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Julgamento pode dividir a Meta ao meio

Donald Trump e Mark Zuckerberg durante encontro na Casa Branca em 2019 - Joiyce N. Boghosian/Divulgação/Casa Branca
Donald Trump e Mark Zuckerberg durante encontro na Casa Branca em 2019 Imagem: Joiyce N. Boghosian/Divulgação/Casa Branca
do UOL

Colunista de Tilt

14/04/2025 15h03

A Meta ocupará o banco dos réus em um julgamento com potencial de desmantelar seu império ao reverter a integração de Instagram e WhatsApp e, de quebra, testar o efeito da aproximação de Mark Zuckerberg junto ao presidente norte-americano Donald Trump.

O que rolou

Acusada de exercer um monopólio ilegal sobre as redes sociais, a Meta está diante de um xadrez político, tecnológico e de mercado. Nesse tabuleiro, você conhece as peças e até está familiarizado com seus movimentos, já que:

  • O caso nasceu após o Facebook ter comprado Instagram (2012) e WhatsApp (2014). Na época...
  • ... A Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) aprovou as aquisições, mas mudou de ideia em 2020, quando...
  • ... No último ano de Trump 1, acusou na Justiça a empresa de Zuckerberg de ser um monopólio e exigiu sua divisão. Pedido negado. Só que...
  • ... Em recurso no ano seguinte, a FTC mostrou que a companhia, renomeada como Meta, omitiu documentos internos que comprovariam a intenção de abocanhar os dois rivais para se manter dominante nas redes sociais. Caso aceito em decisão do ano passado. E o prognóstico não é bom, já que...
  • ... Antes comandada pela democrata Lina Khan, uma crítica ferrenha das gigantes de tecnologia, a FTC passou a ser liderada por Andrew Ferguson, um republicano comprometido a debelar supostos ataques promovidos pelas Big Tech contra a liberdade de expressão.

Por que é importante?

Para derrubar a ação ainda em 2024, a Meta argumentou que a ideia de monopólio da FTC desconsiderava concorrentes gigantes, como o YouTube. Para a comissão, Instagram e WhatsApp cresceriam e virariam oponentes de peso, mas a empresa rebateu: foram seus investimentos que transformaram a dupla na potência de hoje.

Nos bastidores, a Meta vem conectando a infraestrutura de seus aplicativos desde 2019. Hoje, estão umbilicalmente ligados. A faceta visível da ação é a conexão entre contas do Facebook, Instagram e Messenger. Com ela, você posta em uma rede social a partir da outra. Uma condenação por monopólio colocaria esse arranjo em risco. Também sacrificaria o esforço da plataforma para construir um perfil único do usuário com dados obtidos de todas as plataformas e assim destinar a ele anúncios mais valiosos.

Não é bem assim, mas está quase lá

A troca de Khan por Ferguson parece seis por meia dúzia, mas não é bem assim. O destino da Meta depende de uma administração federal para lá de volátil. Zuckerberg sabe disso, tanto que desde o começo do ano se aproxima do ex-desafeto Donald Trump. Acabou com a moderação automática, trocou checadores de fato por notas da comunidade e trouxe de volta o conteúdo político. O último lance é o lobby direto, de acordo com jornais norte-americanos.

Ferguson aponta o nariz para onde o vento Trump soprar. Em um mesmo evento na capital Washington, ele disse que o escrutínio das gestões anteriores sobre as Big Tech era frouxo. Em seguida, afirmou que, se Trump pedir, ele respeitaria e abandonaria o caso. Mas, acrescentou, não acredita que o presidente faria isso.

canziani - Divulgação - Divulgação
Luísa Canziani, deputada federal (PSD-PR)
Imagem: Divulgação

O mundo dá voltas. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, escolheu a deputada Luisa Canziani (PSD-PR) para presidir a Comissão Especial que tratará do PL de Inteligência Artificial. Ela relatou o primeiro projeto sobre o tema a ser aprovado na Casa, mas soterrado no Senado por decisão do então presidente Rodrigo Pacheco, que criou uma comissão de juristas para elaborar uma proposta -é fruto desse trabalho o texto que chega à Câmara e será avaliado por Canziani. O relator será Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Não faz um Pix aí. Já alvo de processo pela conduta na App Store, a Apple agora é investigada pelo Cade por dificultar outras empresas de rodar pagamentos sem contato nos iPhones. "A Apple impõe restrições e dificuldades excessivas de modo a favorecer o uso de sua própria carteira digital, impedindo que desenvolvedores de outras carteiras digitais tenham acesso à tecnologia NFC e possam oferecer alternativas independentes do Apple Pay", diz a nota técnica que embasa o inquérito. Com isso, o Pix por aproximação não deve chegar tão cedo aos iPhones, enquanto já pode ser feito por Androids.

Anatel para xerife das Big Tech. Em audiência do Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional, o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, defendeu dar à agência a tarefa de regular e fiscalizar as plataformas digitais. Hoje, o órgão vigia serviços de telecomunicação, como celular e TV paga, mas ficam fora de sua alçada os serviços que dependem da internet para funcionar e a radiodifusão.

Nada a ver. Na última reunião do Conselho Diretor, a Anatel equiparou internet e telecomunicação, o que disparou uma crise no setor. O movimento está conectado com a tentativa de vigiar as Big Tech? Nada a ver.

São assuntos associados a esse contexto digital, mas desconexos enquanto estratégia de atuação da agência. São coisas conectadas, mas que não fazem parte da mesma estratégia
Carlos Baigorri, presidente da Anatel

Da IA do Zap...
O 'círculo azul' do WhatsApp acabou de ficar mais poderoso. A Meta liberou uma nova versão do modelo por trás da Meta AI, o Llama 4. São três versões. Usando testes de benchmark, a Meta afirma que a nova IA é superior ao Gemini (2.O Flash-Lite), do Google, ao GPT 4o, da OpenAI, e precisa de metade da capacidade para se comparar às habilidades de programação do DeepSeek (V3).

... à IA da busca
O Google turbinou o Modo IA, chatbot de IA plugado à internet para responder buscas online. Se antes lidava apenas com questões escritas, agora ele vê o conteúdo de imagens e pode fazer pesquisas a partir delas. Ainda em testes, o Modo IA, evolução do AI Overviews, é a resposta do Google à ameaça ao seu domínio nas buscas imposta por ferramentas de IA, como ChatGPT e Perplexity.

elon - Nathan Howard/Reuters - Nathan Howard/Reuters
O bilionário Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental dos EUA
Imagem: Nathan Howard/Reuters

Dito e feito. Checadores de fato já não atuam no Facebook, Threads e Instagram nos EUA há uma semana. Anunciado por Mark Zuckerberg em janeiro, o fim do programa foi comunicado por Joe Kaplan, chefe global de políticas públicas da Meta. "Isso significa sem checagem de fatos e chegadores de fato", escreveu no X. "Legal", respondeu Elon Musk, dono do ex-Twitter. A partir de agora, a Meta adota as Notas da Comunidade, textos feitos por usuários que serão destacados conforme receberem mais votos. É assim no X.

A primeira a morrer em guerras. A Meta pode ser julgada no Quênia por não coibir no Facebook notícias falsas que levaram a mortes na Etiópia. Entre 2020 e 2022, os exércitos etíope e eritreu guerrearam contra a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF, na sigla em inglês) pela região etíope do Tigré.

O caso mais emblemático é o de Meareg Amare Abreha, professor da Universidade Bahir Dar. Acusado por uma notícia falsa de apoiar a TPLF, ele foi baleado na porta de casa. Por sete horas, militantes armados impediram o socorro de familiares até que ele morresse.

Para enterrar a ação judicial, a Meta argumentou não poder ser julgada onde não está registrada como empresa. Nessa situação, os termos de uso do Facebook preveem que o caso seja tratado na Justiça dos EUA. Juízes quenianos já afastaram essa hipótese. Agora, a Suprema Corte do Quênia decidiu que o país tem jurisdição para analisar a questão. Além de reparação equivalente a R$ 14,5 bilhões, a petição pede à Meta:

  • mudança nos algoritmos e moderação para impedir discursos de ódio virais;
  • medidas para reduzir incitações à violência em suas plataformas e;
  • mais moderadores de conteúdo no Leste e no Sul da África.

Maps de caminhos abertos...
Já usado por 10 milhões de sites e apps, o Google Maps agora poderá ter seus dados usados por cidades e empresas que queiram acessar informações da plataforma sobre a infraestrutura urbana ou do trânsito. Dá para averiguar a lotação de estabelecimentos comerciais, o histórico do fluxo de veículos e o desmatamento de uma área.

... e robôs sem legenda
O Amazon Q, chatbot de IA da empresa, agora fala português para ajudar desenvolvedores brasileiros a criar códigos. Para a consultoria IDC, o futuro da programação será assim: um humano conversando com uma máquina, que escreverá o código. Até 2028, 70% das soluções digitais serão criadas com programação em linguagem natural.

sarah - Divulgação/Sarah Wynn-Williams - Divulgação/Sarah Wynn-Williams
Sarah Wynn-Williams, ex-diretora de políticas globais do Facebook
Imagem: Divulgação/Sarah Wynn-Williams

Pessoas descuidadas. Sarah Wynn-Williams, ex-diretora de políticas globais do Facebook, continua apertando a saia justa que vestiu na Meta. Ela despertou a ira da empresa com o "Careless People", best-seller que descreve as práticas controversas -e nomeia cada um dos responsáveis por elas- que levaram a startup do ex-universitário Mark Zuckerberg a virar um colosso da mídia com ramificações políticas.

O livro é "mistura de alegações desatualizadas e já divulgadas anteriormente sobre a empresa, além de acusações falsas contra nossos executivos", classificou a Meta, que tem impedido Wynn-Williams de promover a publicação com base em acordo de confidencialidade assinado por ela em 2017, ao ser demitida. Em depoimento a um subcomitê de crime e terrorismo do Senado dos EUA, ela contou ter presenciado o Facebook auxiliando a China a silenciar dissidentes políticos.

Mark Zuckerberg se proclamou defensor da liberdade de expressão, mas eu testemunhei a Meta trabalhar lado a lado com o Partido Comunista Chinês para construir e testar ferramentas de censura feitas sob medida, que silenciavam e censuravam seus críticos
Sarah Wynn-Williams

O senador Josh Hawley, republicano do Missouri, quer abrir investigação.

Ouça a audiência

Vaniya Agrawal, funcionária da Microsoft
'50 mil palestinos foram assassinados com tecnologia da Microsoft em Gaza. Como vocês ousaram. Vergonha de vocês celebrando sobre o sangue deles. Cortem laços com Israel'

Abrham Meareg Amare, filho do professor morto após fake news na Etiópia
'Mark Zuckerberg deve pensar que Justiça começa e termina nas fronteiras dos EUA. Estou feliz que o tribunal [do Quênia] demonstrou hoje que não é o caso'

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