Dunga diz por que está fora do mercado e vê contradição no futebol nacional
Frequentemente especulado no mercado da bola, Dunga não deve voltar a trabalhar como técnico tão cedo. O objetivo do capitão do tetra e ex-comandante do Brasil por duas vezes é outro: curtir sua esposa Evanir, seus filhos e seus netos.
O novo Dunga
O gaúcho de 61 anos está longe dos holofotes do futebol desde junho de 2016, quando deixou a seleção após a eliminação na Copa América Centenário — na ocasião, o Brasil deixou o torneio ainda na fase de grupos.
Nos últimos anos, Dunga priorizou estar perto da sua família e do instituto que leva seu nome. Ele também é um dos criadores do "Seleção do Bem 8", que auxilia famílias no Rio Grande do Sul.
O futebol, no entanto, não está totalmente escanteado. O ex-jogador, que esteve nesta segunda (9) no Troféu Mesa Redonda, da Gazeta, falou sobre o cenário brasileiro — e não escondeu sua insatisfação com algumas filosofias adotadas atualmente.
Voltar a treinar um clube brasileiro é algo que está longe dos planos, segundo ele. O motivo? Além da prioridade com a família, seus pensamentos se "chocam" com o que se aplica na terra do país pentacampeão.
Minha época já passou. Quando você tem um pensamento em que há choque com o que está acontecendo no futebol... Eu já briguei muito na minha vida e chega uma hora que você quer aproveitar. Hoje, todos falam uma palavra linda: "transição". Se 50% de um time tem mais de 35 anos, como vai fazer transição e jogar em velocidade? Como fazer isso com o time viajando 70 mil km por ano? É uma contradição do que se fala. A gente muda de esquema, mas ao mesmo tempo fala que não tem tempo para treinar... Para que lado eu vou?
Dunga
Dos técnicos estudados ao "resultadismo"
Jargão em alta. "O futebol tem uma expectativa muito grande. No Brasil, o pensamento é: se estudou, todo mundo acha bom. Todo mundo estuda: o Zagallo, o Parreira, o Felipão... Todo mundo estudava. Hoje, são dois termos que se usam muito: 'estudou' e 'fez curso na Europa'. [Os técnicos] ficaram uma semana na Europa, não viram nem dois treinos e vêm aqui dizer que estudaram... Se pudéssemos estudar nossos treinadores, como Felipão, Zagallo, Parreira, talvez o futebol brasileiro estivesse mais adiantado."
O que é melhor: brasileiro ou estrangeiro? "Eu defendo o bom e o que vem trazer algo de novidade para nós. Quando fui jogar na Europa, tive que dar algo em troca ao futebol europeu. Tem que trazer jogadores que vão fazer alguma coisa. Se você trazer estrangeiro para ficar na reserva, está tirando espaço de jogadores da base."
Técnicos nacionais. "Há vários brasileiros tops. A gente tem algo muito midiático: o treinador é bom quando está ganhando, mas quando não ganha, não é bom. Não é assim. Tem que ver o trabalho dos últimos anos, ninguém vai ganhar sempre. Depende do time, da estrutura do clube, das contratações, das lesões... É uma série de fatores. Temos bons treinadores. Por que temos bons treinadores? Porque eles se adaptam a todos os jogadores. Há treinadores que só querem um tipo de jogador e de plantel. Dificilmente, no Brasil, eles [clubes] dão a escolha para montar seu time. Mas nós cobramos resultados...
Inter e Grêmio pós-enchentes no Sul. "Foi uma vitória para o Estado porque as dificuldades são imensas. Na minha forma de analisar, [as dificuldades] nem foram tanto pelo campo, foram mais pelas viagens. É o tempo fora de casa, familiares... Mas o ano acabou, agora tem que repensar. O Inter teve um 2° turno ótimo, foi assim com Abel, com o Mano e agora com o Roger. Tem que pensar desde o início fazer o trabalho bem feito. Já o Grêmio [sem Renato Gaúcho] tem que fazer uma reformulação, é normal."
Fora do mercado. "Tem uma nova juventude que começou, tem gente nova. Achei melhor curtir a família um pouco e ficar mais observando."