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Como sobrevive o clube que projetou Endrick ao Palmeiras

do UOL

Do UOL, em Brasília

22/03/2025 05h30

Quem não quer ser como Endrick um dia? Ainda mais sabendo que o seu técnico participou da formação do atacante que hoje está na seleção brasileira.

Essa é a realidade dos garotos de 6 a 17 anos que fazem parte do Brasília Futebol Academia, um projeto conduzido pelo treinador Écio Antunes.

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Endrick não foi descoberto por ele, mas passou pela tutela de Écio dos 6 aos 10 anos. Foi depois disso que ele chegou ao Palmeiras.

O Brasilia Academia não virou um clube endinheirado pelo que Endrick se tornou. Até porque não era nem federado à época.

Um parceiro para registrar jogadores

Agora, trabalha com uma parceria com o Maringá para formalizar o caminho da formação dos jogadores que treinam em campos de várzea, como o Campo da Receita, na região do Guará, em Brasília.

Para manter a roda da produção de jogadores girando, Écio associou o Brasília ao Maringá, que já tinha registro na Federação de Futebol do Distrito Federal.

Écio Antunes, que treinou Endrick durante a infância em Brasília - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Écio Antunes, que treinou Endrick durante a infância em Brasília
Imagem: Igor Siqueira/UOL

Assim, consegue não só participar dos campeonatos de várias categorias organizados pela entidade, mas tenta evitar que talentos se dissipem sem que ele receba percentual de negociações futuras pela formação.

O negócio funciona com um contrato de dez anos de duração. Se um jogador que saiu do projeto for negociado, ele tem direito a 85% do rendimento. Os outros 15% ficam com os donos originais do Maringá.

Para Écio, a parceria tira o Brasília da "clandestinidade", porque ele já registra os jogadores no BID da CBF.

"Está tendo campeonato sub-11, sub-13, e estão todos no BID. O Maringá é federado. Mas é muito caro para registrar um clube novo, mais de R$ 300 mil", alegou ele, em conversa com o UOL.

Treino do time do Brasília Academia, por onde Endrick passou - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Treino do time do Brasília Academia, por onde Endrick passou
Imagem: Igor Siqueira/UOL

Almejando crescimento futuro, ele lida com os desafios do presente de um clube de pequena expressão. Écio calcula que a despesa mensal dele com o projeto fique em cerca de R$ 15 mil.

"Eu tenho estagiário, uma secretária, três professores e pago dois aluguéis. Os campeonatos da federação são caros. Eu uso dois campos, com aluguel de R$ 4,5 mil cada um", detalhou.

Para custear isso, existe um sistema de mensalidades aos jogadores. Mas nem todos pagam. Écio calcula que, do contingente atual de jogadores, tenha de 30% a 40% com bolsa.

"Como eu tenho mensalidade (de R$ 170 a R$ 220), dentro desse valor eu consigo pagar meus profissionais, meu aluguel e sobrevivo das mensalidades tranquilamente. Porque aí eu consigo correr atrás de um moleque pobre, que tem talento. Hoje, eu conto com um projeto social que se chama Rogerinho Social. É de uma cidade satélite chamada Sobradinho. Esse é o maior meu parceiro, que eu tenho há 15 anos. O menino pobre lá da cidade, que tem talento, eu banco ele aqui e ajudo em tudo. Passagem, competição. Aí eles vêm com o pai para treinar e a gente coloca no mercado. Se eu quiser, toda semana aqui eu tenho um avaliador aqui", explicou.

Como Endrick chegou e saiu do Brasília

Endrick tinha seis anos quando chegou aos cuidados da escolinha de Écio. Desde os 4 anos, ele era treinado por Marilia Rocha, na escolinha Gol de Letra, no distrito do Jardim Céu Azul, em Valparaíso de Goiás, cidade a cerca de 40 km de Brasília.

Um jogo amistoso contra o time do Brasília já foi a vitrine necessária para o passo seguinte na então precoce carreira: os treinos com Écio.

Quando o atacante tinha 10 anos, o empresário Paulo Roca concretizou a conexão com o Palmeiras, já que se aproximou dos pais de Endrick e viabilizou a mudança da família para São Paulo. Mas o próprio Roca posteriormente saiu da carreira de Endrick, que virou cliente da TFM, hoje Rocnation.

Endrick no vestiário do Palmeiras com a camisa do Brasília Academia - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Endrick no vestiário do Palmeiras com a camisa do Brasília Academia
Imagem: Acervo Pessoal

Écio reclama de não ter ficado com qualquer percentual do que clubes e empresários faturaram com Endrick ao longo da curta carreira. Para encontrar e desenvolver mais talentos, o treinador estava sob o sol da tarde no Campo da Receita, em Brasília, no dia do jogo da seleção contra a Colômbia.

Enquanto Endrick e os convocados de Dorival se preparavam para atuar no Mané Garrincha, o pessoal do sub-15 dava mais alguns passos na caminhada para tentar chegar ao alto nível.

"Hoje, em Brasília, a gente tem observador de alguns clubes importantes, como Fluminense, Inter e São Paulo. Tem alguns observadores que são daqui também. E praticamente todo mês eu trago dois aqui", pontuou.

Endrick, claro, é o principal caso de sucesso. Mas o Brasília Academia está no histórico de outro jogador na base do Palmeiras atualmente, o zagueiro Thiago Pimenta.

Reinier, ex-Flamengo, e Gustavo Maia, ex-São Paulo, também passaram pela tutela do projeto da capital federal. Só para citar alguns.

Écio se ressente do fato de Endrick e a família terem deixado de lado as origens na capital federal. Mas mesmo sem relação próxima, torce pelo sucesso do jogador.

"Ele sempre teve talento. O tempo vai responder. Ele chegou ao melhor clube do mundo. Aos poucos, vai ter o espaço dele. Tenho certeza que ainda vai jogar. Mas tem que dar tempo, tanto no Real Madrid quanto na seleção brasileira", finalizou Écio.

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