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Eleição do Fla: Bap quer futebol autônomo e estádio com dinheiro de dentro

Candidato à presidência do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, já ocupou alguns cargos no clube desde 2012: vice-presidente de marketing, membro do conselho do futebol e presidente do Conselho de Administração. Foi aliado da situação de Rodolfo Landim quando rompeu por discordâncias sobre o futebol e pela escolha de outro candidato. Bap quer autonomia no futebol do Flamengo e defende que o dinheiro para o novo estádio do clube está dentro do próprio rubro-negro.

O UOL procurou os três candidatos à presidência do Flamengo para conhecer as propostas, e apenas Rodrigo Dunshee não recebeu a reportagem.

Confira acima a íntegra da entrevista, realizada em 5 de novembro. Abaixo, os principais temas.

Estádio

"Estádio é um sonho de todos os rubro-negros. E evidentemente que a gente vai fazer o estádio. O programa de governo da gente, a gente fala que o principal fonte de recursos para construção do estádio tem que ser recursos de dentro do clube. Para isso, precisa aumentar a receita do clube em 50% e a rentabilidade do clube em 50%. Se fizer isso em seis anos, fará o estádio com nível de endividamento confortável e sem comprometer a performance esportiva. A forma como você vai fazer isso é muito importante. Não faz sentido jogar fora o que já existe, se é que existe algo concreto porque até agora não vimos.

A forma como vai fazer a receita crescer é fundamental. O Flamengo faz pouco dinheiro no mundo digital. O clube tem 37 milhões de seguidores únicos de redes sociais e não monetiza isso. O Flamengo tem que desenvolver conteúdo dentro de casa, tem que ser como a Disney, criar em cima do que tem no departamento de futebol, colocar isso na FlaTV. Vai ser um modelo tipo TV aberta, YouTube, que faz minisséries e vende para terceiros. O Flamengo também pode fazer moda fitness, masculina, feminina, não faz nada disso.

Faturamento aumentando em 50% levaria a ter R$ 1,6, R$ 1,7 bilhão a mais para construção do estádio. Mais os R$ 200 milhões que a gente já botou. Para R$ 2,5 bi que é o que a gente estima (valor da construção), faltariam R$ 700 milhões. Esses R$ 700 milhões que poderiam endividar o clube o mais próximo possível do final da construção. Porque estaria com faturamento de R$ 2 bi em uma dívida bancária. Quem entende um pouco de naming ritghts sabe que ninguém vai botar dinheiro cinco, seis anos antes de um negócio por 10 anos sem saber sequer se o estádio vai ficar pronto. O desconto financeiro que você vai ter é tão grande que talvez o dinheiro que você vai pegar agora seja de R$ 80 a 100 milhões. Não vai ser determinante para a construção do estádio, mas vai comprometer a rentabilidade futura do estádio."

Futebol e Filipe Luís

"Eu aprendi que a sua opinião como torcedor não pode influenciar o dia a dia do clube. Esse é um dos principais erros que a minha experiência com 10 anos ali dentro fez perceber. Todos nós achamos que sabemos muito quando a gente tem o poder e que a gente deve escolher A ou B. Eu entendo que a gente tem que ter um diretor técnico que tem o perfil que a gente gostaria, e esse profissional que vai escolher quem vai trabalhar com ele não vai ser o Bap. Se na hora que o Bap for eleito começar a dizer que tem que ser A ou B, você interfere no trabalho do cara, exatamente o modelo que a gente tem hoje. Não vou cometer esse erro. Tenho o maior respeito e admiração pelo Filipe Luís, mas nós vamos decidir isso em cima das definições do diretor técnico.

Guardiola e Simeone são dois ótimos técnicos. No Flamengo, não cabe um cara com perfil do Simeone, mas ele é um ótimo técnico. O Flamengo não teria esse tipo de coisa de: 'É, mas o Bap conversou com o Simeone, passou com ele 30 dias na seleção e achou o cara ótimo'. Não tem nada a ver com o nosso DNA.

Na época do conselhinho, o presidente era o Landim. A caneta era dele. Alguns modelos acontecem porque é possível fazer na hora. Eu sempre quis uma profissionalização ampla, geral e restrita do futebol, mas não era possível à época. O dia que eu for presidente do Flamengo, eu garanto para vocês que é como eu vou operar. Aliás, eu sempre disse isso. Talvez os meus argumentos não tenham sido suficientemente bons para convencer a quem de direito. Não vai ter conselho nenhum."

Finanças

"Isso é muito preocupante, o endividamento de curto prazo do Flamengo em até um ano é uma barbaridade. Essa última janela, o que está sendo gasto no final dessa gestão é uma loucura. E isso vai aparecer no balanço do fim de ano, só que depois das eleições. Isso vai aparecer ano que vem, esse endividamento de curto prazo. O Flamengo deve estar saindo de 40 a 50 milhões para 500, 400 e tantos milhões. Mas quem entende de balanço, quem entende de números, está vendo isso. A gestão atual nega, insiste que está tudo bem. Não está tudo bem. Nós temos uma bomba relógio armada para o próximo presidente do Flamengo. Sempre tem uma saída. Entendo que a situação do Flamengo hoje, em que pese ela ser delicada, o elenco é qualificado e nós, com alguns ajustes aqui e acolá, podemos ter um time muito forte, competitivo e para brigar por tudo com prioridade para o Brasileiro.

Eu entendo que do ponto de vista financeiro você tem que ser mais equilibrado. Agora, isso significa dizer que você não vai gastar? Não, mas nós não vamos gastar como foi feito nessa última janela. Essa última janela, do ponto de vista de direção de negócios, eu qualifico isso como temerária."

Liga

"O Flamengo assinou o novo contrato que foi aprovado pelo Conselho Deliberativo, vamos ter de conviver com ele. É um contrato que, em relação às bases anteriores, que eu havia participado da negociação, reduziu o faturamento do Flamengo de R$ 410 milhões em cinco anos. Vamos ter de buscar em outras frentes.

Então, os clubes vão assumir uma responsabilidade, um custo que hoje é da CBF, que nós não temos profissionais cuidando disso, como é que vai ser uma liga comandada por 20 clubes que não necessariamente se sentam à mesa e que conversam uns com os outros? Então, uma coisa é o conceito de você montar uma liga, outra é a dinâmica do mercado. Qual o propósito da liga, exatamente? Não está claro, não foi discutido."

Maracanã

"Eu entendo que agora, sabendo que a gente tem o Maracanã, você pode e deve melhorar a oferta. Não só a experiência do torcedor em dias de jogos, como em dias que você não tem jogos. Você pode fazer algumas coisas, ter área popular, acesso exclusivo na visitante. Eu entendo que algumas partidas o Flamengo deveria jogar no Maracanã, eu imagino que numa visão de negócio, eu acho que o Flamengo deveria fazer pelo menos 8, 10 partidas por ano no Maracanã. Eu acho que faria sentido o Flamengo jogar grandes clássicos eventualmente, grandes jogos, jogos imponentes, eu acho que sim, uma combinação do estádio do Flamengo com o do Maracanã eu acho que seria importante, e também geraria um potencial de marketing casado importante para a venda de produtos casados."

Apoios

"Eu entendo que a nossa campanha tem um ineditismo, que é de que nós não montamos uma campanha em cima de apoio de grupos políticos. Queríamos as melhores pessoas, as pessoas de bem conosco. A conversa foi toda em cima de princípios, do que a gente quer para o clube. Ninguém me pediu cargo nenhum. Hoje, nós temos uma chance única de vencermos uma eleição no Flamengo sem ter que dar nenhuma contrapartida política a nada nem a ninguém.

O processo eleitoral do Flamengo de 2024 foi igual ao de 2021, 2018, 2015, 2012, 2009... O conselho de administração do Flamengo tem 100 pessoas. Sendo que 48 deles são da chapa vencedora. A segunda colocada colocou mais 12. Todos eles têm um lado. Eu me isolei do processo eleitoral, me declarei por impedido de participar. Dentro daqueles 100, você tem que pegar gente que tem a formação jurídica, que entenda de estatuto. Sabe quantos caras acabam tendo ali dentro? Oito, 10. Eu tenho 48% de intenções de voto pela pesquisa recente. Então, em tese, de cada dois caras do Coad, um deve pensar como eu e deve votar em mim. Eu me licenciei em 22 de agosto. Não participei de nenhuma reunião de comissão permanente eleitoral. O presidente Landim botou o nome dele na camisa do Rodrigo e anda no clube como se ele fosse candidato. Começou o processo eleitoral dois meses antes. Permitiu que 102 sócios que tinham dívidas virassem laureados do clube no processo. É uma prerrogativa dele como presidente. O estatuto, certo ou errado, permite a ele que faça isso. Agora, quando é o teu concorrente fazendo alguma coisa ou te dando alguma decisão que você não gosta, você reclama."

Tragédia do Ninho

"Como ser humano, como pai, é muito difícil a gente opinar nisso. Eu estive distante de todo esse processo, foi tratado fundamentalmente pelo jurídico do Flamengo, com o presidente, com os escritórios de advocacia de fora do clube. Isso foi o único assunto da primeira gestão do Landim que eu tive total e completo distanciamento. Então eu acho que é injusto da minha parte falar de como que isso foi tratado."

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