'Vale Tudo': 40 testes para Maria de Fátima e um ano para escolha de elenco
Manuela Dias, 47, havia apresentado uma sinopse de inéditas para Globo antes de receber o convite para adaptar a tão falada "Vale Tudo". A autora não pensou duas vezes e aceitou a proposta. Era o começo de muito trabalho para tirar do papel o remake da trama escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988.
- Quer ficar por dentro de tudo o que rola no mundo das novelas? Clique aqui e faça parte do nosso canal no WhatsApp.
Escalação e torcida nas redes
Quando as primeiras informações sobre o remake vazaram na imprensa, telespectadores passaram a idealizar suas escalações: quem faria Odete Roitman? Quem interpretaria Maria de Fátima? Meses depois, as respostas se tornaram públicas e dividiram opiniões. Debora Bloch é Odete, enquanto Bella Campos vive a filha de Raquel (Tais Araújo). As duas personagens, talvez, sejam as escalações que mais geraram burburinho.
Todo o processo de escalação durou um ano, conta Manuela em papo exclusivo com Splash, e envolveu o diretor Paulo Silvestrini e o atual chefe de dramaturgia da emissora, José Villamarim. "É um processo intenso e extenso. São muitas idas e vindas e, nessa costura, a gente também vai consolidando o conceito do remake. É uma posição curiosa: a gente não pode errar nessa escalada, mas também tem que arriscar. São dois polos de energia muito distintos".
Manuela não queria convidar atores para fazer os papéis que já estão no imaginário do público. "Papéis dentro daquele espectro que a gente espera que o ator faça. Foi maravilhoso contar com a generosidade desses atores hiper carimbados. Nem chamo de teste, porque ninguém testa Renato Góes ou Paolla Oliveira. Estava experimentando a química entre eles e provocando experiências dentro do estúdio. Essa parceria durou meses, levar esses atores ao estúdio, Paulinho com eles e fazer texto só para essas experiências".
Bella, Paolla e mais...
Mais de 40 testes foram realizados para a equipe chegar ao nome de Bella Campos. A atriz interpreta a nova Maria de Fátima, papel que foi de Glória Pires em 1988. A personagem trava embate com a mãe, Raquel (Taís Araujo), e sustenta boa parte do debate da novela em torno da ética e honestidade.
Foram 40 testes para Maria de Fátima. Eu estou botando por baixo, talvez tenham sido uns 60. Quando vimos o teste da Bella, a gente falou: 'Cara, acabou'. E foi assim com todo mundo, muito lindo, porque é business, mas é show. Tem um fator arte, um fator mágico que acontece e está muito forte nessa novela.
Manuela sintetiza o trabalho de Bella como um "escândalo" ao falar sobre a repercussão da escalação, que motivou elogios e críticas. "A pessoa critica num dia e, no outro, [fala]: 'se te critiquei, não lembro', 'te amo mais que tudo'... Eu posto todas as chamadas na minha rede. Adivinha qual é a chamada que tem, disparada, maior quantidade de views? A da Bella".
A autora ainda detalha o processo de Paolla Oliveira virar Helena Roitman, uma mulher alcoolista. A atriz já revelou que pediu um teste para participar. "A princípio, pensávamos: 'Será que cabe tanta energia dentro da Heleninha? Será que a Heleninha não tinha de ser mais semitonada? Será que ela é esse furacão Paolla? Será que vai caber a Paolla dentro da Heleninha?' É sobre quebrar paradigmas de escalação. Era só ver pelos nomes que as pessoas aventavam na internet, eram atrizes de um perfil mais melancólico".
Não é a primeira vez que as duas trabalham juntas — atriz esteve em "Justiça 2". "Paolla é uma pessoa excepcional, eu tenho uma admiração incrível. Quando ela falou: 'Eu quero fazer Heleninha', eu respondi: 'Vamos'. Quando um ator vem com essa vontade assim, eu falo: 'Ela vai mover montanhas, vamos nos preparar para mudar a paisagem'. Quando fizemos essa experiência de estúdio com ela foi uma loucura".
Mudanças a caminho
O mundo mudou nos 37 anos que separam a estreia da primeira versão e o remake. Para a autora, adaptações nos folhetins são naturais, incluindo adaptações jurídicas, como Raquel não poder contratar menores de idade para trabalhar na praia, ainda que com boas intenções, e o avanço da tecnologia, como a chegada dos aparelhos móveis, da internet e da inteligência artificial. Também há mais representatividade: novela passa de dois para 15 atores negros.
O alcoolismo não era considerado uma doença. Hoje em dia, a ciência médica comprova que o alcoolismo é uma doença e tem tratamento. No original, tem cena da Heleninha é retirada de camisa de força de um bar. Hoje em dia, absolutamente impensado. Que bom! O casamento homoafetivo não era considerado. Então, quando a personagem da Cecília morre, o Marco Aurélio tenta pegar a pousada. Hoje em dia, isso não seria mais um risco, porque elas são casadas efetivamente.
Uma coisa não vai mudar: Odete vai morrer. No entanto, a vilã deve morrer pelas mãos de outra pessoa. "Ela morrerá. Acredito que por outras mãos. Existe um nome na minha cabeça. São 174 capítulos para vocês descobrirem quem vai matar Odete Roitman".
E as críticas?
Manuela sempre se refere ao trabalho de "Vale Tudo" no coletivo, citando seus parceiros de escrita, direção e emissora. São eles quem Manuela mais escuta no dia a dia, sem dar espaço para as críticas antecipadas de internautas no X (antigo Twitter).
Claro que li coisas que saíram, mas não me dedico a isso. Primeiro, eu tenho muita coisa para fazer e muita troca oficial para ter, não é? Eu lido com críticas diariamente, não é como 'ai, não gosto de ser criticada', mas não vou ficar lendo isso. Acordo 5 horas da manhã para escrever. Durmo e acordo pensando nisso. Tenho que escrever 250 páginas a cada 15 dias. Uma novela tem 6.700 páginas. São mais de quatro bíblias.
Para Manuela, muitos comentários são engraçados, mas alguns internautas "se perdem na agressividade". "Até falaram: 'Nossa, a Manuela bloqueia quem xinga ela'. Pô, é claro. Eu não deixo nem quem me conhece me xingar, vou deixar pessoas que eu nunca vi na vida me xingarem? Bloqueio, com certeza.. E aconselho que as pessoas façam a mesma coisa".