Zago relembra passagem em momento conturbado do Palmeiras: 'Não teria ido'
Antônio Carlos Zago chegou ao Palmeiras no início de 2010 com uma missão: substituir Muricy Ramalho e dar uma nova cara ao time alviverde, que vinha de um momento conturbado. Jovem e ainda no início da carreira como técnico, o ex-zagueiro e ídolo do Verdão e São Paulo sofreu pressão sobre seu trabalho do início ao fim.
Para ele, o 'sim' ao convite para assumir o Palmeiras foi um erro na ocasião.
"Se fosse voltar atrás, hoje, se eu tivesse com essa idade naquele tempo, se eu tivesse com essa experiência, eu não teria ido para o Palmeiras. Mas naquela época, jovem, saindo do São Caetano, fazendo um bom trabalho, vendo a perspectiva de fazer um bom trabalho também em uma grande equipe, no qual você foi ídolo, no qual a maior... maior parte da sua família é palmeirense, todo mundo ligando, não tinha como não aceitar o convite do Palmeiras, mas foi um dos piores momentos do Palmeiras".
Apesar de jovem - 41 na época - Zago acredita que o trabalho era promissor no Palmeiras e vinha colhendo bons frutos, mas foi interrompido.
"Apesar de eu não ter tanta experiência, acho que fazia dois, três anos que eu tinha começado como treinador, eu sempre estudei, sempre procurei melhorar e estava fazendo um bom trabalho. Só que chegou num jogo contra o Vasco, que nós empatamos no Rio, se eu não me engano, aí acabei saindo".
Demissão e chegada de Felipão
Dias após demitir Zago, o Palmeiras anunciou a chegada de Felipão como novo técnico. O treinador, no entanto, só assumiria o Verdão no meio do ano, em julho de 2010.
Zago, porém, ouviu que a contratação do experiente treinador já estava nos planos do Alviverde antes mesmo de sua demissão, fato que o deixou chateado com membros da diretoria na época.
"Eu não sei se na época do Palmeiras me contrataram como um tampão também, entende? Um bombeiro para apagar incêndio ali. Mandaram embora o Muricy e buscaram um treinador emergente. Quando você busca um treinador emergente, é para você ver a maioria das vezes também o que está acontecendo no mercado. E aí eu fiquei lá 4, 5 meses.
"Pelo que me falaram, já estavam conversando com ele desde janeiro, e ele falou que viria pro Palmeiras só em junho, julho. Então me pegaram nesse meio aí, e depois me mandaram embora e foram atrás do Felipão, fiquei sabendo depois. Fiquei p*** porque os caras que me contrataram tinham sido meus diretores no Palmeiras na época da Parmalat? então você acaba ficando chateado, mas com o tempo passa e são coisas do futebol mesmo".
'Bronca' de 'El Loco' Bielsa
O dia 17 de junho de 1992 não sai da memória do torcedor tricolor - e nem de Marcelo Bielsa. Foi nesta exata data, no Morumbis, que o São Paulo venceu o Newell's Old Boys, da Argentina, nos pênaltis e conquistou a Libertadores pela primeira vez.
Para Zago, uma grande conquista. Para 'El Loco' Bielsa, um gosto amargo. O destino iria promover um encontro entre os dois, mas com o ex-zagueiro agora na função de técnico. Em junho, Bolívia e Uruguai se enfrentaram pela Copa América, dessa vez quem se saiu melhor foi o treinador argentino, que aproveitou para relembrar a perda do título de 92 e 'cutucar' Zago.
"Eu tive um jogo contra o Uruguai que praticamente eu fiquei conversando com o Bielsa ali uns cinco minutos. E quando eu me aproximei dele, porque eu me aproximei dele para abraçá-lo mesmo, porque é uma referência para a maioria dos treinadores, a primeira coisa que ele me falou foi: "você me tirou a única Libertadores que era para eu ganhar". Aí eu disse que eles tinham um time bom também, acho que foram dois ótimos jogos, a gente começou a conversar, até espero um dia poder sentar com ele para trocar algumas ideias, aprender um pouco mais também. Magoou (Bielsa), porque foi um grande jogo na Argentina, uma briga e tanto para chegar no estádio. Naquela época, a torcida era mais agressiva do que é hoje. Jogar contra a Argentina em uma Libertadores ou Uruguai era uma briga. E a gente acabou perdendo lá de 1 a 0, tivemos algumas chances, uma com o Muller, que se eu não me engano, cara a cara com o goleiro, chutou por cima. Depois aqui, a volta no Morumbi, também. No primeiro tempo eles tiveram uma bola na trave, aí depois a gente controlou o jogo, acabamos chegando num gol de pênalti também, e aí depois ganhamos nas penalidades".
Vontade de voltar ao futebol brasileiro e 'não' para antiga função
Antônio Carlos Zago foi demitido da seleção boliviana em julho, onde estava no comando técnico desde outubro do ano passado. Agora, o foco do técnico é voltar ao futebol brasileiro, por onde passou por diversos clubes, como Inter, Palmeiras e Bragantino. Se fosse para escolher, iria optar por assumir um time de São Paulo, mas não fecha as portas para outros mercados.
"Lógico que seria bom ficar aqui no estado de São Paulo. Estou em casa, mas nos outros estados também não é um problema. Lógico que a prioridade sempre é de um time que joga a Série A, mas também talvez a Série B que tenha projeção para subir para a Série A no ano seguinte. Eu acho que isso aí é importantíssimo".
Antes de se assumir como técnico de futebol, Zago passou por outra função nos bastidores da bola: a de diretor de futebol. Em 2008 e 2009, o ex-zagueiro foi diretor de futebol do Corinthians, logo após o rebaixamento da equipe para a Série B. Mas se depender dele, para essa posição - a qual tem muitas ressalvas - ele não voltará tão cedo.
"Diretor de futebol agora não. Eu fui e aí depois que eu parei fui ser treinador. Eu não concordo muito com os caras que entram para ser supervisor, cai o treinador, ele assume interinamente e aí depois efetivam ele no cargo como treinador. Dali ele já vai trabalhar como treinador num outro clube, aí ele cai ou é mandado embora, aparece uma oportunidade como diretor lá? eu vejo isso aí como um cara que talvez não saiba o que quer na sua carreira e também tira a possibilidade de outros treinadores treinarem uma determinada equipe".
"Eu acho que quando você é supervisor, quando você é diretor de uma equipe, você nunca pode chegar a ser treinador, nem interino. Você tem que fazer o que o Muricy faz no São Paulo, que isso para mim, sim, é um cara que desde o começo ele sempre falou que não ia assumir e não assumiu, e o São Paulo já convidou ele várias vezes para assumir interinamente e ele não quer".
Dorival 'fritado' e o peso da ausência de Neymar
Zago é direto: as críticas sobre o trabalho de Dorival Júnior na seleção brasileira tem sido exageradas. Para o ex-técnico da seleção boliviana, a queda de rendimento da amarelinha já vem de alguns anos, e Dorival pouco pode mudar até aqui.
Treinador estrangeiro? Não para Zago, que também aponta a ausência de Neymar, que vem se recuperando de uma grave lesão no joelho, como fator que vem prejudicando o sucesso da seleção. O técnico diz que o camisa 10 tem algo a mais que outros nomes do Brasil como Vini Jr e Rodrygo não tem.
"Eu acredito que é exagerado (críticas sobre Dorival). Talvez o Dorival não teve uma experiência no exterior e a maioria dos jogadores que nós temos todos atuam no exterior. São craques da futebol. O futebol é a mesma coisa? Não é, tem diferença. Não adianta querer falar que é a mesma coisa, que não é, daquilo que se faz aqui no Brasil e do que se faz na Europa. Eu vi uma uma entrevista do Thiago Escuro (diretor do Monaco) esses dias e ele está tendo essa visão agora, que o jogador europeu se prepara bem mais do que o jogador brasileiro, apesar que na seleção os caras já vêm preparados já e tem que seguir o seu protocolo dentro da seleção. Então eu acho que a cobrança em cima do Dorival vem sendo exagerada, porque o Brasil já não vem bem já há alguns anos".
"Nos últimos jogos tem faltado o nosso principal jogador, que é o Neymar, que na minha opinião é o jogador que faz a diferença, é a referência que nós temos na seleção hoje, apesar de ter Rodrygo, Vini Júnior, mas não chega a ser o Neymar ainda. Acredito que tem que dar tempo para o Dorival. O pessoal fala de treinador estrangeiro na seleção. Já tem o Dorival, então eu sou contra".