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Caso Garro: quanto você precisa beber para ter 0,5 g/l de álcool no sangue?

Rodrigo Garro, meio-campista do Corinthians, se envolveu em acidente na Argentina - Reprodução
Rodrigo Garro, meio-campista do Corinthians, se envolveu em acidente na Argentina Imagem: Reprodução
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

07/01/2025 05h30Atualizada em 07/01/2025 17h27

Rodrigo Garro, meio-campista argentino, foi indiciado por homicídio culposo após causar um acidente fatal em La Pampa, Argentina, e testar positivo para álcool em um exame. Mas qual seria a quantidade de álcool necessário para atingir 0,5 gramas por litro (g/l) no sangue, a quantidade encontrada no jogador, e quais os efeitos dessa concentração no organismo?

Nível inferior já caracteriza embriaguez

O nível de 0,5 g/l pode ser atingido com o equivalente a duas latas de cerveja no espaço de uma hora, explica o especialista Tiago Uliana Fonseca, formado em química pela USP. Para um homem de 70 kg, isso equivale a uma taça de vinho ou menos de meia dose de destilado. "Você só começa a ter álcool livre circulando no sangue em quantidades mensuráveis se beber mais do que o fígado consegue processar", afirma Fonseca.

A médica Janifer Trizi alerta que 0,34 g/l já caracterizaria estado de embriaguez. Esse nível, inferior ao de Garro, já afetaria o organismo humano do ponto de vista médico.

Quais os efeitos da embriaguez?

A embriaguez é um estado alterado de consciência causado pelo consumo excessivo de álcool. Essa condição afeta significativamente a capacidade de uma pessoa de tomar decisões, coordenar movimentos e reagir a estímulos.

A quantidade de álcool no sangue é medida em gramas por litro (g/l) e é utilizada para determinar o grau de embriaguez. No entanto, é importante ressaltar que os efeitos do álcool variam de pessoa para pessoa, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) dependendo de fatores como:

  • Peso corporal: pessoas mais leves tendem a sentir os efeitos do álcool mais rapidamente.
  • Sexo: em geral, as mulheres têm maior concentração de álcool no sangue após consumir a mesma quantidade que um homem, devido a diferenças fisiológicas.
  • Conteúdo estomacal: a presença de alimentos no estômago pode retardar a absorção do álcool.
  • Tolerância: pessoas que consomem álcool com frequência podem desenvolver tolerância, necessitando de maior quantidade para sentir os mesmos efeitos.

A metabolização do álcool pode ser diferente de acordo com cada pessoa. "Inicialmente vamos ter a absorção no estômago e intestino delgado de mais ou menos 80% de álcool. Então, pessoas que têm doenças de absorção podem ter essa concentração para mais ou para menos", explica Nicolle Queiroz, especialista em medicina integrativa e metabólica. "Quem está em jejum ou ingeriu pouca comida absorve mais e se embriaga mais facilmente. Os livros de medicina de emergência já alertam para uma possível alteração comportamental quando temos o equivalente a 2,5 gramas por litro".

O metabolismo envolve enzimas como ADH (álcool desidrogenase) e ALDH (aldeído desidrogenase). Elas transformam o álcool em substâncias que o corpo pode eliminar, mas o processo é lento, segundo explica a OMS (Organização Mundial de Saúde).

Fatores como idade e dieta influenciam a velocidade do metabolismo. Isso explica por que os efeitos variam entre diferentes indivíduos.

Os efeitos incluem euforia, reflexos lentos e comprometimento motor. Isso torna dirigir sob efeito de álcool extremamente perigoso. "Existem fontes que falam que entre 0,5 g até 1,2 g/l já deixa a pessoa eufórica. E quem está eufórico pode perder a atenção. Não precisa estar sedado, embriagado em excesso à direção para a pessoa se envolver em um acidente", completa Queiroz.

Confira a seguir os efeitos gerais do álcool no organismo, segundo o Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool):

  • Sistema nervoso central: diminuição da coordenação motora, lentidão de reflexos, alterações na percepção, dificuldade de concentração, prejuízo da memória e, em casos extremos, coma e morte.
  • Fígado: uma das funções do fígado é metabolizar o álcool. O consumo excessivo pode levar a danos hepáticos como esteatose hepática (gordura no fígado), hepatite alcoólica e cirrose.
  • Coração: o álcool pode aumentar a pressão arterial, aumentar o risco de arritmias e de cardiomiopatia (doença do músculo cardíaco).
  • Pâncreas: o consumo excessivo de álcool pode levar à pancreatite aguda ou crônica.
  • Sistema imunológico: o álcool pode enfraquecer o sistema imunológico, tornando o organismo mais vulnerável a infecções.
  • Aparelho digestivo: o álcool pode causar irritação na boca, esôfago e estômago, além de aumentar o risco de câncer de boca, faringe, laringe e esôfago.

O acidente de Garro

Rodrigo Garro causou um acidente fatal no último sábado (4). O jogador dirigia em General Pico, La Pampa, quando colidiu com uma motocicleta, causando a morte de Juan Carlos Barrientos.

O teste indicou 0,5 g/l de álcool no sangue. Segundo o procurador-geral de La Pampa, Armando Aguero, esse nível foi considerado baixo, não configurando agravante.

O jogador foi indiciado por homicídio culposo. A quantidade de álcool registrada não superou 1 g/l, limite que caracterizaria agravante legal na Argentina.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o nível de 0,5 g/l, pode ser atingido com o equivalente a uma taça de vinho ou menos de meia dose de destilados em um homem de 70 kg, e não duas taças de vinho e duas doses de destilados. A informação foi corrigida.

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