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Repórter deficiente que viralizou supera acesso a estádios e tem até bordão

Repórter Rogério Roque durante partida de futebol - Alênio Júnior/Clicksports PB
Repórter Rogério Roque durante partida de futebol Imagem: Alênio Júnior/Clicksports PB
do UOL

Thiago Tassi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

31/03/2019 04h00

"Eu costumo dizer que nós não somos deficientes, nós somos eficientes. O importante e o que eu gostei dessa repercussão toda é a mensagem passada. As pessoas julgam demais as outras, se acham melhores que as outras. Todos somos iguais. Por isso uso (a frase) no Instagram", afirma Rogério Roque, repórter que viu a vida revirar (para o bem) desde a última semana, em referência à frase que abre o seu perfil no Instagram: "O comentarista eficiente".

A expressão que estampa a rede social do repórter é mais que uma resposta bem-humorada a qualquer tipo de preconceito que as pessoas possam ter com ele devido à doença de nascença, osteogênese imperfeita, que limita seus movimentos e o obriga a se locomover com ajuda de muletas. É também o bordão que aparece e é repetido na web rádio "Rede Primeiro Minuto", de Campina Grande (PB), quando Rogério é acionado nas transmissões dos jogos de futebol que cobre no estádio, há pouco mais de um ano e meio.

Em mais um "dia no estádio de futebol" em que colaborava no portal fundado pelo irmão e narrador Luiz Carlos Roque, como ele próprio definiu ao UOL Esporte, o repórter foi surpreendido por uma atitude espontânea e gentil do goleiro do Campinense. Mesmo após a derrota de seu time para o Botafogo-PB por 1 a 0 no estádio Almeidão, no último dia 20, Wagner Coradin, de 1,96 m, decidiu atender ao jornalista de cerca de 1,30 m. Para isso, optou por se ajoelhar na hora da entrevista. O momento acabou registrado e compartilhado pelo fotógrafo Alênio Júnior, e pronto. Viralizou rapidamente nas redes sociais.

"Foi uma coisa natural que o Wagner fez, totalmente espontânea na hora que fui entrevistá-lo. Eu não imaginava nunca que isso ia acontecer. No dia seguinte, eu acordei com meu irmão me ligando, falando da repercussão. Eu fiquei sem entender. Nenhum dos envolvidos esperava, na verdade. Nem o Wagner, nem o Alênio, nem eu", disse o repórter.

Aos 31 anos, Rogério Roque colabora no portal esportivo fundado pelo irmão desde quando foi criado, há cerca de dois anos. Apesar das dificuldades de locomoção e falta de acessibilidade nos estádios, ele conta que nunca sofreu preconceitos no meio esportivo a partir de quando passou a fazer externas (cobrir os eventos in loco).

Rogério Roque  - Alênio Júnior/Clicksports  - Alênio Júnior/Clicksports
Imagem: Alênio Júnior/Clicksports

"Nesse meio ainda não sofri. Se alguém falou alguma coisa, foi por trás, eu não cheguei a presenciar. Creio eu que vai acontecer (um ato preconceituoso), é uma coisa natural em nosso país, infelizmente. Eu procuro não deixar espaço. Em toda minha vida procurei transmitir minha segurança, o que sou, para não ser taxado de 'coitadinho'", manifestou o administrador por profissão, que faz questão de lembrar a falta de igualdade no mercado de trabalho.

"Muitas empresas têm as vagas para deficientes, por lei, mas nós notamos que não é a mesma coisa. Não é o mesmo critério para uma pessoa sem limitação. A parte salarial é um diferencial muito grande. Geralmente não dão também chance de crescimento, são vagas apenas para auxiliar, assistente. Isso é o preconceito", pontuou.

(Falta) de estrutura dos estádios é principal obstáculo

Celular, prancheta, caneta, muletas. Nada disso atrapalha Rogério ir atrás dos jogadores durante a realização de uma partida. Ele se adaptou, foi arrumando "um jeitinho", como diz. O grande obstáculo em uma cobertura, na verdade, é a falta de estrutura da maioria dos estádios. Mas ele supera por amor ao futebol -- e ao rádio.

"A limitação que nós temos são os estádios de futebol. A maioria dos estádios de futebol não tem acessibilidade para chegar no gramado. Mas isso a gente passa por cima para levar aos nossos ouvintes a emoção do rádio. O rádio em si transmite muita emoção, é apaixonante. A gente passa por cima".

Gesto já havia sido feito antes, também por um goleiro

Engana-se quem pensa que Wagner Coradin foi o primeiro jogador a realizar um ato gentil e inclusivo. No mesmo Almeidão, o primeiro atleta a se ajoelhar para conversar com Rogério foi o goleiro Alan, do Londrina. Ele "inaugurou" o gesto no dia 13 de março, na vitória de sua equipe sobre o Botafogo-PB, por 2 a 0, em jogo válido pela Copa do Brasil.

Acontece, porém, que a imagem não foi compartilhada por Alênio Júnior como a de Wagner, e não ganhou repercussão. O fotógrafo, aliás, acompanha e admira o trabalho de Roque e divulgou a imagem ao lado do goleiro do Campinense em um grupo de WhatsApp a fim de presenteá-lo.

"O que me chama a atenção é a força de vontade dele. Eu sei como é difícil acompanhar os jogadores. E ele sempre está presente, na chuva, no sol. Eu era fã dele sem nem o conhecer. Quis dar um presente", contou o fotógrafo, que teve a ajuda da divulgação da irmã, jornalista, para que o registro chegasse ao repórter.

Desejo de seguir no jornalismo

Pai de uma filha, Rogério Roque é um dos vários colaboradores no portal do irmão. Ao lado de Luiz Carlos e Ricardo, o irmão do meio, nutre a paixão por futebol desde cedo, quando acompanhavam o pai em torneios de várzea. "Faz-tudo" de forma gratuita no portal paraibano -- repórter, comentarista, produtor e por aí vai --, ele quer seguir no jornalismo esportivo. Para isso, pensa em aprimorar os estudos para conseguir um emprego remunerado na área.

"Minha pretensão é fazer cursos na área, meu próximo foco é uma pós-graduação em Marketing Esportivo. Quero continuar no meio, que é uma paixão que herdamos do nosso pai", concluiu.

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