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Mesmo com críticas, 'Doctor Who' é sobre robô com raio laser, diz produtor

Nova fase de "Doctor Who" está disponível no Disney+ - Divulgação/Disney+
Nova fase de 'Doctor Who' está disponível no Disney+ Imagem: Divulgação/Disney+
do UOL

De Splash, em São Paulo

13/04/2025 05h30

A segunda temporada de "Doctor Who" na Disney+ chegou ontem à plataforma. Com Ncuti Gatwa (Doctor) e Millie Gibson (Ruby Sanday), a série da Disney Branded Television e da BBC, conta com oito capítulos que chegam semanalmente, aos sábados, na plataforma.

O novo ano da saga se inicia com o episódio "The Robot Revolution", que acompanha o Doctor em uma jornada intergaláctica épica para levar a enfermeira Belinda Chandra de volta à Terra após ela ser sequestrada por robôs do espaço. O capítulo, para além do entretenimento, é uma crítica ao momento tecnológico atual.

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Em entrevista a Splash, o produtor e roteirista Russell T. Davies, 61, diz ser inevitável falar sobre inteligência artificial e robôs. "Acho que não só em 'Doctor Who', mas qualquer produção funciona bem quando coloca o mundo real na tela. Para ser sincero, não sei como não conseguir. Acho que é a única maneira de escrever."

A ficção científica foi criada para encontrar maneiras de falar sobre o mundo como ele é agora, foi por isso que ela foi inventada. É impossível não falar sobre o mundo como ele é agora. E também, quando digo falar sobre, não quero que pareça o programa temático mais pesado do mundo, pois também podemos dar risada com algumas coisas. Mas, as letras IA estão na boca do povo, com razão porque estamos em uma revolução industrial e não sabemos o que ela fará conosco ou como ela mudará nossos empregos ou como mudará nosso futuro.
Russell T. Davies

Ncuti Gatwa em Doctor Who - BBC/Divulgação - BBC/Divulgação
Ncuti Gatwa em 'Doctor Who'
Imagem: BBC/Divulgação

De maneira velada, o produtor diz haver críticas àqueles que mandam e criam as atuais inteligências artificiais. "Então, quando vemos robôs se intrometendo em 'Doctor Who', é bem natural agora, escrevendo isso em 2025, que eles tenham um chefe chamado 'Gerador de IA', sendo a fonte de todo o drama. E eu acho que isso é apenas colocar o clima de 2025 na tela. [...] E temos algumas coisas a dizer sobre a tecnologia de IA, sobre quem cria a tecnologia de IA e os verdadeiros objetivos por trás dela."

Mesmo assim, ele não nega a essência do entretenimento: "A série ainda é sobre lutar contra robôs e monstros". "Não tenhamos dúvidas sobre isso. No fim das contas, é tudo sobre robôs com raios laser."

Ncuti Gatwa em Doctor Who - BBC/Divulgação - BBC/Divulgação
'Doctor Who' chega à segunda temporada no Disney+
Imagem: BBC/Divulgação

Tudo pode acontecer

"Doctor Who" foi lançada em 1963, e ocupa um lugar de importante na cultura britânica, sendo um marco audiovisual, assim como a saga 007. Ambos são intrínsecos ao gosto da Grã-Bretanha e contam com personagens protagonistas fixos, como Doctor e James Bond. Os dois podem até mesmo trocar de atores, mas sempre são interpretados por britânicos.

O agente 007 foi vivido uma vez por um australiano, George Lazenby, em "A Serviço Secreto de Sua Majestade", mas Doctor nunca foi interpretado por alguém de fora da ilha. Pelo menos não até agora, mesmo após 15 atores diferentes.

O showrunner brinca com a possibilidade de um ator não-britânico dar a vida ao famoso Doutor, mas acredita que o público britânico não aceitaria tão bem.

Ninguém nunca mexeu nisso. Acho que a Grã-Bretanha possivelmente explodiria se fôssemos longe demais com isso. Se escalarmos outra pessoa. Mas nunca se sabe, tudo pode acontecer, nunca suponha. Devemos ficar no ar ainda por centenas de anos, então, eventualmente, todos terão uma chance.
Russell T. Davies, em entrevista a Splash

No entanto, não está nos planos do showrunner deixar o ufanismo de lado quando se trata da série. "Uma das coisas que eu amo em 'Doctor Who' é o seu caráter britânico. Nós o mantemos bem britânico. É tipo, se eu puder ter o Big Ben no fundo de uma cena, então eu terei", diz.

Mesmo não trocando a sua nacionalidade, Doctor já passou por mudanças ao longo de seus 60 anos: foi uma mulher - Jodie Whittaker -, e, agora é interpretado por um ator negro - Ncuti Gatwa. "Acho que ele está em constante mudança, essa é a maravilha do Doutor."

Jodie Whittaker em 'Doctor Who' - BBC/Divulgação - BBC/Divulgação
Jodie Whittaker em 'Doctor Who'
Imagem: BBC/Divulgação

Uma das novidades celebradas por Russell sobre a nova temporada é a visita do Doctor a uma barbearia masculina em Lagos, na Nigéria. "É um cenário bem incomum para uma série de ficção científica, mas um lugar muito natural para um homem negro frequentar. Há toda uma tradição de barbearias e uma cultura negra girando em torno de barbearias." O episódio foi escrito pelo autor nigeriano-britânico Inua Ellams e foi tido pelo produtor como "maravilhosamente revolucionário".

A série retrata as aventuras de um ser extraterrestre chamado Doutor, parte de uma espécie humanoide chamada Senhores do Tempo. O Doutor viaja pelo universo e pelo tempo usando uma nave espacial chamada TARDIS, que externamente se parece com uma cabine policial britânica.

Reconhecimento

Nascido no País de Gales, Russell T Davies foi o responsável pela volta de "Doctor Who", em 2005, após nove anos em hiato. Ou seja, em 2025, é comemorado 20 anos desde o retorno da série e, desde então, com o produtor como parte disso.

Russell T Davies no Bafta 2024 - Jeff Spicer/Getty Images for BAFTA - Jeff Spicer/Getty Images for BAFTA
Russell T Davies no Bafta 2024
Imagem: Jeff Spicer/Getty Images for BAFTA

Estou trabalhando nessa série há muito tempo. A série já tem 62 anos, e ainda assim, encontramos coisas novas para dizer sobre o Doctor.

Para o produtor é "uma loucura" pensar que há duas décadas está trabalhando na série. "Uma criança nascida naquele dia tem agora 20 anos", reflete.

A Splash, ele conta ser reconhecido por jovens na cidade em que mora, em Manchester, na Inglaterra. "Moro bem perto da área estudantil. Então, para ir a pé à cidade, tenho que passar pela Universidade de Manchester, sendo a maior universidade da Europa. E é adorável para mim, eu não faço isso deliberadamente, mas muitos estudantes me reconhecem e falam comigo. Porque agora eles têm 18 anos. Então tiveram 'Doctor Who' na TV a sua vida inteira. É a maior honra poder andar por uma rua da cidade e ser parado diariamente por alguém que diz 'eu amo essa série'. Esse é um dos maiores elogios que você pode receber. É por isso que ando para cima e para baixo naquela rua 16 vezes por dia", finaliza, em tom de brincadeira.

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