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Ator de 'Volta por Cima': 'Gigi tem uma liberdade que demorei a ter'

Rodrigo Fagundes interpreta o divertido Gigi em "Volta por Cima" - Fábio Rocha/Globo
Rodrigo Fagundes interpreta o divertido Gigi em 'Volta por Cima' Imagem: Fábio Rocha/Globo
do UOL

De Splash, no Rio

03/01/2025 05h30

Rodrigo Fagundes, 53, faz sucesso como o divertido Gigi de "Volta por Cima": um personagem livre e autêntico. O ator da Globo, que é gay, revela que nem sempre se sentiu seguro para ser ele mesmo, temendo a homofobia: "Tinha medo".

A transformação começou aos 20 anos, quando iniciou seus estudos de teatro no Rio de Janeiro. Fagundes descreve como a arte foi crucial para sua autodescoberta.

Gigi tem uma liberdade que demorei a ter... Gigi chega nos caras, flerta na academia, sabe? Tinha medo de apanhar. Tive esse medo até os 20 anos. Quando entrei na CAL [Casa das Artes de Laranjeiras] e comecei a fazer teatro, vi que não tinha nada de errado comigo. Eu tinha medo. Rodrigo Fagundes

Natural de Juiz de Fora (MG), Fagundes conta que, na juventude, reprimia sua orientação para não ser rotulado como homossexual pelo pai, que tinha uma visão muito machista. "Meu pai era sargento reformado do exército. Ele tomou um tiro quando tinha 30 e poucos anos e foi aposentado por invalidez. Ele, em casa, era muito machista. Uma coisa boa foi ele me ensinar a dirigir [risos]. Hoje, eu entendo que ele vem dessa educação antiga, machista", diz o ator, que conta que o pai morreu sem se desfazer das amarras do preconceito.

O ator relembra momentos da infância e da relação especial da mãe, Maria de Lourdes, que morreu de covid-19 na pandemia, com Betty Faria. "Via 'Anos Dourados' com a minha mãe, que era muito fã de Betty. Ao ver a personagem da atriz, uma mulher desquitada e a frente do tempo dela, minha mãe tomou coragem [e se separou]. Cresci vendo fotos da atriz no salão da minha mãe. Hoje, sou muito amigo de Betty. A vida é muito louca", diz o ator, que ressalta que a mãe era cabeleireira e dava aula no Sesi.

Sobre seu papel em "Volta por Cima", Fagundes revela que trouxe para Gigi referências da cultura pop e do cinema. "Misturo muito. A primeira referência foi Scarlett O'Hara, com seus robes e que Gigi adora. Mesclo com Clodovil, de botar o blazer [pendurado] nos ombros, e com Maggie Smith, de 'Downton Abbey', do jeito de sentar na pontinha do sofá. Vou muito nas divas, mais do que nos gays. Porque ser gay é só um fato."

Fagundes diz ainda que muitos dos detalhes do personagem já estavam no texto da autora Claudia Souto e de seus colaboradores, incluindo Wendell Bendelack, seu marido. "Essa é a terceira novela de Cláudia que faço e ele escreve, mas é a primeira que estou dando tantas entrevistas sobre isso. Acho que descobriram agora [risos]. Meus colegas brincam, perguntando seu eu já sei da trama. Respondo brincando: 'Gente, não mandem recado por mim, sou casada há 20 anos, você acha que a gente conversa sobre isso?" [risos]

E, afinal, Gigi é filho de Belise? "Acho que é filho, sim. Agora, o porquê desse segredo, eu não sei. A gente fica aqui conspirando, tentando deduzir."

Sebastian (Fabio Lago),  Joyce (Drica Moraes), Belisa (Betty Faria) e Gigi (Rodrigo Fagundes) em 'Volta por Cima' - Fábio Rocha/Globo - Fábio Rocha/Globo
Sebastian (Fabio Lago), Joyce (Drica Moraes), Belisa (Betty Faria) e Gigi (Rodrigo Fagundes) em 'Volta por Cima'
Imagem: Fábio Rocha/Globo

O ator diz que se viu estigmatizado por interpretar personagens gays estereotipados no Zorra Total. No humorístico, ele interpretou Patrick e fez muito sucesso com seu bordão "Olha a faca".

Por ter feito Patrick, só me chamavam para personagens gays estereotipados. Passei a não ir. Gosto de fazer, mas não posso fazer um personagem só por ser gay. Ser gay é uma camada apenas. Rodrigo Fagundes

Fagundes lembra que nomes poderosos da Globo diziam a ele que nunca faria novela, mas, hoje, já tem um bom currículo de dramaturgia na TV. "Quando fazia o Zorra, gente poderosa daqui falava que eu nunca ia fazer novela porque estava queimado. Porque era um programa de humor e a gente era rotulado. Em algum momento, eu quase acreditei que não daria. Agora, estou fazendo. Estou no mundo dos sonhos. Cresci vendo novela. Fiz uma do Gilberto Braga e, agora, três de Claudia [Souto]. Fiz 'Babilônia' (2015), em que pude experimentar o que era uma novela. Considero 'Pega Pega' (2017) a minha estreia, com personagem mais relevante."

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