Como nasceu a trama de extorsão a Luiz Henrique: prima da ex está presa
O celular de Luiz Henrique pipocava em Buenos Aires, dois dias antes da final da Libertadores. Perguntas incessantes, pedido de dinheiro e ameaça de divulgação de um suposto conteúdo íntimo. A última mensagem foi ameaçadora:
Os 20 mil na minha conta amanhã até as 9h ou você terá suas intimidades reveladas.
Luiz Henrique não fez qualquer depósito. Mas algo, de fato, aconteceu às 9h da última sexta-feira (29).
Policiais chegaram ao local onde o aposentado Sebastião Jorge dos Santos, de 69 anos, faz uns bicos. Ele foi crucial para que os agentes localizassem Raissa Cândida da Rocha, de 26 anos, em Parque Pauliceia, bairro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Com a indicação do local feita por Sebastião, a prima da ex-mulher de Luiz Henrique foi presa em flagrante por tentativa de extorsão ao atacante do Botafogo.
Depoimentos à polícia, aos quais o UOL teve acesso, ajudam a entender por que e como a polícia localizou quem estava tentando arrancar dinheiro do jogador às vésperas da partida mais importante do ano — até então.
Com os pontos se ligaram?
Se Raissa foi presa, por que a polícia bateu primeiro na porta de Sebastião?
Nas mensagens enviadas a Luiz Henrique, a autora das ameaças envia uma chave para receber o Pix do jogador. E quem era o titular da conta? Sebastião.
Por isso, ele foi procurado antes mesmo da prisão em flagrante de Raissa.
Sebastião conhece Raissa porque mantiveram um relacionamento amoroso. Ela engravidou e tem uma filha. Sebastião acredita que seja dele, mas ninguém fez exame para confirmar e tampouco a paternidade foi registrada na certidão.
De todo modo, Sebastião e Raissa se dão bem. Ele, inclusive, contou aos policiais que paga uma pensão informal semanalmente a ela.
Por causa desse contexto, ela tem acesso à casa e tem intimidade suficiente para pedir o número da chave Pix de Sebastião. Foi isso que ela fez na quinta-feira (28) passada.
Mas sob qual argumento? Uma suposta trama.
A desculpa para pegar os dados dele
Além de ser prima de Carolina Andrade, ex-mulher de Luiz Henrique, Raissa é madrinha da filha do jogador. Pelo relato de Sebastião, Raissa disse que Luiz Henrique faria um depósito na conta do aposentado e, então, o montante seria repassado a Carolina e à criança.
Mas o "desvio" da rota seria para esconder o repasse da atual noiva de Luiz Henrique.
Sebastião deu sua chave Pix, acreditando que estaria "ajudando a criança". Depois de explicar isso à polícia, Sebastião levou os agentes à casa de Raissa.
A confissão aos policiais
Ainda na manhã de sexta-feira, os policiais chegaram à casa de Raissa. Segundo consta nos autos do processo, ela disse logo que sabia do que se tratava aquela visita.
Raissa afirmou que tinha imagens íntimas de Luiz Henrique, mas não mostrou, e ainda confessou que mandou as mensagens para conseguir dinheiro.
Inicialmente, ela chegou a citar que teria ajuda de um traficante da região, mas depois mudou a versão, citando que agiu sozinha.
Segundo relato dos policiais, Raissa ainda disse que comprou um chip de celular usando os dados de Sebastião e o inseriu no aparelho usado pela filha, de 4 anos.
A prima da ex de Luiz Henrique acrescentou ainda que Sebastião não tinha ideia do que ela estava fazendo.
Os R$ 20 mil? Supostamente para pagar dívidas.
A detenção em flagrante de Raissa já foi convertida na Justiça em prisão preventiva. A defesa dela pediu a revogação, para que ela volte para casa, cuide da filha e seja monitorada por tornozeleira eletrônica. A filha de Raissa ficou sob os cuidados da avó.
Como o alerta começou
Raissa foi capturada de forma até célere porque a polícia já estava ciente de ameaças e tentativa de extorsão ao jogador. Não necessariamente feitas por ela. Isso ainda não está elucidado. Ela só citou a autoria das mensagens mais recentes. A investigação policial segue.
O alerta inicial foi dado pelo Botafogo, em uma notícia crime feita à Polícia Civil do Rio no fim de setembro.
Segundo o relato, Luiz Henrique recebeu três áudios por WhatsApp de número que ele não conhecia. Era véspera do jogo de volta contra o São Paulo, pelas quartas de final da Libertadores.
Fala aê, mano. Se liga. Os caras que te agenciava me mandou o pen drive, tá ligado?! É... foto sua pelado, jogo de aposta, e mandaram jogar na mídia, mano. Amanhã no jogo contra o São Paulo. Faz um Pix aí que eu acabo com as prova (sic).
O interlocutor não identificado continuou, em outros dois áudios:
"Mano, e outra coisa, os cara tão querendo acabar contigo, mano, de qualquer forma, de qualquer forma. Aí é contigo aí, mano. Faz o Pix aí que eu pego o pen drive, sumo com o pen drive e tu fica kit".
Luiz Henrique bloqueou o número de onde veio a mensagem.
Naquele mesmo dia, o UOL tinha revelado a existência de comprovantes de Pix de parentes de Lucas Paquetá, em janeiro e fevereiro de 2023: R$ 40 mil ao todo, quando Luiz Henrique ainda estava no Bétis. Bruno Tolentino, tio de Paquetá, confirmou os pagamentos, disse que era devolução de empréstimo e negou envolvimento em manipulação.
Apostas casadas em um jogo de Luiz Henrique e outro de Paquetá geraram um alerta em empresas de monitoramento de suspeitas de manipulação. Tanto que o meia do West Ham já foi denunciado pela Federação Inglesa.
O Botafogo deu a entender que esse contexto foi usado nas mensagens enviadas a Luiz Henrique.
Empresário e ex negam envolvimento
Ao informar a polícia, o Botafogo também direcionou o número do ex-empresário do jogador, Johnny Max.
Em 25 de setembro, na noite do jogo contra o São Paulo, Johnny prestou depoimento à polícia, na condição de testemunha.
Negando de cara a autoria das mensagens, o empresário contou que tem relação com Luiz Henrique desde quando era criança e "fez o papel de pai" do jogador. Mesmo agora que não gere mais a carreira de Luiz Henrique, Johnny afirmou que tem boa relação com ele.
Houve perguntas mais específicas dos policiais. Johnny disse não saber se Luiz Henrique tem inimigos e apontou que a relação com a ex-mulher, Carolina Andrade, "parecia normal" e que ela estaria "aceitando bem" o fim do relacionamento.
Segundo a defesa de Johnny, a polícia não conseguiu ligar o empresário ao número de onde saíram as mensagens ameaçadoras a Luiz Henrique.
Carolina Andrade depois também foi à delegacia. Segundo ela, "não há no inquérito policial qualquer indício de sua participação na suposta prática de extorsão".
Sobre a prisão da prima, Carolina disse "que ficou extremamente surpresa e abalada". A ex de Luiz Henrique acrescentou que mantém "uma boa relação" com ele, "em virtude da filha".