Coordenador avalia pressão na seleção: 'Precisa ganhar, é nosso trabalho'
O coordenador da seleção brasileira, Rodrigo Caetano, deu entrevista ao UOL, hoje, horas antes da partida entre Brasil e Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. O dirigente analisou a preparação para o jogo, avaliou o reflexo da falta de Neymar e ainda disse que não trabalha pensando na pressão que pode surgir se as derrotas não aparecerem.
Como fica o bastidor dentro do grupo e da comissão técnica antes de partidas desse quilate, como contra a Colômbia hoje.
"É claro que sempre tem uma certa ansiedade por parte dos atletas e de todos nós mesmos para que chegue a hora do jogo. É um pouco diferente de clube porque você na seleção você tem um período muito reduzido de preparação de treinos. Então o trabalho intenso também ele é complementado com muitos vídeos com muitas correções mesmo que seja fora do campo. Então foi isso que foi realizado ao longo desses três dias. E hoje ainda seguiremos pela parte da tarde, ainda vai ter a palestra do Dorival e a preparação realmente para o jogo. Mas é um pouco de ansiedade, expectativa, porque a Colômbia é realmente um grande adversário, se consolida aí entre as grandes seleções da América do Sul. Mas a gente também tem uma esperança muito grande de fazer um grande confronto na frente dos nossos torcedores, estádio totalmente lotado e poder retribuí-los aí com um grande jogo e uma grande vitória também".
Como enxerga essa dinâmica desse time com esses três caras considerando o que eles estão fazendo lá no futebol europeu?
"É, eu prefiro falar assim até certo ponto da individualidade. São três atletas extremamente protagonistas nos seus clubes, que o desafio nosso, e eu me insiro nisso, do Dorival e da comissão técnica, é encontrar o melhor encaixe para essas peças poderem reproduzir na seleção aquilo que eles fazem nos seus clubes. Modificar o mínimo possível na forma de atuar, às vezes até no posicionamento de campo, para que eles não sintam nenhum tipo de diferença e consigam, como eu disse, reeditar grandes momentos como eles têm feito nos clubes. Eu acho que esse é o nosso desafio".
Como funciona essa dinâmica, principalmente também em relação ao Neymar, de acordo com as informações que vocês foram recebendo ao longo dos dias anteriores, até chegar à concretização dessa decisão pelo corte?
"Existe um protocolo, existe um processo e ele é constante. Nosso acompanhamento clínico e físico, além obviamente do técnico, mas o clínico e o físico, ele é constante, ele é uma rotina dentro da diretoria de seleções junto à comissão técnica. Então o nosso fisiologista preparador físico, o doutor Lasmar, o Celso Rezende, o Guilherme Passos, o doutor Lasmar, formam um grupo de contato diretamente com o departamento médico, físico, de todos os clubes dos convocáveis, não somente dos que serão convocados. A gente tem nomes além da lista larga que são monitorados constantemente. Bom, quando realizamos a convocação do Neymar na quinta-feira, pela manhã, a informação que tínhamos, e ela é uma informação oficial, de um cansaço muscular. Tanto que ele só voltou a sentir o local dessa lesão na quinta-feira tarde, quando depois o Santos, na sexta-feira, fez o exame que constatou o edema, constatou a incapacidade dele de estar conosco. Danilo, a mesma coisa, era também um desconforto, um cansaço, ele estaria sendo poupado de um determinado jogo, para poder jogar as finais mas infelizmente também acusou queixa e aí acabou que também ficou impossibilidade de estar conosco e o Ederson sim foi na questão do último jogo praticamente. O que eu quero ressaltar é que existe esse processo infelizmente nós convocamos os jogadores uma semana anterior à apresentação praticamente 10 dias E os campeonatos não param, os torneios não param, os jogos não param e, consequentemente, nós vamos estar sempre correndo esse tipo de risco. Antigamente, a CBF, ela convocava 15 dias antes e a gente entendeu que aí era um período maior e o risco era maior também. Mas, mesmo assim, isso faz parte do nosso trabalho, mas faz parte do nosso processo consolidar bem esses nossos protocolos para que a gente esteja seguro de que aqueles que se apresentam aqui estejam nas melhores condições".
O Dorival mencionou que ele tinha imaginado, obviamente, esse time ao redor do Neymar. O que você imaginaria que faria de diferença tê-lo aqui com o grupo?
No que ele representa até dentro do grupo, ele é um cara muito querido, é uma referência técnica.
Consegue perceber isso com a galera que está aqui hoje mesmo?
Sem dúvida alguma, porque nós tivemos contato com o Neymar na Copa América, em outros momentos eu particularmente falo com ele seguidamente, então a gente sabe o carinho que ele representa para os demais, principalmente esses jogadores que já jogaram com ele e outros que têm o interesse e às vezes até o desejo de jogar com ele. Isso é uma coisa de aglutinar o grupo, de realmente trazer essa leveza ao grupo. Dentro de campo, não resta a menor dúvida que ele é um jogador da primeira prateleira. Ele, estando bem de suas condições físicas e clínicas, ele agregaria demais. Mas não muda, muda talvez o modelo de jogo idealizado na cabeça do Dorival, por óbvio, né? Nas escolhas vamos lá, principalmente o meio de campo e o ataque. Mas no que diz respeito à nossa exigência, eu acho que ela muda pouco, porque os jogadores que estão aqui também são protagonistas, também são exigidos e também temos esperança que eles façam a diferença durante os jogos. Então o Neymar seria mais um desses, claro, de altíssimo nível, não resta a menor dúvida, só agregaria, mas tenho certeza que quando ele estiver aqui ele vai estar 100% das suas condições e vai colaborar muito conosco".
Existe um sentimento que precisamos ganhar de qualquer jeito nessas duas partidas porque pode ser que o trabalho mude daqui pra frente? Como é que você vê esse contexto todo?
"A gente precisa ganhar e subir na tabela porque é o nosso trabalho. Eu costumo dizer que a gente tem que colocar energia naquilo que a gente controla, naquilo que é possível. Então é fazer uma boa preparação para o jogo, é dar as melhores condições para os atletas, esse é o meu trabalho de suporte para a comissão técnica, para os atletas. Enfim, agora o resultado do jogo, muitas vezes ele foge até à nossa vontade. E eu tenho que encarar com naturalidade, estou muito tempo no futebol, sempre cumpri os meus contratos por onde passei nos clubes, espero poder cumprir aqui até a Copa de 2026".
"Eu vim pra cá assim como Dorival com esse desejo e espero que isso se concretize. Caso não ocorra é porque algo fugiu do nosso controle. Agora o debate que eu acho que é válido é o seguinte: nossa cultura é de ganhar para ter tempo de trabalhar e talvez a gente deva repensar isso de que primeiro deve-se ter tempo para depois ganhar. Outra discussão existe um debate muito grande no futebol brasileiro que não é de hoje é de muito tempo sobre a manutenção dos trabalhos sobre dar esse respaldo aos treinadores principalmente e que não haja essa mudança constante do que a gente vê nos clubes enfim. Mas eu vejo que se potencializa também muita pressão externa para as mudanças, que vão contrário a tudo que se defende. Porque os grandes comentaristas, enfim, defendem a manutenção, defendem a continuidade. E muitas vezes a gente vê uma pressão externa para essa mudança. Acho que esse debate é válido. Não estou falando e nem analisando o trabalho. Estou falando sobre conceito. Conceito de continuidade ou interrupção de trabalho. O que é melhor? O que comprovadamente traz mais resultado no futuro? Portanto, aqui nós temos as nossas especificidades. Já falamos sobre isso, sobre a dificuldade da reunião dos atletas e estamos falando aqui de um dos maiores talentos (Neymar) que nós, durante esse um ano, não podemos contar. Mas não é justificativa de nada, é só mesmo para reflexão. Nos clubes, sempre defendi continuidade e na seleção ainda mais".
Mas a gente vai tentar vencer os jogos pontuar bem porque é nosso trabalho e nossa obrigação independentemente do futuro. Nós aqui trabalhamos com: classificar a seleção brasileira bem para a Copa do Mundo e chegar bem lá em 2026. Qualquer coisa diferente disso não depende da gente.
O Dorival comentou ontem que é o tema não só o futebol, mas toda a sociedade brasileira, que é a questão do racismo. Especialmente tudo alimentado também pela declaração recente do presidente da Comembol. Eu sei que não é sua função, seu cargo, lidar diretamente com a presidência da Comembol, mas como você enxerga esse contexto todo?
"Bom, nesse momento eu vou me permitir tirar a capa e a camisa da CBF, da Seleção Brasileira e falar como ex-atleta, como desportista, que sou ao longo de toda a minha carreira. Eu o qualifico como lamentável, qualquer tipo de analogia nesse sentido, porque ela é agressiva, nós somos, nós brasileiros, e aí voltando a CBF principalmente e o presidente Ednaldo, é contrário a qualquer tipo de ato ou atitude de racismo ou preconceito, de qualquer forma, então eu quero crer que além de lamentável, nós tivemos que coibir, porque o que a gente observa nos jogos alguns outros países ainda praticando isso em relação aos brasileiros. E penso que a Comebol é responsável, sim, por tentar punir todo e qualquer tipo de manifestação racista ou de preconceito de gênero. Então ela, como responsável por essas competições, precisa agir fortemente porque aqui no nosso país é crime e eu acho que isso deve se expandir para os nossos países vizinhos".
A gente torce que não, mas a gente sabe que está sujeito a esse tipo de questão durante algumas partidas. O que vocês orientam para os jogadores?
"Desde o ano passado, quando a Fifa adotou esse protocolo que foi levado pela CBF, pelo presidente Ednaldo, todos os atletas aqui já tiveram a palestra em relação a isso, para que se perceberem, seja de público ou até de adversário qualquer ato racista, eles já sabem como se comunicarem com o árbitro para que haja interrupção do jogo naquele momento. e a retirada da pessoa do estádio ou até mesmo a punição do adversário para depois o jogo prosseguir. Caso contrário em isso se mantendo o jogo pode ser até cancelado naquele momento. Então eles já estão devidamente informados sobre esses episódios".
Sei que a cabeça está para Colômbia agora daqui a pouco, mas pegar a Argentina sem Messi também?
"Primeiro nós temos que pegar a Colômbia com o time deles totalmente completo, como é que eles vêm. E aí é um discurso e é um mantra que a gente tem usado nesses dias. O jogo contra a Argentina é um clássico sul-americano? Sim, não tenho a menor dúvida. Porém, para que a gente chegue bem, para que a gente chegue forte, confiante lá, tudo passa por hoje. Então não adianta a gente ficar colocando a nossa cabeça, mentalizando a Argentina e desviando a nossa energia, o nosso foco da Colômbia. Não, não. Talvez esse poderia ser o maior erro e eu espero que não ocorra. Está todo mundo bem alertado sobre isso".