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Morre Adilson Maguila Rodrigues, brasileiro multicampeão de boxe

Beatriz Cesarini e Vinícius Bueno
do UOL

Do UOL, de São Paulo

24/10/2024 15h32Atualizada em 24/10/2024 17h33

Morreu na tarde desta quinta-feira (24) em São Paulo, aos 66 anos, o multicampeão de boxe Adilson Maguila, um dos principais pugilistas da história do esporte brasileiro, por complicações de encefalopatia traumática crônica (ETC).

Luto no esporte

A morte foi confirmada pela mulher de Maguila, Irani Pinheiro. "Ele acabou de falecer", disse, em contato telefônico com o UOL.

O UOL apurou que Maguila estava internado em um hospital em São Paulo há quase um mês após a descoberta de um nódulo no pulmão. Ele foi transferido à capital paulista da clínica em que morava em Itu, no interior do estado.

Ex-boxeador é conhecido como referência do esporte sul-americano e lutava contra doença degenerativa no cérebro, que recebe o nome de encefalopatia traumática crônica (ETC), causada pelos inúmeros golpes obtidos na cabeça durante a carreira como lutador.

Maguila se interessou pelo boxe ainda em Aracaju (SE), assistindo a lutas de Eder Jofre e Muhammad Ali. Quando veio para São Paulo, aos 14 anos, para trabalhar como ajudante de pedreiro, o esporte era uma realidade distante. Ao documentário Maguila, de Galileu Garcia, produzido em 1985 e lançado em 1987, o lutador contou que passou fome na capital paulista.

"Nunca pensei que ia ter essa saúde que eu tenho hoje porque eu fiquei amarelo, pálido. Foram três meses (comendo) pão com banana. E minha morada era um caminhão abandonado aqui no Butantã (zona oeste de São Paulo), desses que carrega entulho. Quando o dono descobriu que eu dormia lá, tirou o caminhão e eu fiquei (dormindo encostado) no poste."

Maguila começou a treinar boxe em 1979, mas só disputou a primeira luta amadora dois anos depois, na Forja dos Campeões. O motivo: o técnico Ralph Zumbano, que também é tio de Éder Jofre, preferiu estender o período de preparação do atleta porque sabia que tinha "algo raro nas mãos: um legítimo peso pesado" - a frase é do jornalista Fernando Tucori, que está escrevendo o livro "Maguila", sobre a vida do campeão - ele ainda estuda propostas para a publicação.

"Ele instruiu o Maguila a causar impacto na Forja. Foi a mesma coisa que o treinador Cus D'Amato, outro sábio, mandou o Mike Tyson fazer nas lutas amadoras. O povo quer ver peso pesado nocauteando. E foi isso que o Maguila fez. Por isso, o Newton Campos diz que as lutas que o Maguila não ganhou por KO, ganhou por WO", diz o jornalista. O KO é a sigla em inglês para nocaute. Já o WO, de desistência.

O ex-atleta realizou lutas marcantes com grandes pugilistas do esporte, como George Foreman e Evander Holyfield. Maguila acabou derrotado nas duas, dentre apenas sete lutas em que perdeu na carreira. Contra Foreman, em 1990, num dos encontros mais marcantes do boxe, acabou nocauteado no segundo assalto.

Com Holyfield, Miguel de Oliveira, pugilista e treinador de Maguila, deixou de treinar o brasileiro pouco antes da luta. Angelo Dundee, histórico técnico de boxe, passou a comandar os treinos do pugilista brasileiro e o mandou partir para cima do norte-americano durante a luta.

"Ele foi trocar com o Holyfield e caiu. Fui um nocaute terrível. Eu o acompanhei até o hospital, fiquei até as três horas da manhã. Quando ele acordou na maca perguntou: 'Ué, onde é que eu estou?'", disse Miguel ao UOL, que discordou das ordens de Dundee e falou que nocaute brutal poderia ter sido evitado.

O pugilista brasileiro venceu lutas que marcaram o boxe, contra James Quebra-Ossos Smith, Daniel Falconi e Andre van den Oetelaar, holandês para qual foi derrotado um ano antes, mas que Maguila pôde se vingar com nocaute depois, no Parque São Jorge, em São Paulo.

CBBoxe lamenta

A Confederação Brasileira de Boxe lamentou a morte de Maguila e fez uma homenagem através de um comunicado oficial.

É com muito pesar que recebemos a notícia do falecimento de José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, aos 66 anos. Lamentamos profundamente a perda de um dos maiores boxeadores brasileiros da história.

Maguila representava não só o boxe, mas todo o esporte brasileiro. Enchia-nos de orgulho e colocou a nobre arte na atenção do povo, contagiando a torcida que o acompanhava. Em resultados, foi campeão brasileiro, conquistou o Continental das Américas (WBC) e título mundial da Federação Internacional de Boxe (IBF). Mas para além deles, Maguila foi um expoente importante do boxe brasileiro até para aqueles que não conheciam a nobre arte.

A comunidade toda do boxe está em luto, nossos sentimentos à família e amigos do nosso eterno campeão dos pesos-pesados!

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