Ganhar um troféu [Copa da Liga Inglesa] foi enorme para eles, é algo que eles mereciam há muito tempo. Se você assistiu à partida, eles estavam totalmente prontos para isso. Você podia sentir a fome. Estou orgulhoso da jornada que eles fizeram".

Vamos falar sobre Milan, que está lutando nesta temporada. Você esperava uma queda dessas? "Isso me lembra o Chelsea: perderam a direção. No papel, o time parece bom. Ganhar a Supercopa pode ter criado uma falsa confiança, mas o progresso real nunca veio. Como o Paris Saint-Germain antes de se reestruturar, o Milan parece preso entre estilos. Olhe para o PSG agora: um treinador com uma filosofia clara, jovens jogadores da academia tendo chances, e eles estão jogando um futebol brilhante. O Milan também precisa disso. Um retorno às suas raízes, ao DNA do futebol pelo qual era conhecido".

O Depay está no Corinthians, Payet no Vasco... Acredita que outros jogadores europeus possam atuar no Brasil em breve? "Não sei. É possível, mas o calor e o ritmo no Brasil o tornam muito diferente. Não é para todos".

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