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Morte de torcedor do Fla tem processo arquivado e ainda é trauma no Rio

Torcedores do Peñarol detidos no Rio, em 2019, após briga no Leme: um rubro-negro morreu Imagem: Silvia Ribeiro / UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/09/2024 05h30Atualizada em 17/09/2024 15h28

A paisagem estonteante da praia do Leme é um convite à histórica canção "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. E por ironia do destino, foi diante dos "olhos" da estátua do compositor que no dia 3 de abril de 2019 uma batalha campal, em plena luz do dia, culminou na morte do capixaba Roberto Vieira de Almeida, então com 56 anos, agredido de forma brutal por torcedores do Peñarol antes da partida contra o Flamengo, pela Copa Libertadores.

Roberto era conhecido no Espírito Santo por fazer excursões, havia décadas, para jogos do Flamengo, e organizou o ônibus que, por volta das 17h daquele dia — segundo denúncia do Ministério Público — parou na Avenida Atlântica, altura do nº 458, para que os turistas conhecessem o local. Porém, o que era para ser um momento de alegria e boas recordações, tornou-se um pesadelo trágico.

Os rubro-negros — que não eram de organizadas — foram atacados pelos uruguaios e Roberto, que tentava apartar, levou a pior, sofrendo golpes na cabeça com socos, chutes, garrafadas e cadeiradas. Ele foi levado ao hospital Miguel Couto, na Zona Sul, já em estado grave.

A internação teve períodos de coma e alguns poucos momentos de esperança, onde chegou a acordar e falar brevemente com familiares. No entanto, morreu em 18 de fevereiro de 2020, após dez meses de internação.

Imagem: Arte/UOL

Uruguaios ficaram presos por alguns meses

Estátua de Ary Barroso fica no local onde aconteceu pancadaria entre torcedores de Fla e Peñarol Imagem: Bruno Braz / UOL

Após a pancadaria em pleno calçadão, e já com Roberto vitimado, a Polícia Militar chegou ao local, entrou em confronto com os uruguaios — que estavam em três ônibus — e conseguiu deter cerca de 151 torcedores do Peñarol.

Após investigação, três deles permaneceram presos: Dennis Oscar Viega González, Fernando Segundo Carreno Tucce e Gianfranco Steffano Cattapan Flores, enquadrados nos artigos 41-B do Estatuto do Torcedor (praticar violência), além dos 129 (lesão corporal grave) e 329 (apresentar resistência) do Código Penal.

Eles ficaram em reclusão até 11 de junho de 2019, quando tiveram as prisões preventivas convertidas para medidas cautelares mediante o pagamento de fiança. A exigência foi a de permanência no Brasil, com endereço fixo, enquanto o caso tramitasse.

Durante este período, tiveram a ajuda financeira de familiares e de organizadas do Peñarol — que fizeram "vaquinha" — para se manterem no país. Também sobreviveram de "bicos".

O episódio gerou certa rusga entre torcida e a diretoria do Peñarol. Insatisfeitos com o silêncio da cúpula do clube, torcedores levaram ao estádio faixas em apoio aos detidos em um jogo contra o Danúbio, pelo Campeonato Uruguaio daquele ano. Na versão deles, o efetivo policial era pequeno e a confusão começou após provocação de rubro-negros.

Em maio de 2022, em segunda instância, foi dado "parcial provimento aos recursos para redimensionar a resposta penal" à sentença que condenou os uruguaios. No caso de Dennis Gonzales, para dois anos de reclusão, mais dois meses de detenção em regime inicial semiaberto; de Fernando Tucce para um ano e oito meses de reclusão, mais dois meses de detenção em regime inicial semiaberto; e de Gianfranco Steffano para sete anos e oito meses de reclusão, mais dois meses de detenção em regime inicial fechado.

O UOL teve acesso aos termos de comparecimento de Gianfranco Steffano. Ele assinou mensalmente a presença em cartório de 6 de outubro de 2021 até 8 de maio de 2024.

Em julho de 2022 um recurso especial não foi admitido. No mês seguinte, o caso chegou ao STJ, que concordou com os documentos apresentados até então.

Em julho deste ano, após todas as apelações realizadas, o caso foi encaminhado para arquivamento.

Sentença que extinguiu a punibilidade aos torcedores do Peñarol envolvidos na pancadaria no Leme que culminou na morte do rubro-negro Roberto Vieira

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-- Bruno Braz (@bbraz.bsky.social) September 17, 2024 at 2:38 PM

'Todo mundo do bairro conhece essa história'

Placa da Prefeitura no local onde houve briga de torcidas de Fla e Peñarol: "estamos de olho!" Imagem: Bruno Braz / UOL

O UOL esteve, no último dia 10, no local onde aconteceu o crime. De acordo com a denúncia do Ministério Público, a briga foi em frente ao restaurante "La Fiorentina", que se encontrava fechado para obras. É exatamente ali que há a estátua de Ary Barroso.

Na calçada central, há também uma placa fixada em um poste, com a imagem de uma câmera, e os dizeres: "Estamos de olho! Região monitorada pela Prefeitura".

Bem ao lado do local há um ponto de táxi, e os motoristas ali presentes se recordam bem daquele dia.

"Foi uma pancadaria generalizada. Um corre-corre danado. Começou aqui (ponto da entrevista) e foi até lá (apontando para o quiosque). A briga não parava", disse o motorista Francisco Ramalho.

O UOL visitou também os quiosques do outro lado da avenida, para onde a confusão prosseguiu. Por lá, a maioria preferiu a discrição para preservar os estabelecimentos, mas todos lembram.

Todo mundo conhece esse caso, aqui o bairro é pequeno. Mataram o senhor na covardia.
Funcionária de um dos quiosques

Termo de comparecimento de Gianfranco Steffano, um dos torcedores do Peñarol que chegou a ficar preso, mas que após pagamento de fiança cumpriu medidas cautelares

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-- Bruno Braz (@bbraz.bsky.social) September 17, 2024 at 2:38 PM

Familiares de Roberto optam pelo silêncio

Rubro-negro Roberto Vieira foi brutalmente agredido por torcedores do Peñarol e faleceu dez meses depois Imagem: Arquivo pessoal

O UOL buscou, por cerca de duas semanas, falar com parentes de Roberto Vieira de Almeida. Foram feitas tentativas de intermediação, mas até o fechamento desta reportagem os familiares não retornaram os contatos. Caso eles decidam se pronunciar, a matéria será atualizada.

O Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro também foi consultado. Em nota, o órgão preferiu "preservar a privacidade de seus compatriotas". Veja abaixo:

Confirmamos o recebimento de sua consulta e, com as devidas vênias, esclarecemos que o Consulado Geral do Uruguai no Rio de Janeiro não comentará o tema para preservar a privacidade de seus compatriotas. A informação judicial a respeito dos mesmos é pública e disponível.

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