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Paulo Ricardo: 'Alívio geral: não, Sting não vai deixar os hits de lado'

Sting durante a STING 3.0 Tour, no Brooklyn Paramount, em 7 de outubro de 2024, em Nova York - Kevin Kane/Getty Images
Sting durante a STING 3.0 Tour, no Brooklyn Paramount, em 7 de outubro de 2024, em Nova York Imagem: Kevin Kane/Getty Images
do UOL

Paulo Ricardo

Especial para Toca, em Nova York

12/02/2025 17h00

O final dos anos 70 trouxe vários gêneses e apocalipses, e na música não poderia ser diferente. Para um garoto como eu, que amava os Beatles e os Rolling Stones, a linha evolutiva do rock já não me parecia tão clara. A ruidosa revolução do punk ainda não havia me convencido, mas já estava claro que o prog rock (onde militava em minha primeira banda com meu parceiro e tecladista Luiz Schiavon, o grupo Aura) agonizava, vítima de um dos piores venenos para a arte, a pretensão. Nessa época, feito um náufrago, fui salvo por uma mensagem numa garrafa.

Durante muito tempo, The Police reinou como a maior banda de rock do mundo, e não é exagero dizer que a influência de Sting sobre o meu trabalho foi imensa. "Roxanne" e "Message in a Bottle" não foram grandes hits no Brasil, mas as coisas mudaram em 1980 com o álbum Zenyatta Mondatta, e aí sim, "De Do Do Do, De Da Da Da" e "Don't Stand So Close to Me" emplacaram fortemente, preparando o terreno para a primeira vinda do grupo ao Rio de Janeiro, mais precisamente ao Maracanãzinho, em 16 e 17 de fevereiro de 1982. O então crítico de música Paulo Ricardo Medeiros estava lá!

No começo dos anos 1980, eu e Schiavon não conseguíamos encontrar um baixista para nossa banda, e Sting, cantor e compositor como eu, me encorajou a assumir as quatro cordas que, segundo Caetano, são o sexo da banda. A partir daí, formei uma outra banda para me apresentar em barzinhos e "Every Little Thing She Does Is Magic" era o grande momento do nosso show.

Paralelamente, cursava jornalismo na USP e escrevia para a revista Som Três, quando fui convidado para a coletiva de imprensa da banda, que havia chegado dois dias antes para a gravação de seu documentário, que registrava sua explosiva turnê mundial. "Every Little Thing She Does Is Magic" tocava sem parar no rádio e na TV, nos icônicos comerciais do cigarro Hollywood, e The Police era a bola da vez naquele luminoso verão de 1982.

Ocorre que Sting, desavisado, subestimou o rei sol carioca e chegou à coletiva roxo feito um camarão, desconfortável, e na terceira pergunta, mal humorado, simplesmente se levantou e deixou Andy Summers e Stewart Copeland atônitos e constrangidos. Bafão.

O show não foi tão diferente. Visivelmente irritado por ter que se apresentar para um ginásio apenas parcialmente lotado, Sting foi profissional, fez o show completo, mas deixou uma má impressão, de prima donna antipática. Contudo, para mim, foi um dos shows mais marcantes da minha vida, quando conheci o baixo Steinberger, que me acompanha até hoje.

Corta para outubro do ano passado. Tendo determinado o fim da banda após a vitoriosa turnê do álbum Synchronicity (1983), Sting trilhou uma sinuosa e bem-sucedida carreira solo, marcada por incursões ao jazz, musicais, livros (Broken Music, sua autobiografia) e alguma pretensão.

Por isso, não sabia exatamente o que esperar quando cheguei ao belíssimo e restaurado Brooklyn Paramount para a turnê 3.0, que chega ao Brasil dias 14, (Rio de Janeiro), 16 (São Paulo) e 18 (Curitiba) de fevereiro, exatos 43 anos após sua primeira vinda. Mas as fotos de divulgação já davam claros indícios: um trio (Dominic Miller na guitarra e violão e Chris Maas na bateria)! E essa combinação de Sting num trio nos remete diretamente ao The Police, claro.

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Sting é acompanhado por Dominic Miller na guitarra e violão e Chris Maas na bateria na STING 3.0
Imagem: Kevin Kane/Getty Images

Vivo na pele a experiência de ter feito parte de uma banda super bem-sucedida, a dor e a delícia e, sobretudo, as cobranças e comparações que, neste caso, foram inevitáveis.

Sting começa logo com "Message in a Bottle" para alívio geral: não, ele não vai tocar todo o novo álbum e deixar os hits de lado.

E, ao longo das cerca de duas horas de show, emoldurado apenas por imagens discretas e de bom gosto de um telão, é exatamente isso que vemos e ouvimos: uma sucessão de hits, para cada "Englishman in New York" um "King of Pain", para cada "Fields of Gold" um "Walking on the Moon", numa noite mágica com este grande artista que permanece há quase 50 anos no topo, em forma pela prática da ioga, que está lançando um single com Snoop Doggy Dogg e que está claramente curtindo o que está fazendo, essa espécie de Police on jazz onde ele exubera em seu baixo Fender Precision, demonstrando todo seu virtuosismo, e, digno de nota, cantando muito, a voz potente e precisa, intacta.

Claro, ele sabiamente baixou alguns tons em relação aos originais, sobretudo os de começo de carreira, onde atingia notas absurdamente agudas mesmo para os padrões estridentes do rock'n'roll, mas quem nunca? Devo dizer que senti falta de "If You Love Somebody Set Them Free" e "We'll Be Together" (da carreira solo) e "Bring on the Night" (The Police, que eu adoro), mas este é o ônus e o bônus de quem, como ele, tem uma penca de sucessos.

Confesso que a fase The Police me empolga mais que a carreira solo em geral, ainda mais neste contexto de trio, mas adorei ouvir as inesperadas "I Burn for You", trilha do filme Brimstone and Treacle (de 1982, em que ele trabalhou como ator, bela canção), e "Fortress Around Your Heart", do seu primeiro álbum solo, The Dream of the Blue Turtles, que não foi um grande hit, mas é lindíssima!

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Sting cumprimenta fãs durante a STING 3.0 Tour, em outubro de 2024, em Nova York
Imagem: Kevin Kane/Getty Images

Dito isso, vou te contar um segredo: se quiser evitar o tumulto da saída dos shows, pode partir depois de "Roxanne". O lado zen de Gordon Sumner (seu verdadeiro nome) optou por encerrar o show com "Fragile" (para que todos possam voltar em paz, segundo ele). Um anticlímax, mas isso é Sting: do punk pop ao jazz, passando pelo cacique Raoni e a visita à Amazônia até sua vinícola na Toscana, onde mora.

Perguntado sobre o que gostaria do futuro em apenas cinco palavras, ele disse: more of the same, please (mais do mesmo, por favor). Um brinde a isso! Eu adorei o show, espero que os problemas de saúde que o obrigaram a cancelar alguns shows recentemente não atrapalhem sua vinda ao Brasil. E Sting, por favor, não esqueça o protetor solar!

Sting 3.0

Quando: sexta (14), no Rio de Janeiro; domingo (16), em São Paulo; e terça (18), em Curitiba
Onde: Rio de Janeiro (Farmasi Arena, r. Professor Manoel de Abreu, 3.300 - Barra da Tijuca); São Paulo (Parque Ibirapuera, av. República do Líbano, 1.111); Curitiba (Pedreira Paulo Leminski, r. João Gava, 970 - Abranches)
Quanto: a partir de R$ 230
Site de vendas: Ticketmaster

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