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Fla: Boto vê saída de David Luiz 'profissional' e pede tempo por reforços

José Boto em sua apresentação no Flamengo - Luiza Sá/UOL
José Boto em sua apresentação no Flamengo Imagem: Luiza Sá/UOL
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Do UOL, no Rio de Janeiro

30/12/2024 13h41

José Boto falou pela primeira vez como diretor de futebol do Flamengo. Na tarde desta segunda-feira, no Ninho do Urubu, ele explicou o problema na não renovação de David Luiz e falou sobre os reforços que pretende contratar. O contrato será de dois anos.

O David é alguém que sempre colheu o carinho da torcida das pessoas que trabalhavam com ele por onde passou. Um respeito enorme pela carreira dele, mas o que aconteceu foi algo profissional. Eu quando quero contratar um jogador não falo direto com os jogadores, até porque os agentes normalmente ficam putos quando nós fazemos isso. Tenho relação com essas pessoas que lidam com o David há alguns anos, desde o tempo de Benfica. As pessoas pediram para, assim que tivesse uma decisão, lhes comunicasse. Assim que me reuni o Filipe Luís, foi comunicado pela manhã muito cedo aqui no Brasil às pessoas competentes. Desejo a maior sorte do mundo ao David. É um excelente atleta, um excelente ser humano. Recebi uma mensagem do agente dele desejando sorte por parte do David e é um assunto encerrado. Desejo a maior sorte do mundo ao David e que seja muito feliz. Boto

O que mais ele disse?

Primeiras impressões: "É um orgulho muito grande e ao mesmo tempo uma responsabilidade enorme. Esses dias têm sido muito ocorridos, mas guardo o encontro com o Zico, que foi um ídolo de infância. E também de conhecer o CT. Eu já tinha algumas referências de ser um CT muito moderno, mas sinceramente não esperava que fosse tão bom."

Prioridade: "Eu tenho que ser responsável e não posso chegar aqui e não conhecer as pessoas. Não conhecer o ambiente e começar a querer fazer as coisas da minha maneira. A primeira coisa que vou fazer é conhecer todas as pessoas da estrutura do futebol, perceber quem se adapta à forma como nós queremos trabalhar e ao mesmo tempo cuidarmos da equipe profissional."

Reforços: "A partir do dia 18 de dezembro, quando o Bap anunciou que eu seria o diretor esportivo, converso com o Filipe Luís em todos os dias. Nos encontramos porque estávamos perto. Temos bem claro que o elenco tem uma qualidade enorme, sabemos que temos de fazer alguns ajustes e esses ajustes vão ser feitos com o tempo. No tempo que nós queremos e não para agradar a torcida, a imprensa. Queremos a torcida contente em dezembro, não em janeiro."

Traoré: "É um jogador que conheço muito bem. Quando estava no Shakhtar compramos ele do Ajax pagando 10 milhões de euros. É um jogador em análise como muitos outros. A posição do atacante é realmente a mais prioritária, mas nós não queremos falhar. E como não queremos falhar, queremos exatamente encontrar o perfil que interessa ao nosso treinador e ao Flamengo. Esse perfil pode ser um nome mais experiente ou menos. Nós queremos alguém que tenha rendimento, é isso que nós vamos procurar. Vocês tem dado ideias com scouts para analisarmos [risos]. Estamos nesse processo."

Filipe Luís: "Tive carta branca. A escolha foi de minha responsabilidade. Eu poderia ter escolhido outro treinador. Sou pioneiro, eu e uma equipe que trabalhava comigo no Shakhtar, de uma coisa chamada scouting de treinadores. Tínhamos uma linha definida de como queríamos jogar, o dono do clube exigia. Contratávamos treinadores que respeitavam esse DNA. E criamos um scouting de treinadores, uma lista com esse DNA. O Filipe foi uma escolha minha e, se falhar, a culpa é minha. Isso é profissionalização. É fácil mudar o treinador 11 vezes e ninguém ter culpa disso. Se o Filipe falhar, o culpado serei eu. Toda a gente do clube vai ter que trabalhar como nós queremos. Quem não trabalhar como queremos sai. Depois, se as coisas forem mal, o responsável sou eu. Tive carta branca do Bap para que, se achasse que deveria mudar o treinador, mudava. Analisei, vi muita coisa que gostei (de Filipe Luís), vi muita entrevista. Depois, o contato diário tem confirmado tudo. É algo de que posso me orgulhar. Nos jogadores nós falhamos, não há ninguém que acerte sempre. Nos treinadores, normalmente não erro. O Filipe vai ser um treinador top mundial. Lancei treinadores como Luís Castro, como De Zerbi, e o Filipe está na linha deles."

Por que o Filipe: "Vi duas vezes todos os jogos do Flamengo desde que o Filipe pegou. Uma para analisar o elenco, outra na perspectiva de analisar o trabalho do Filipe. Quem escolhe treinador tem que ter personalidade. Consegui perceber nuances táticas no trabalho do Filipe que me agradaram muito. Não é tão visível ao olho normal, mas ao olho mais clínico agradou muito. Depois me agradou muito a forma como se comunica, forma humilde, mas assertiva, sabe o que quer. Depois, quando tive contato, percebi a ambição dele, a vontade de aprender, de evoluir. No futebol, quando achamos que sabemos tudo, é o primeiro passo para estarmos mortos."

DNA Flamengo: "A escolha foi de minha responsabilidade. Eu poderia ter escolhido outro treinador. Sou pioneiro, eu e uma equipe que trabalhava comigo no Shakhtar, de uma coisa chamada scouting de treinadores. Tínhamos uma linha definida de como queríamos jogar, o dono do clube exigia. Contratávamos treinadores que respeitavam esse DNA. E criamos um scouting de treinadores, uma lista com esse DNA. O Filipe foi uma escolha minha e, se falhar, a culpa é minha. Isso é profissionalização. É fácil mudar o treinador 11 vezes e ninguém ter culpa disso"

O que esperar: "Profissionalismo para o Flamengo tem que ser a coisa mais importante de todo mundo que trabalha aqui. Mais importante que a família, que tudo. Temos que dar o máximo. Existem 50 milhões de pessoas lá fora que fazem muito sacrifício para acompanhar o Flamengo. É um privilégio para todos, a começar por mim, passando pelo pessoal da rouparia, da cozinheira. Todos têm que entender a responsabilidade e que isso é a coisa mais importante da vida deles. Isso é profissionalismo. Os torcedores podem esperar cobrança, primeiro de mim, dos jogadores e todos têm que trabalhar bem. Isso é profissionalismo."

Como se aplica o DNA e profissionalismo: "A base vai ser da minha área e vai ser algo em que eu vou trabalhar, tem sido assim em todos os lugares onde passei. Temos que criar esse DNA, temos que criar jogadores talentosos, homens responsáveis. Eu conheço bem o Brasil, até porque no Shakhtar nós tínhamos 14 brasileiros. Aqui no Brasil se foi buscar muita coisa que se faz na Europa. E na Europa nós viemos aqui buscar coisas boas que vocês fazem. Nos profissionais a chegada de técnicos estrangeiros acho que deu mais rigor táctico para o jogo, mas replicar isto na base é um erro para mim. Vocês revelaram muitos jogadores. Ronaldo, Ronaldinho, Zico. E parece que querem fazer jogadores como na Europa. Acho que há de voltar um pouco atrás ao que foram as raízes e os fundamentos do futebol brasileiro. Dar essa liberdade aos jovens de errarem, experimentarem, de não estarem agarrados a sistemas táticos e coisas assim. Porque depois, a partir de uma certa altura, vão ter tempo para isso. É fundamental, em minha ótica, que isso mude da forma como se formam os jogadores no Brasil. Estavam bem, foram copiar a Europa e, neste momento, não produzem tanto talento como há 10 anos, 15 anos. E isso é algo que eu acho que vamos ter que mudar aqui. No futebol, vocês faziam bem, vamos continuar a fazer como fazíamos antes."

Janela agressiva: "Identificamos o que necessitamos. Nossa leitura é que o elenco é muito bom e pode render ainda mais do que tem rendido. Não estamos pensando que tem que ir comprar, buscar jogador. O que temos é muito bom e agora vamos reforçar. Vamos reforçar tentando minimizar o erro. Não queremos tal jogador porque vai para o Corinthians, ou o outro que vai para outro lugar. Vamos buscar o que queremos e o que tivermos certeza do que queremos. Já conversei com o presidente em relação às verbas que temos para gastar. Não vou divulgar valores, e isto é uma parte da profissionalização também sobre não discutirmos publicamente os assuntos internos, mas é suficiente para os reforços que queremos."

Estrutura dele no futebol: "Vou trazer uma ou duas pessoas da minha confiança. Não vou divulgar os nomes porque ainda nem sequer discutimos contratos. São pessoas que vão agregar conhecimento em várias áreas. O futebol é talvez o único negócio em que as pessoas fazem investimento e não cuidam do investimento. Gastam 10 milhões e depois se render, rendeu, se não render, vai comprar outro. Temos que cuidar do ponto de vista médico, emocional. Muitos jogadores que vocês conhecem não rendem em um lugar e depois tem um rendimento absurdo. Eu estava no Benfica quando o Gabigol foi para lá. O rendimento dele lá foi quase zero e depois virou um ídolo aqui. Tínhamos que entender o que fazer para ajudar e fazer o Gabigol crescer como jogador. Nós temos que saber porque não rende e há profissionais competentes para ajudar nisso. E isso é algo que nós vamos tentar montar aqui também."

Vazamento de notícias: "Uma das coisas que eu discuti com o Bap é sobre fechar o CT. Acabou a visita aqui ao CT de de gente que não tem nada a ver com o trabalho do CT. Não me interessa quem é, não entram aqui. Eu sei que as pessoas gostam de ver, estar com jogador tal, mas isso vai acabar. As viagens também vão acabar. Ir no mesmo avião, estar no mesmo hotel, pessoas que nada têm a ver com o futebol. Foram talvez as primeiras medidas que eu tomei já. As outras tenho que analisar. Aqui só entra quem tem a ver com o futebol."

Prioridade: "Nos lugares de onde venho, o campeonato é a coisa mais importante. Talvez a Champions League seja no mesmo nível. Nós temos que pensar que entramos em tudo para ganhar e temos de arranjar uma forma para isso. Talvez eu tenha que aprender essa parte também da cultura aqui. Nós temos que ter um elenco e uma mentalidade que vamos para ganhar. Se por um motivo qualquer temos que priorizar algo, vai ser sempre o campeonato."

Pulgar e Cleiton: "Esses jogadores têm contrato com o Flamengo. Quando assina, tem que cumprir e respeitar este contrato. Nós vamos analisar com calma, perceber se vale a pena da nossa parte. Eu tenho uma visão muito pragmática da coisa. O jogador assina um contrato, se o treinador quiser usar, não é porque está há seis meses de finalizar o contrato que não vai jogar. O treinador precisa, joga. Tem que ser profissional e nós vamos ver como será. Temos de exigir do jogador esse profissionalismo. Se vamos renovar todos, se vamos renovar só um, se vai ser o Cleiton. É uma questão que nós temos de analisar ainda. Cheguei há dois dias, quase não parei para trabalhar. Espero que agora tenha um bocadinho mais de paz para poder começar a trabalhar".

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