Topo
Esporte

Conheci a cidade que recebeu Brasil no tetra e foi difícil achar lembranças

do UOL

Do UOL, em Los Gatos (EUA)

16/07/2024 04h00

Casa da seleção brasileira há 30 anos, quando a equipe nacional conquistou o tetracampeonato mundial, o pequeno vilarejo de Los Gatos, cidadezinha próxima a San Francisco (EUA), não guarda nenhuma recordação física da passagem canarinha por lá, mas quem viveu a história guarda com carinho na memória.

Quando eu cheguei a Los Gatos, a primeira tentativa de encontrar uma referência foi óbvia: ir ao hotel Villa Felice, que hospedou a seleção. Só que o hotel não existe mais: ele fechou as portas em 1999.

O prédio foi derrubado e em seu lugar hoje há um condomínio residencial. Até mesmo a rua que tinha o nome Villa Felice mudou para Milani, nome do novo dono do pedaço.

Ao andar pelas ruas do condomínio, o único verde encontrado é o dos jardins e o único amarelo fica por conta do hidrante. Referências ao esporte? Exceção feita a uma tabela de basquete pendurada na garagem de uma casa, nenhuma.

hidrante amarelo - Eder Traskini/UOL - Eder Traskini/UOL
Hidrante é a única coisa amarela que sobrou do hotel que hospedou a seleção brasileira em 1994
Imagem: Eder Traskini/UOL

A calma do lugar, que pesou para a seleção escolher o hotel, segue intacta. Conversei com seis pessoas que saíam de suas casas de carro ou para andar com o cachorro e ninguém conhecia a história brasileira ali, bem como não sabiam nada sobre o Villa Felice Hotel.

Acontece que o condomínio ali é novo e quem mora ali chegou na cidade há pouco tempo. O sétimo carro que parei para perguntar sobre o Brasil foi o primeiro a lembrar da história.

"Sim, eu me lembro. Eu estive lá na cidade, foi muito divertido". Ele me explicou onde tinha sido a festa e, então, eu fui até lá.

Escolhi logo um bar esportivo pensando que ali encontraria algo relacionado ao Brasil. Errei feio. Não só não havia nada verde e amarelo por ali como não havia nenhuma foto do nosso futebol: as paredes eram cobertas somente com referências aos esportes americanos.

Resolvi perguntar a um senhor já com certa idade que tomava um chopp no bar. "É verdade? Não conheço a história, na verdade nem gosto de soccer", me disse ele se referindo ao nosso futebol. Eu estava no lugar errado.

Mas será que havia um lugar certo? Comecei a andar pela rua principal sem muita esperança. Passei por restaurantes e lojas por algumas quadras até que avistei, dentro de uma barbearia, uma camisa amarela por trás de um avental. Seria do Brasil?

Entrei no lugar e confirmei minha teoria: era do Brasil. Cole Dino Masouris, o dono da barbearia, namora uma brasileira e estava com a camisa em apoio ao Brasil na Copa América. Quando ouviu que eu era brasileiro, se animou ao lembrar da história que ouviu de sua mãe.

masouris - Eder Traskini/UOL - Eder Traskini/UOL
Cole Masouris, dono de uma barbearia na cidade, ouvia da mãe a história da seleção brasileira
Imagem: Eder Traskini/UOL

"Os mais velhos aqui sempre sentam para contar aos mais novos: uma vez, a seleção brasileira ficou aqui e a cidade foi tomada! Contam que foi loucura, insanidade", disse Masouris, que lamentou a ausência de recordações físicas da época.

Deveria haver estátuas disso, mas não há nada. A cidade aqui é muito pacata e quando o Brasil ficou aqui foi festa o tempo todo. As pessoas ouviam o que estava acontecendo e iam para a praça para ver a festa brasileira

As estátuas têm seu valor em matéria de imortalizar algo. O Brasil pode não ter algo assim em Los Gatos, mas as memórias de pai para filho jamais vão deixar esse capítulo da história brasileira ser esquecido em terras americanas.

Esporte