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Dois torcedores do Peñarol soltos pela Justiça estavam em lista da Interpol

do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/11/2024 05h30

O UOL teve acesso aos documentos que envolvem a prisão dos torcedores do Peñarol após atos criminosos cometidos na praia do Recreio, na Zona Oeste (RJ), semana passada. No processo consta que a Interpol enviou relatório e identificou que dois dos dez que foram soltos nesta terça-feira (5) já foram proibidos de frequentar estádios por delitos cometidos em partidas no Uruguai.

O que aconteceu

José Ignácio Telechea, de 25 anos, e Federico Gonzalez, de 27, foram os apontados pela organização mundial. Telechea ficou impedido de 5 de abril de 2017 até 10 de janeiro de 2021. Já Gonzalez segue proibido até hoje por fatos ocorridos no dia 5 de outubro de 2022, em partida entre Peñarol e Plaza Colonia, no estádio Parque Artigas, na cidade de Paysandu, no Uruguai.

O juiz que havia os mantido em prisão preventiva ressaltou, na decisão, os riscos de lhes conceder liberdade, citando o histórico problemático da dupla.

Os sujeitos do processo estariam em conjunto com outros já conhecidos por perpetrarem anteriormente atos que os fizeram serem banidos de evento esportivos. Tal assertiva demonstra que há um alto risco em conceder a liberdade dos sujeitos, pois há uma alta possibilidade de que eles voltem a delinquir assim que estiverem soltos.
Patrick Couto Xerez Sobral, juiz do Tribunal de Justiça-RJ

Dupla e mais oito são soltos por demora do MP

José Telechea e Federico Gonzalez: torcedores do Peñarol presos no Rio foram proibidos em estádios - Secretaria de Estado de Polícia Civil / TJRJ - Secretaria de Estado de Polícia Civil / TJRJ
José Telechea e Federico Gonzalez: torcedores do Peñarol presos no Rio foram proibidos em estádios
Imagem: Secretaria de Estado de Polícia Civil / TJRJ

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu, na tarde desta terça-feira (5), soltar dez dos 21 torcedores do Peñarol. As prisões preventivas destes foram substituídas por medidas cautelares, que preveem a proibição de deixar o Brasil e de frequentar estádios, além da obrigação de comparecer ao juizado de dois em dois meses.

A decisão partiu do juiz Marcello Rubioli, do Juizado do Torcedor e Grandes Eventos. Entre os argumentos, alegou a demora do Ministério Público no oferecimento da denúncia, o que extrapolou o prazo da prisão preventiva.

Os 11 que seguem presos em Bangu 8, no Complexo de Gericinó (RJ), ainda terão seus casos avaliados. Foram soltos Michael Nicolas, Federico Gonzalez, Santiago Facundo Sacramento, José Telechea, Santiago Zapata, Carlos Ramiro Tamborideguy, Felipe Pedrini, Lautaro Machado Raimondi, Luis Antonio Cursio e Jorge Lúcio da Silva Lima.

A Secretaria de Administração Penitenciária garante que os presos estão sendo tratados com "isonomia". A Seap disse ao UOL que eles recebem quatro alimentações ao dia além de kits de higiene e roupas de cama. Também estão permitidos a receber visitas de advogados.

Testemunhas alegam racismo, agressões, furtos, depredações, calote e tiros

O UOL teve acesso aos depoimentos das testemunhas na delegacia. Os relatos de ambulantes e funcionários de quiosques apontam episódios de violência, racismo, depredações, furtos, calote em porções de camarões e até tiros efetuados pelos uruguaios.

O documento também afirma que todos reconheceram os criminosos na delegacia. Além de funcionários e ambulantes, também prestaram depoimento policiais militares que estavam no local da confusão.

Veja trechos dos depoimentos transcritos pela Polícia Civil

Soube que a torcida estava no local desde às 5h consumindo bebidas alcoólicas. A partir das 10h, começaram a pedir porções de camarão com batata, mas na hora do pagamento, por volta das 15h, começou a confusão. Eles não queriam pagar e começaram a fazer mímicas de macaco. Logo depois, começaram a quebrar as mesas, cadeiras. Que vários deles tinham facões e paus de barraca e partiram para cima do declarante e dos outros funcionários. Quando os autores foram levados, o declarante voltou e verificou que além de quebrarem o quiosque pegaram dinheiro do caixa, documentação de licença da Prefeitura, todo o material de consumo do quiosque como bebidas e lanches diversos.
Funcionário do quiosque

Percebeu que os torcedores do Peñarol começaram a saquear os quiosques; Que além do saque, os mesmos começaram a fazer gestos racistas de " MACACO"; Que um dos torcedores estava com arma de fogo, sendo ele gordinho, branco, por volta de 1,67m e uma tatuagem do Peñarol no peito; Que esse gordinho efetuou quatro disparos na direção do declarante e de outros ambulantes; Que o declarante percebeu que os ânimos estavam exaltados quando vários torcedores, dentre os quais agora sabe se chamar Jorge Lucio da Silva e Jose Telechea, subtraíram sua mochila com casaco, bermuda, dinheiro e chaves; Que o torcedor que portava arma foi quem iniciou toda ocorrência e os outros praticaram o roubo; Que os torcedores quebraram o quiosque; Que pôde perceber que também incendiaram uma moto e quebraram outro carro.
Ambulante

Presos alegam que foram agredidos por policiais no local e na delegacia

Na audiência de custódia, os torcedores do Peñarol alegaram que sofreram violência policial. Eles declaram que foram agredidos tanto na praia do Recreio quanto na delegacia.

Alguns dos presos estão sendo defendidos pelo escritório brasileiro "Gomes & Benfica". Os advogados alegaram que seus clientes sofreram uma "pescaria policial" e uma "tentativa de criminalização coletiva" por não terem provas contra eles.

Quem também está praticando a defesa dos torcedores é o escritório uruguaio "Jorge Barrera & Asoc", que pertence a Jorge Barrera, ex-presidente do Peñarol.

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