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TV aberta em 2025: lugares são novos, mas tabuleiro e peças são os mesmos

Boninho inaugura as transformações prometidas para o Ano Novo - Marcos Rosa / Globo
Boninho inaugura as transformações prometidas para o Ano Novo Imagem: Marcos Rosa / Globo
do UOL

Cristina Padiglione

Colaboração para Splash, em São Paulo

04/01/2025 05h30

Cada vez mais desafiada a manter sua fatia majoritária na audiência diante das telas, a TV aberta começará 2025 com apostas que envolvem antigas peças de seu tabuleiro, mas em novos lugares.

Boninho e Jayme Monjardim, figuras que comandaram atrações estratégicas na Globo ao longo de mais de três décadas, agora estarão a serviço de outros canais.

Já o Brasileirão, maior campeonato de futebol brasileiro, vai revezar sua bola entre Globo e Record, na TV aberta, o que faz de 2025 um marco nas transmissões esportivas.

Dança das cadeiras na TV aberta

Vamos começar por Boninho, nome que inaugura as transformações prometidas para o Ano Novo. Antes de mais nada, convém entender que ele não estará atrelado exclusivamente ao SBT, como parece.

Nome que esteve à frente do produto de maior custo-benefício para a Globo nos últimos 25 anos —o BBB—, o diretor tem se colocado a disposição do canal das herdeiras de Silvio Santos para emplacar novos projetos como produtor independente, mas nada impede que ele ofereça também a outras emissoras e serviços de streamings ideias que combinem mais com outros espaços.

Daniela B - Reprodução/Instagram @danielabeyruti - Reprodução/Instagram @danielabeyruti
Daniela Beyruti é a "filha número três" de Silvio Santos
Imagem: Reprodução/Instagram @danielabeyruti

O SBT hoje é uma potência sem as ferramentas necessárias para fazer sua máquina girar. Sem seu maior ativo —a figura de Silvio Santos-, o SBT tem o lastro de memória afetiva e de audiência deixado pelo "homem do baú", mas está carente de iniciativas, talentos e dinheiro em caixa. É nessa conjuntura de demandas que Boninho aposta para emplacar seu portfólio como produtor independente.

Disposto a ser seu próprio patrão e com sede de mostrar que pode fazer a diferença fora da Globo, Boninho só tem a ganhar. A recíproca é verdadeira. Presidente da Casa Abravanel, Daniela Beyrutti gastaria com as produções independentes oferecidas pelo diretor uma quantia bem menor do que teria se tivesse de contratar grifes com o status dele, um alvo altamente atraente para investimentos do mercado anunciante.

As expectativas do meio televisivo sobre essa nova aliança crescem com a presença de Júlio Casares, nome expressivo do meio publicitário e profundo conhecedor da TV aberta feita fora da Globo. Presidente do São Paulo Futebol Clube e responsável pelo exitoso naming rights que emprestou ao Estádio Cícero Pompeu de Toledo a marca MorumBis, Casares já foi peça estratégica nos departamentos comerciais de SBT e Record. Agora, associou-se a Boninho na nova empreitada.

Jayme Monjardim - Instagram - Instagram
Jayme Monjardim é um dos grandes diretores da teledramaturgia brasileira
Imagem: Instagram

Já Monjardim pretende levar para a Band um projeto em torno de Nossa Senhora Aparecida. Ele já comandou grandes êxitos da dramaturgia da Globo e fez história com a novela que mais abalou a própria Globo —a versão de "Pantanal" na Manchete, em 1990.

A Band nunca conseguiu investir continuamente em teledramaturgia, mas tampouco anunciou, em qualquer ocasião, que o assunto não mais lhe interessava. Ao longo de décadas, a casa flerta regularmente com produções do gênero, seja por meio de títulos importados, produções independentes ou até realizações próprias, como aconteceu em períodos intercalados em um passado mais distante.

Enquanto a Globo tenta provar aos evangélicos que nada tem contra eles (um esforço que se justifica pelas adversidades históricas com Edir Macedo no passado), a Band, que nunca fez oposição às religiões pentecostais, investe sem maiores receios na sinopse católica que lhe bateu à porta. Mas esse é só um ponto do trajeto que agora leva Monjardim a outro canal.

O país hoje está dividido em partes praticamente iguais entre as duas vertentes religiosas, ambas dominando as maiores parcelas de fiéis da nação. Fora SBT e Record, mais interessados em conteúdos evangélicos que outros canais, atualmente, não há players dispostos a comprar briga com qualquer um desses lados.

Globo  - Divulgação / TV Globo - Divulgação / TV Globo
Logo da TV Globo em 2022
Imagem: Divulgação / TV Globo

Embora a Globo tenha recusado "Romaria", é preciso ressaltar que a direção da emissora não tem adotado vetos de credo como critério prioritário para aprovar seus enredos. Para a emissora, hoje, quanto maior for a pluralidade religiosa expressada em seus programas, melhor será sua imagem perante os segmentos que compõem o mapa do IBGE e, portanto, que contemplam os anseios do mercado anunciante.

Os pontos que levam Monjardim à Band e a Globo a outros temas são sobretudo pautados pelos critérios de custo-benefício para cada empresa.

O modelo de produção independente proposto para "Romaria" na Band faz parte desse contexto e representa um bom negócio para a TV dos Saads. Já na Globo, as novelas ainda são basicamente bancadas pela própria casa, o que faz muita diferença na hora de se aprovar ou recusar um projeto.

"Romaria" terá texto de Letícia Wierzchowski, autora do livro "A Casa das Sete Mulheres", obra que virou minissérie na Globo, sob direção artística do mesmo Monjardim, em 2003. A história gira em torno de sete irmãos que se afastam por desavenças familiares e, atendendo ao pedido da mãe no leito de morte, reencontram-se durante uma romaria.

"A vida é uma romaria, cheia de desafios, escolhas e, principalmente, muita fé. É essa a essência que estamos trazendo para a nova novela 'Romaria', uma história que carrega não só a devoção a Nossa Senhora Aparecida, mas também a força dos laços de família", escreveu Monjardim, antigo devoto de Nossa Senhora, em seu perfil no Instagram.

Melodramas mais curtos

Netflix logo - Filip Radwanski/SOPA Images/LightRocket via Getty Images - Filip Radwanski/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Netflix e Max inauguraram presença no que chamam de telenovela
Imagem: Filip Radwanski/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Correndo por fora no campo das novelas e reality shows, segmentos que motivam Monjardim e Boninho a seguirem trabalhando fora da Globo, os serviços de streaming têm tanto interesse nesse cardápio quanto os canais de TV lineares.

Netflix e Max inauguraram enfim sua presença no que chamam de telenovela, mas seus formatos estão mais para minisséries antigas, quando se produziam histórias com mais de 10 episódios. O foco da turma do streaming é explorar o amor do brasileiro por melodrama, sem esticar muito a corda no número de capítulos. Aquilo que for bem aceito poderá ganhar novas temporadas, aproximando-se mais do que se entende como telenovela. E o que não funcionar, será imediatamente suspenso, sem o ônus de ver a crítica tratar a coisa como "fracasso".

Definitivamente, é um modelo que a televisão linear poderá vir a copiar.

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